terça-feira, 8 de dezembro de 2009

COLDEBELLA

Meus avós dividem-se entre a presença e a convalescência da idade
Os pais que tenho rodeiam-me de suas atinentes virtudes
Enquanto meus irmãos tornam-se anjos abreviando a meninice...
E eu que sofro dos pecados da impaciência, encontro-me em Drummond e Clarice.
Afastem-me meu passado, preciso de uma nova poesia!
Tenho inveterado apreço por todas as linhas quais produzi em tempos outros
Todavia eis que de modo subitamente suntuoso ouvido a presença de um derradeiro amor.

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Ela se aproxima assentada e com atitude indesculpavelmente feminina
Afronta-me pedindo agrados tantos que minhas mãos prontificam-se em conferir
E os imprevistos e antevistos de meu costume forçam-me a produzir
Poesias deslumbradas em reconhecimento ao encanto de minha amada
Esta paixão que se anuncia definida é vista ao distante, suave, benfeitora...
Os cabelos louros que perfumam seu aspecto irrepreensível e desnecessariamente primoroso
Aclaram meus entendimentos pretensiosos de amor.

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Ah... Esta beleza tanta que me envaidece e dá-me propósito à poesia,
Encaminha-me para um ensejo de declarações infindas e poucas.
Anseio vivenciar sua alma em comedimento conveniente ao seu corpo
E evidenciar poemas em minhas maneiras tantas que se torna pouco
Em face ao indescritível deleite na afluência aprazível de sua vivência
Minha rotina que tem sido ditada por minhas infrações de trânsito,
Minhas poses exageradas e meu descaso com as normas sociais,
Quer recebê-la ao regaço largo em motivo de recomeço:
Aufira meu carinho em prosa oblíqua e enternecida
Em tê-la aos braços afoitos em acarinhar-te em versos por toda minha vida

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Luiz Felipe Angulo Filho

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Poema sem fim

Somente ao fim do poema
Saber-se-á de nada.
Ao fim desta dor
Meu corpo se compromete
Em manter-se dolorido
E os saberes em tê-la perdido
Trará dores a outro coração
E continuarei esperando,
Sobretudo se tiveres envolvido enfim
Na abertura de um romance e ansiando
Novas dores de um sentimento sem fim.

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Luiz Felipe Angulo Filho

sábado, 21 de novembro de 2009

Identidade

Ser eu mesmo é uma atividade tão só...
Eu que sou de forma tão unicamente eu próprio
Tantas vezes solitariamente eu, que não sou outro

Sou, portanto, incompreendidamente eu
Exaustivamente, todo o dia que principia
Vou eu a ser eu ainda:
Eu que tenho verdades distintas e posso somente eu conduzi-las
Eu que tenho saudades de outro tempo em que ser eu era distinto

Eu que me aproprio das decisões de como ser eu
Eu que escrevo poesias na tentativa de comover outros, que não eu, ao pesar de ser eu mesmo
Eu cuja eventualidade de não ser eu próprio passa-me pela idéia
Eu que conduzo meu corpo sem auxílios e que não tenho opção que não seja ser eu próprio

Ser eu mesmo é uma atividade tão só...
Eu em que minha poesia é minha maior companhia
Eu cujo temperamento não condiz nenhum fundamento

Eu que só tento ser correto por haver alguém por perto
Eu cuja idiotice corresponde-me ao desgaste desta incontestável mesmice
Eu cuja maior rebeldia é eu ter que ser eu sem haver, todavia,

Qualquer tipo de variação, que não seja eu ter que ser eu novamente por todos dias.
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Luiz Felipe Angulo Filho

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Enviada de Deus

Quando choras em meu ombro consorte
Carregado pelos casos do mundo
Se me queres libertar-te de sorte
Quando choras em meu ombro imundo
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O choraste em valente cobiça
Vide uma vida de vida não vi
Contentas-me em tirar-me de artista
Quando em meu ombro choraste e sorri

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Luiz Felipe Angulo Filho

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terça-feira, 13 de outubro de 2009

Eu

Eu, devoto de São Francisco Buarque,
Poeta de precários arrazoados de juízos tantos,
Freqüentemente estático,
Ensaio uma prece de confissões de não cortesia aos dogmas do catolicismo.

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Porquanto creio eu estar em estado de isolamento cruciante,
Cujos afetos mais legítimos são-me a poesia e a angustia
Descuro normas meramente sociais em razão aos sentidos que tenho
E tento equilibrar em mim mesmo o que trago de estupidez e astúcia

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Justo eu?

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Eu em que minha prece aprecio tanto a imprecisão das prioridades,
A desejar secretamente enfermidades para os quais não guardo simpatia
Em particular aos marginais que sobrecarregam os encargos sociais
Contudo ordeno flores infindas às personagens de minha poesia

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Justamente eu...

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Castigado desde a infância com a afronta dos sentimentos
Ponho-me a descontar em poemas os conflitos tantos de meus alentos.

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Luiz Felipe Angulo Filho
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quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Poesia da companhia definitiva

Estava eu sentado neste acento fastidiosamente prosaico
Mirando a vista de todo dia, desconfortavelmente breve.
Todas as cousas exatamente em seus espaços de origem,
As cousas quais tinha eu me apropriado por tê-las contemplado há mais tempo.
Éramos eu e o acento. (E a vista, naturalmente...)
O impudico coração de poesia que tenho, estava a se controverter em demência,
Em debater-se em movimentos inexplicavelmente ásperos enquanto eu simplesmente existia...
Entregando ao meu corpo o efeito de saudade
Era eu e o acento, todavia; Não havia nenhuma ausência
Quem já era de minha ciência tinha comigo alguma deidade
Contudo, era isso!
Como eu - e o acento - não havíamos nos dado conta de que recebíamos a touca de uma silhueta?
Um contorno cuja precisão ao invés de prosaica, apresentava-se púbere;
As divindades guardadas em poesias, já escritas pelas minhas mãos, ganhavam razão:
Como pudera meus dedos ter produzido poesias de afeto, sem que tivera tido aquela inspiração?
Era eu muito só, a ausência talvez fosse meu estro; Ou o acento que me suportava, dava-me as palavras que eu procurava, entretanto nada disso importava....
No entanto, foi o tempo. Ele sim, o tempo! O tempo deu-me uma exaustiva pretensão de sair amando e escrevendo poesias, no entanto não era indicado. Tinha de ter muito cuidado: Não sei que movimento tomaria a sombra que está por de trás de mim e do acento, caso me erga; caso me vire em seu sentido.
Porquanto abri um papel da algibeira e produzi este verso.
Notava que a sombra mantinha-se intacta e sem vê-la a expressão, amava-a em alento.
Era o tempo... O tempo que me trouxera a razão, em ter meus sentidos todos comovidos em sepultar o juízo e virar-me com a poesia rabiscada e oferecê-la a quem tinha - de fato, o crédito das passagens de amor que em favor ao meu temperamento, respeitei o ditado dos versos soprados por quem o produz, pela sombra de outrora que agora ela luz.

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Luiz Felipe Angulo Filho
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terça-feira, 22 de setembro de 2009

Moças, Moços (Mundo Moderno, melhore)

Menosprezo maravilhosas moças milimetricamente mentirosas, mercenárias, melodramáticas. Meninas mostram-me migalhas. Mesmo moças matutinas, mediando músculos, menoscabando matérias. Microorganismos médios muito molestados! Muitas mulheres magníficas, mulatas, mutiladas moças magrelas, macias, mudam minorias manipulando momentos, mascaram-se meninas, mulheres miúdas...

Muita maquiagem, mão-de-obra melindrada: Mercadoria. Magoando-me mostrando marasmo, missão modelada. Metabolismos maltratados mesclam meticulosamente mitos. Miniaturas miseráveis ministram moléstias, monarcas monitoram maciçamente medindo mordaça. Mostrando multidões, menos mulheres.

Melodias mal maestradas multiplicam massa; Menosprezam músicas! Malabarismos malcriados, malvistos... Machos, Moças, muitos mamíferos mancos manobrando milhares. Material marginal massificado; Marquises, mastros mostrando monstros, mini-saias, menos roupa, menos meditação, mesmice maçônica. Materialistas, muitas, muitos...

Meras miçangas multimilionárias mediam métodos mais monstruosos... Mulheres meio-fio. Mulheres menos maternas, marotos menos merecedores mastigam morbidamente modos. Meia-noite metem-se mirando mundo. Medulas medonhas mal mexidas medram meu modo.
Misericórdia... Malemolência... Mentira.

Luiz Felipe Angulo Filho

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Enunciado

Espalmo minhas mãos e forço-as a correr pelos cabelos que tenho
Retiro os pensamentos tantos de um dia longo e de uma vida tão curta:
Já é madrugada.
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As notícias não respeitam horários e mesmo tarde, persistem.
Minha letargia modelar dos que fazem poesias é interrompida
Os ruídos chegam-me e desconstroem moradas,
Ou ao menos tentam.
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Coloco-me em atitude de dúvida ao ouvir os barulhos que vêm de fora
Quero saber se algum deles é de sua propriedade?
Meus próximos se juntam e ameigam minha presença trazendo-me relatos dos que já foram,
Amigos, pessoas e embustes, concluem o dia que se estende...
Quantas horas, Deus, há de caber neste dia?
Podes deslocar todo este tempo incerto para o tempo de minha poesia?
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A rua por esta hora já não traz tanta gente, queria poetizar em voz alta
Talvez para entender se os versos inspiram ou arruínam sensações
Desconheço a gravidade de meus sentimentos, aprecio, contudo, as intenções.
Eis que de forma imprevista, meu imo manifesta-se em favor ao meu estro:
- Desejo produzir poesia sim! Entretanto esta única terá apenas abertura; Não fim.
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Vida prosaica... Entrega-me poemas e retira-me vidas, outras, traz-me – agora – o meu último amor.
Ah... A madrugada.
Esta estação de já ter cumprido o dia;
De ter produzido coisas de todas as naturezas e, igualmente, reconhecer autoria.
Vida poesia, vida que for...
Admita-me: Sabes que de um poeta podes esperar tudo, exceto aguardar desamor?
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Dádiva de uma deidade briosa, meus olhos não obstam em manter-lhe nas vistas quando cerro as pálpebras. Miro-a em meu caminho já por esta madrugada:

O dia acabou.
O astro que nos alumia recolheu-se em respeito à noite enevoada
A noite adormeceu... E fiquei eu: Eu e a madrugada
Alva que não me trai e acompanha-me por toda ela,
Será ela, alvorecer de minha origem contumaz
Peço que sim... E nada mais.
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Luiz Felipe Angulo Filho

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Cobiça de ser eu próprio

Cobiço tanto ser eu ainda...

Anseio a tal ponto, que chego a firmar convênio:
- Sê tu próprio, sejas outro e notarás o inconveniente.
Há quem não adsorva temperatura,
E tem problema em defini-la:
Trouxeste à tua vida apostila, prontuário de regras...

Tu, profundíssimo desgosto.

Esquadrinho gente quem da própria cômoda conduta se lembre:
Que arda se vigor houver ou congele caso frígido o sejas comum.

Cobiço ser eu por sempre.

Que o meu eu se modifique, isso eu acolho
Mas o eu regerá minha conduta
Em minha incansável luta em ser eu mesmo.


Luiz Felipe Angulo Filho

quarta-feira, 29 de julho de 2009

E minha poesia está mantida

Este mundo está suficientemente oblíquo
E meu sentimento é de um desvairado,
Mesmo sendo eu de tantos contraditos

Receio pelo romantismo, qual creio esteja findado
..
O romantismo deveria ser hábito
E não só dos poetas do século dezenove,
Contudo o que tenho visto de toda esta gente
São coletivos de poesias e versos com quem ninguém se comove...
..
A Orbe que usamos está consumida...
Perdida entre o capital e egocentrismo em demasia
Somos distintos de alma, todavia vizinhos de período
Estará por nós algum ledor sobrevivente ou somente em minha fantasia?
..
Se escrevo é porque permaneço e sou eu um sobrevivente
Encontro beleza no vil e no que é poético, no calor ou na garoa
Persisto porquanto, pois, sou eu: exagerado e romanesco
E minha poesia está mantida, sejas para mim ou para mais (apenas) uma pessoa

..
Luiz Felipe Angulo Filho

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Prelúdio indesculpavelmente poético

Meu prelúdio indesculpavelmente poético
Divulga ao meu peito a compleição de novos alentos
Soubestes interpor-se entre minha poesia e meus sentimentos
Cedendo alguns carinhos seus ao meu sermão ortoépico.
..
Mariela... Não sabes sequer do amor que tenho dela
(Se ao menos soubesse eu deste amor que me acometeu.)
A instância de fazer-me rogado ao que é romanesco,
Ao que catolicamente é inadmissível,
Salvo os poemas quais penso ainda poder produzir,
Dissolve-se na mesma proporção em que se torna visível
Sua imagem em que meus delírios escondiam a expressão.
..
Mariela... Será este o nome dela, ou dela minha afeição?
Penso não ser de Maria, embora haja alguma poesia...
Penso não ser Madalena, embora haja tanto poema...
Penso, portanto, que sejas amada e minha própria ilação
Diz-me que queres teu amor em prosa descrito,
Embora seja bastante esquisito:
Descobrir em outrem a resposta perdida
Do maior sentimento que trago na vida
..
Luiz Felipe Angulo Filho

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Por outro lado

Se nunca teves desamor
Te preparas pra teu primeiro
E se desconheces o amor
O inverso é verdadeiro
.
Luiz Felipe

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Neste breve espaço de Outono

Enquanto a manhã ainda se exibe, todavia
Dedico algumas horas em repetir os nomes de quem amo
Digo-os em vezes copiadas, ofertando-lhes espaço em meu dia.
O tempo chora;
Não obstante os nomes tenho-os em euforia!
Amo-os tão lentamente...
Neste lacônico momento entre o nascimento e o contorno
E amo-os tanto que não concebo vicissitudes:
Vivo entre nostálgicas horas de canto (intensamente)
E a poetizar ao que me soam virtudes
Neste breve espaço de outono.
..
Luiz Felipe Angulo Filho

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Poesia (à Isabella)

"Olhas quanta teimosia:
Estabeleceu-se um novo dia!

...
Há pouco, enquanto amanhecia
Sonhava com ela em alguma harmonia
E mal abarco esta nostalgia....
A bela que talvez adormecia,
era a mulher de minha autoria
a qual ela desconhecia,
o que podia?

Ela sequer me conhecia.
E há o que mais me angustia:
Enquanto esta vã alegria
somente se estabelecia,
dispunha de flores em demasia.
Depois os versos os quais produzia:
Escrevia, escrevia, escrevia,
E Isabella não lia.

...
Contudo era a minha alegria,
Ter-me livre, em alforria
e poetizar o amor que crescia,
sem censuras à minha euforia.
Mas há a idiossincrasia
onde Chico vê primazia,
Isabella pode ter letargia.
Este romantismo que introduzia,
Pode ser ao que a ela angustia.
A verdade é que eu não sabia.
Vestido de mim mesmo, insistia
Sem qualquer fantasia.
Trazia em minha filosofia
dar à bela o que meu peito dizia,
E o que poderia?
Interpretar que a idéia não florescia?
Isso eu não concebia!
Mas a nova manhã, mesmo que fria
Obsta minha psicologia
Favorece meus escritos, todavia
à quem eu persuadia.
Não creio que o amor seja mais endemia,
Contudo não é velharia,
Ou seria?

...
Muito bem, sem qualquer hipocrisia
Sou feliz ao que me sucumbia
Se este amor não o tiver em biografia
ao menos o tive em uma nova poesia."

...
Luiz Felipe Angulo Filho

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Carta para Bella

Minhas mãos estão concluídas: Tenho tinta, incontáveis folhas e a poesia anuncia-se inevitável.

A composição de toda demência de um sentimento de ternura, este encanto ansioso disfarçado de dor; Protejo-me do frio que submerge meu tronco, consolando-o com o alento que meu peito produz. Tenho-lhe um amor juvenil, permanente e subitamente todos meus desejos transformam-se nos seus; Aqueles quais presumo saciar-lhe por completa, esta é a minha cobiça! Entregar-lhe insuperáveis comprovações de lirismo real, concebidos para seu incondicional estarrecimento, esta é minha euforia; Vasculhar com profunda delicadeza sua alma e tê-la estabelecida aos céus, esta é minha fortuna.

Porquanto quero me perder em nosso tempo e suarmos em nossos corpos, produzirmos dedicação e recomeçarmos todos os dias. Pretendo abrir mão de meu sono em cuidado ao seu receio da noite e mantê-la-ei sempre intacta, este é o meu encargo. Quero criar poesias, inócuas, ambiciosas em referir-se ao meu amor, em vão... Entre auxílios e leitura, o cálice que me entregara dá-me indescritível ausência de apreensões, onde concentro todo meu silêncio e meu tumulto.

E a poesia é produzida... O anúncio não obteve escapula, as linhas emergiram de um sentimento tanto que os dedos são tremidos mesmo na composição. Este amor que alagara minhas ruínas e obvia minha trajetória. Quero repousar estas mãos que tremem por sua existência, deixar-lhes pacíficas: Tu e as mãos que estendo delicadamente em direção ao teu rosto, esta é minha veleidade.

A mulher de outrora ausente desnuda-se em delicados movimentos. Êi-la cuja iminência trás-me engenho, cuja sombra produzida apazigua-me em comedimento. Êi-la tão evidentemente única, cuja presença exclui quaisquer necessidades distraídas. Êi-la impoluta, posta em amparo... Silenciosa e rumorosa envida-me em segredo ao compendio de nossas realidades, dona das mais modestas réplicas às dúvidas de minha vida, êi-la que me tem subalterno ao derradeiro amor de minhas poesias, minha estarrecida e inalterável paixão.
...
Luiz Felipe Angulo Filho

terça-feira, 2 de junho de 2009

Ode ao Pêndulo Habitual

São céleres as tréguas destes devaneios
Ou tratar-se-ão de ilação de uma repentina sobriedade?
As mulheres que pela vida recebem meu amor, meus floreios
Auferem recompensas minhas por amar-me em igualdade

Tenho sonetos preferidos; E estes os sei de coração
Entretanto não os recorro com freqüência a nova leitura
Enquanto não os re-leio, tenho empunhado com candura
Versos de outra autoria quais aliciam minha predileção

Este tumulto de odes intituladas de poesias, que são?
Escrevo por temer a página vazia, sem nenhuma conclusão....

Temor maior que o vácuo são as incompreensões do dito
O mundo por todo se enclausura, expondo-nos apenas ao escuro
Em um covil retumbante de ecos tantos de tudo que nem acredito
De tudo que desconheço, de respostas as quais esconjuro

Na ausência recorro aos sonetos de rimas conhecidas
Mas a que posso a eles afirmar releitura
Se mesmo antes do que as melhores rimas, sei de outras parecidas?
Não posso, mas faço; Faço por ser imatura:
Minh´alma de ânsias infindas e alguma amargura,
Minhas damas de afeições languescidas,
De paixão contundida e de igual compostura

Luiz Felipe Angulo Filho

quinta-feira, 21 de maio de 2009

O passado não tem tempo

O passado não tem tempo, não tem jeito:
Hospeda-se entre o peito e faz-nos companhia
Na medida em que a coisa é finada e o trato desfeito,
Logo nasce algo de permanente pelo dia.

A coisa findada é ocasião,
Não a tenho mais por perto,
Contudo e a recordação?
Se a coisa desfeita é tida por completo,
O completo é imperfeito, é par da ilusão...

O dia novo não é passado, por enquanto
Outras coisas serão findadas e reúnem-se as utopias
E quanto mais as coisas forem postas em um canto
Mais ganhamos outras novas companhias

A coisa nova és-nos conteúdo de efeito convincente
E é assim que a coisa passa desperta sem dormitório...
E se a coisa é dada em contumaz estado permanente
Eis que o dia finda e o estado da coisa se revela provisório


Luiz Felipe Angulo Filho

quinta-feira, 5 de março de 2009

A merencória noite que desterra minha sanidade

A merencória noite que desterra minha sanidade
Faz-me obliquar os sentidos que tenho por encargo
A ausência de estímulos dá-me falta da claridade
E apaixono-me de forma aturada, observo, argo


Pretendo escalvar os versos esquecidos, arfado
Dedico meu suor ao meu sentimento desnudo
A olvidar tormentos de outrora e os lamentos de tudo
E suprir o temor pelo encanto de um velo de ouro encontrado

Quero então historiar a imensidão de minha comiseração
Alterar meus versos entre os triunfos e lamúrias de minha perplexidade
Quero amar em todas as temperaturas e amigar-me a solidão
Enfim, hei de retornar pela noite avigorado, convicto que alguma aclaração
Só terei no abreviado instante de minha elusiva eternidade.



Luiz Felipe Angulo Filho

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Exuberante realidade de meu último amor

Esta exuberância exímia de sua realidade faz-me indispor,
Tenho pericia em compreender a invencibilidade de sua inclinação à inspiração
Tu és proprietária singular de um disfarce copioso de perfeição
Donde as vigílias, e todas(e mais)são persuadidas por um evidente supor,
Onde hei, Deus, dedicar-me ao amor de seu coração

Sua obra distingue-nos da efetiva beleza entornada por sua totalidade
Envida-nos, e desfaleço, a contemplação majestosa de sua visão
E, ainda, faz-se ampliar minha angústia e minha saudade
Indicando-se imprescindível de aroma aprazível de transpiração,
E irei, Deus, a oferecer-me insanamente são

Em face de sua lépida trajetória, cuja forma inibe mesmo um poema,
Convoca-me ao excessivo coletivo de virtudes descritas em vão:
Tu tens primazia deveras inalcançável; Não tens um corpo, tens um emblema
Superas Vênus, subjuga-me eterno acarinhar-te por tua precisão...
Deus dá-me de volta qualquer ou alguma... Ou nenhuma razão

Sonhar... Enleio alguma prosódia e excetuar meus pés que se apóiam no chão
Dá-me cordéis, poesias, mentiras... Faz da bruma uma contradição
Faz da vida uma proeza amorosa disposta pelo zelo de seu íntegro ardor
E declaro-me terminantemente servo dos bálsamos de sua paixão,
E, Deus, gratifico-lhe escrevendo poesia dedicadas ao meu súbito e último amor.
...
Luiz Felipe Angulo Filho

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Não sou...

Sou poeta.

Devo avocar em público minha deficiência!


Tudo mais são estilhas de algum estímulo social ou familiar.
Faculdades parciais as quais me envolvo sem obrar resistência
As diligências algumas quais assumo são tarefas inócuas quais ganho recompensas financeiras

Não tenho aptidão exata, sei de pouco apenas;
Não tenho garantias de ser judicioso perenemente, quem o pensou?
Assumo as imperfeições de minha postura, não sou diplomata nem dilema:
Mesmo minha poesia é imprecisa. Não sou Camões, não sou...
Sou poema.

Sou alguém que produz versos aleatórios, até minha dedicação ortoépica é alguma
As linhas me são produtos de algum lirismo que me veio com o tempo,
As normas que sigo são conduzidas pelos dedos das mãos que se incumbem de transcrever o que tenho, meus desabafos pessoais e oblíquos, todo meu sentimento.

Toda minha poesia baseia-se em entusiasmo e exibição
Pretensiosamente, anseio em reavivar o lirismo
O sol noutro dia quando insiste em sua exibição
Quem o percebe sem algum cepticismo?

Porquanto rejeito o idêntico, mirem-se na posição do resplendor,
As variações simétricas de sua posição ser-lhes-ão de todo torpor
Onde invoco a comoção e confesso fazer poesias aleatórias, pretensiosas e imprecisas,

Quais algumas sentenças hão de ter mediano valor de palavras indecisas...

Este sou eu:

Há um quê de narcotismo entre minha postura e meu sono,
Os meus sonhos os tenho de dia
E, então, em prosa os componho
E os chamo, em enleio, de alguma poesia.

...
Luiz Felipe Angulo Filho

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Poème

Irrompida de forma delicadamente súbita,
Êi-la que abandona-me resíduos de amargaria,
E, ao avesso, faz-me sorrir todo dia
Um sorriso macio de razão única

Naufrago em sua beleza incomum,
Êi-la que deslumbra o tudo que existe
Faz-me, e a todos, esquecer de ser triste,
Deixar de ser triste por motivo nenhum

Apropria-se terna de minha sentença,
Êi-la de formas precisas, honorífica brandura
Expõe-se assim: impecável por sua textura
Mervilleux, séduisant, gentil magnificência

Desejo explorá-la por todos seus elementos,
E fazer de sua brisa todo meu sentimento,
Por um tempo infindo de sua alegria

Anseio estar imediato em sua presença,
Êi-la de perfumes distintos e efervescência,
Minha amada maior, minha maior companhia
...
Luiz Felipe Angulo Filho

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Prosa do Agouro Maior

"Tenho em vista os néscios que reúnem-se em maioria, acrimoniosos, tristes,
Todos sãos; Corrompidos pelo pessimismo que os acompanha de forma natural,
Vejo-os com preponderância, enquanto eu, pobre de mim, tão enfermado de satisfação; Oprimido de agradecimentos infindos da vida que tive que ter: Feliz; Pobre de mim, de minha enfermidade.

Sinto-me agora em estágio avançado da euforia qual me acompanha por recomendação profissional, possuo a necessidade de sorrir em intervalos de poucos minutos, isto, até o dia acolhido de minha morte. Não consigo mais entristecer-me, tampouco prantear... Enquanto outros, tantos, sadios e enervados, podem viver sem sorrir, sem esta necessidade estúpida de gracejar sem motivos... Eu, não.

Fui selecionado para ter comigo o trágico encargo de ser grato; O discernimento que me enferma, faz-me confundir a prosódia e os tempos verbais, emudeço. Favoreço indiscriminadamente, de forma doentia, o júbilo diário de estar assim, fadado ao contentamento. Os meus dentes estão sempre expostos, não tenho repouso nem sequer intimidade, apresento aos que passam meu sorriso de enfermo, doente de paz, sem poder enrijar.

Todos tantas vezes cansados de tantas atribuições que as pernas sadias os possibilitam empenhar, enquanto eu não posso optar pela seriedade. Não consigo ser infeliz todavia, às vezes amanheço e antes que possa me lembrar da enfermidade de mim, faço-me são, entristecido por ser humano, no entanto a moléstia habilidosamente relembra meu corpo da necessidade de ser feliz. Necessito do apoio do entusiasmo para por-me de pé, já não posso fazê-lo sozinho... E caminho em direção as coisas que me são formosas e medicamento para manter-me abençoado.

Não posso atestar que seguirei enfermo, no entanto creio que sim. Dá-me prosperidade e, assim, meus pulmões têm de se inflar em ritmo terno com auxílio do motejo que se adaptou em minh´alma. E, assim, resta-me conviver com demais enfermos, onde posso sentir-me com menor constrangimento de ter meus dentes sempre à exposição. Porquanto a comoção que se apropria do sentimento de compreensão mútua da enfermidade em comum, faz-nos aproximarmos as mãos e, por vezes, os corpos onde podemos ser, espontaneamente, felizes em paz."

Luiz Felipe Angulo Filho

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Motivo

A programação cultural do centro de São Paulo, ainda, traz-me mais inspiração... Paris trouxe-me emudecimento, euforia, inspiração contida cuja manifestção, algum dia, se dará. O mesmo por outros cantos que pude passar no último mês, mas é por aqui que ainda encontro meu conforto. As poesias de Chico são frequentes, Sampa, Vinícius, Pixinguinha, Cartola, Elis... Não quero, e não vou, de forma nenhum desfazer ou armar quaisquer comparações entre os nossos e os outros, entretanto, são eles que são testemunhas de minha infância, adolescência e da vida que tenho, enquanto os outros são grandes, incontestáveis, entretanto de amizade nova.

...

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.

Cecília Meireles