segunda-feira, 28 de julho de 2008

Amor e seu tempo

Muito embora já tenha alguma compreensão da imprevisível influência do tempo (em tudo), ainda surpreendo-me com os dias que nos passam. Assim como surpreendo-me com as riquezas infindas que a literatura me trás. Com calma, sinto que sou capaz de explicar-me por meio de linhas bem escritas; Por meio de letras do Chico, Sonetos de Vinícius, Prosas de Pessoa e Poemas de Drummond. Eis, abaixo, uma nova (para mim) e expoente poema de Carlos:
...
Amor e Seu tempo
...
Amor é privilégio de maduros
Estendidos na mais estreita cama,
Que se torna a mais larga e mais relvosa,
Roçando, em cada poro, o céu do corpo.
É isto, amor: o ganho não previsto,
O prêmio subterrâneo e coruscante,
Leitura de relâmpago cifrado,
Que, decifrado, nada mais existe
Valendo a pena e o preço do terrestre,
Salvo o minuto de ouro no relógio
Minúsculo, vibrando no crepúsculo.
Amor é o que se aprende no limite,
Depois de se arquivar toda a ciência
Herdada, ouvida. amor começa tarde.

...
Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 21 de julho de 2008

.:: Castigo ::.

Lastimo pessoalmente os movimentos do
sangue de meu corpo que oscilam em busca de alguma veia,

Enquanto aprecio a confirmação da minha
existência, entendo que existo em exagero.

Meus lamentos são tantos e tudo, e mais,
que a minha maior lamentação faz-se prantear

(Prantear em exagero,
evidentemente)


Devo ter algum agastamento que me mantém
entre a e moléstia e o equilíbrio,

No incómodo e perseverante desgosto sem
causa,

noto com mais precisão cada estímulo de
minha fisiologia;

Em paz, faço-me livre das coisas do mundo
e, no entanto,
persisto;
Os sonhos apropriam-se das dores
-
ou apenas esvazio - e elas não
sei para onde vão...


Desconheço o destino de tanta
felicidade,

muito embora sem emular, desconheço
somente...

As personagens permanecem abençoadas sem
interrupções

e não sei até onde é verdadeiro: Os pares
de sentimentos legítmos e generosos,

amigos de infância, tudo e muito para
sempre.


Devo, de fato, ter alguma cólera
crónica,

herança genética ou infecção adquirida em
linhas de algum poema de menino

Não desconheço a riqueza, mas sede
esplêndido perenemente?


Contudo, creio em tudo, salvo na
perenidade.

Luiz Felipe Angulo Filho

terça-feira, 15 de julho de 2008

.:: Falsa ode as lágrimas do mundo::.

Inspirado por esta retomada, dou continuidade às minhas sequências com uma prosa que trouxe-me particular satisfação: Inicialmente foi-me as linhas quais mais me renderam; Agradeço à minha boa amiga Luzia que se encarregou de apresentá-la em sala de aula e entregou-me uma série de rascunhos de interpretações de alunos do curso de redação/literatura; Por fim, para evitar linhas desnecessárias, gostaria de fazer especial menção à doce Dôra, amiga de contos e prosas, que recentemente tem trocado comigo suas linhas precisas de todo o sentimento do mundo. Boa leitura à todos!...

...

"Enquanto acusava a mim de dor, -
E, porquanto, me tinha solitário de tantos confortos -
Enfraquecia-me em domicílio,
detestando o tempo e a água fria.
Eis que aludia-me a gramática de versos muitos
e esforçava-me, ao menos, às prosódias de
minha boca em satisfação a mim.
Tinha por tanto que ocupava um papel de
finório, por isso as palavras difíceis, sem uso
sequer;
Ao fim de exprimir este movimento de
mim, em aclamar por ser e nem tanto sentir,
o que me encontro sobejamente;
Sinto como apenas sentisse,
exaustivamente; Hei de comprimir meus sentimentos ou,
por então, manifestá-los ao que for aceito
pelos corpos que são outros
e, por assim, reservam distintas
lembranças de histórias comuns.
(Vasculhem os auxílios gramaticais; és
improfícuo, vão a traduzir a alma humana. Nem sei que insisto…)

Pus-me em atitude de choro
encoberto, e permiti as lágrimas que vieram.
Ou simplesmente choro, para aqueles que
vêm tarde.

Em mim mitigaram as laterais da face,
ressecadas da umidade de meu próprio
produto;
Enfim, vi-me em frente ao resto que tinha,
minha vida
(como se apresenta unânime as palavras,
quão fortes se valem; Vida, jamais teremos sequer sinônimo); Minha vida.
Ao outro lado, defronte, sorria, à todos,
mordidas claras de um couro colorido.
Uma mulher que se faz existir apenas, uma,
apenas;
Portava silhueta recta, pernas compridas
e ao fim de todas duas, pecíolos dourados
apontados ao chão.
O calcanhar era mais alto que os dedos;
Estes suportavam a beleza exagerada de
quem vinha, minha; Minha última mulher.

Soube de nada, pouco apenas.
Não me pus a decifrar e, então,
edifiquei-me os meus em acariciá-la;
span >Sabia, a altura, das extravagâncias que
acossava: Eras uma, de olhos diretos e de
soslaios e mãos iguais as quais me uno em sonhos de
princesa.
Transfigurava-se à medida em que guardava
sua vigília sem muita esperança,
pois o perdera em outra poesia.
Esposa de desejo excessivo em não desejar;
Repudia o tabaco e da mesma forma esperar.
Pedia-me que fosse, e implorava por
ser.

Ah… Quantos significados têm as
palavras. Ao que afortuno-me em usá-las passivas,
serão sempre poucas, que acham?
És comovente o sentimento;
A impossibilidade de resumo,
mas confusas e poucas.
São estas as palavras que
trago, em inumeráveis linhas quais
significam o labirinto em que convido-os.
Pobre dos amantes...
Incompreendidos e, pior, mesmo tendo com
todos, mal saberão o que são, amantes, que amam
e, alguns, improvisam versos de afirmações repetidas,
como as minhas linhas de tristeza e completude.
É amor e amiúde, sustido e oprimido
pelas poucas opções das palavras.

Ela, de unhas vizinhas ao chão, me veio ao
regaço;
Via, por este instante, o que jamais
buscarei aventura em descrever
Chegava-me a comenda de outrora, encargo
antigo e amigo
Pedira, igualmente, que o tempo fosse
bom, em princípio quando mais verosímel ao
choro - Chorar é palavra de poesia, contudo
acontece - E ao reconhecer a sombra no chão de uma
alma, olhardes para nós, vida, e, por assim,
satisfaça-te a ti na conquista de tantos
outros corações.
Muito embora, a dor não sumira,
o choro insiste e a solidão entorpecida em
ainda ser; consome-nos sem razão, mas o faz.
As dores de antes, insistem.
Assim, ao que não posso não ter contigo,
vida, o papel de estéril, molesto;
Basto e agradeço, adormecido,
dolorido e apaixonado."

Luiz Felipe Angulo Filho

terça-feira, 8 de julho de 2008

Literatura Privada

Esta poesia que resgato é uma prosa que me trouxe bastante satisfação pessoal, satisfação literárea talvez e, claro, esclarecimento. Não entendo que cabe, neste espaço, dedicar tempo para detalhar os sentimentos que fizeram-se presentes para a inspiração destas linhas, todavia opto por agradecer às mensagens e carinho que recebi por esta poesia.
...

Os cabelos que guarda para ti confrontam com meus dedos.
A mão que sai do meu corpo, pertence já não a mim e, sim,
aos seus fios escuros que te protegem do sol e da calvice.

Sabes que houve demasiados confrontos entre a existência e alma, a alma...

Ambos conhecem-se apenas pouco, todavia acredite que não são agressões reprimidas de uma vida real, mas carinhos largos que penteiam seus cabelos, sua alma, sua existência...
Peço que não se ponha a amuar-se contra meus dedos dedicados, por fim, que tocam seu couro e fecham os olhos que tenho em troca de uma suposta troca de brandos sinceros e, por então, encaminhe esclarecimentos, não ao couro, mas à alma que te sustenta.

Proferi alguns dos advérbios que sei confiante particularmente na clausura de minhas idéias longas, consequência da inocência empírica que mantenho por laser; E, assim, escrevo poesias despretensiosas cuja razão se aproxima somente da prosódia - a qual investigo e tantas vezes erro - esqueço, portanto, as conseqüências humanas de uma literatura privada, mas que sei disso?

Permaneço, então, alternando meus movimentos em longos caminhos com os braços que sustentam a existência de seu corpo e persisto com alguns dedos da mão mais próxima, a outra repousa... Prossigo em afáveis contatos do corpo que tenho contra os fios que nasceram sobre a riqueza de sua excelência. São eles que constroem nós variáveis e desafiam-me a soltá-los ou a discutí-los e, assim, apenas desisto se lhe trago alguma dor.

Luiz Felipe Angulo Filho