segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Não sou...

Sou poeta.

Devo avocar em público minha deficiência!


Tudo mais são estilhas de algum estímulo social ou familiar.
Faculdades parciais as quais me envolvo sem obrar resistência
As diligências algumas quais assumo são tarefas inócuas quais ganho recompensas financeiras

Não tenho aptidão exata, sei de pouco apenas;
Não tenho garantias de ser judicioso perenemente, quem o pensou?
Assumo as imperfeições de minha postura, não sou diplomata nem dilema:
Mesmo minha poesia é imprecisa. Não sou Camões, não sou...
Sou poema.

Sou alguém que produz versos aleatórios, até minha dedicação ortoépica é alguma
As linhas me são produtos de algum lirismo que me veio com o tempo,
As normas que sigo são conduzidas pelos dedos das mãos que se incumbem de transcrever o que tenho, meus desabafos pessoais e oblíquos, todo meu sentimento.

Toda minha poesia baseia-se em entusiasmo e exibição
Pretensiosamente, anseio em reavivar o lirismo
O sol noutro dia quando insiste em sua exibição
Quem o percebe sem algum cepticismo?

Porquanto rejeito o idêntico, mirem-se na posição do resplendor,
As variações simétricas de sua posição ser-lhes-ão de todo torpor
Onde invoco a comoção e confesso fazer poesias aleatórias, pretensiosas e imprecisas,

Quais algumas sentenças hão de ter mediano valor de palavras indecisas...

Este sou eu:

Há um quê de narcotismo entre minha postura e meu sono,
Os meus sonhos os tenho de dia
E, então, em prosa os componho
E os chamo, em enleio, de alguma poesia.

...
Luiz Felipe Angulo Filho

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Poème

Irrompida de forma delicadamente súbita,
Êi-la que abandona-me resíduos de amargaria,
E, ao avesso, faz-me sorrir todo dia
Um sorriso macio de razão única

Naufrago em sua beleza incomum,
Êi-la que deslumbra o tudo que existe
Faz-me, e a todos, esquecer de ser triste,
Deixar de ser triste por motivo nenhum

Apropria-se terna de minha sentença,
Êi-la de formas precisas, honorífica brandura
Expõe-se assim: impecável por sua textura
Mervilleux, séduisant, gentil magnificência

Desejo explorá-la por todos seus elementos,
E fazer de sua brisa todo meu sentimento,
Por um tempo infindo de sua alegria

Anseio estar imediato em sua presença,
Êi-la de perfumes distintos e efervescência,
Minha amada maior, minha maior companhia
...
Luiz Felipe Angulo Filho

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Prosa do Agouro Maior

"Tenho em vista os néscios que reúnem-se em maioria, acrimoniosos, tristes,
Todos sãos; Corrompidos pelo pessimismo que os acompanha de forma natural,
Vejo-os com preponderância, enquanto eu, pobre de mim, tão enfermado de satisfação; Oprimido de agradecimentos infindos da vida que tive que ter: Feliz; Pobre de mim, de minha enfermidade.

Sinto-me agora em estágio avançado da euforia qual me acompanha por recomendação profissional, possuo a necessidade de sorrir em intervalos de poucos minutos, isto, até o dia acolhido de minha morte. Não consigo mais entristecer-me, tampouco prantear... Enquanto outros, tantos, sadios e enervados, podem viver sem sorrir, sem esta necessidade estúpida de gracejar sem motivos... Eu, não.

Fui selecionado para ter comigo o trágico encargo de ser grato; O discernimento que me enferma, faz-me confundir a prosódia e os tempos verbais, emudeço. Favoreço indiscriminadamente, de forma doentia, o júbilo diário de estar assim, fadado ao contentamento. Os meus dentes estão sempre expostos, não tenho repouso nem sequer intimidade, apresento aos que passam meu sorriso de enfermo, doente de paz, sem poder enrijar.

Todos tantas vezes cansados de tantas atribuições que as pernas sadias os possibilitam empenhar, enquanto eu não posso optar pela seriedade. Não consigo ser infeliz todavia, às vezes amanheço e antes que possa me lembrar da enfermidade de mim, faço-me são, entristecido por ser humano, no entanto a moléstia habilidosamente relembra meu corpo da necessidade de ser feliz. Necessito do apoio do entusiasmo para por-me de pé, já não posso fazê-lo sozinho... E caminho em direção as coisas que me são formosas e medicamento para manter-me abençoado.

Não posso atestar que seguirei enfermo, no entanto creio que sim. Dá-me prosperidade e, assim, meus pulmões têm de se inflar em ritmo terno com auxílio do motejo que se adaptou em minh´alma. E, assim, resta-me conviver com demais enfermos, onde posso sentir-me com menor constrangimento de ter meus dentes sempre à exposição. Porquanto a comoção que se apropria do sentimento de compreensão mútua da enfermidade em comum, faz-nos aproximarmos as mãos e, por vezes, os corpos onde podemos ser, espontaneamente, felizes em paz."

Luiz Felipe Angulo Filho

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Motivo

A programação cultural do centro de São Paulo, ainda, traz-me mais inspiração... Paris trouxe-me emudecimento, euforia, inspiração contida cuja manifestção, algum dia, se dará. O mesmo por outros cantos que pude passar no último mês, mas é por aqui que ainda encontro meu conforto. As poesias de Chico são frequentes, Sampa, Vinícius, Pixinguinha, Cartola, Elis... Não quero, e não vou, de forma nenhum desfazer ou armar quaisquer comparações entre os nossos e os outros, entretanto, são eles que são testemunhas de minha infância, adolescência e da vida que tenho, enquanto os outros são grandes, incontestáveis, entretanto de amizade nova.

...

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.

Cecília Meireles