quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Por enquanto

Por enquanto, eu te amo.
Amo-te, ao menos, por enquanto.
Abjuras experiências outras e,
Igualmente, o porvir.
Por enquanto, eu te amo,
Basta.

Por enquanto faz-se mantido o encômio do cotejo ao qual estamos,
Conservada a euforia transitória, cujo termo sequer é refletido.
Porquanto, durante o tempo em que te amo, te amo durante todo este período.



Luiz Felipe Angulo Filho

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Juca Pirama, parte XIII

As inspirações que tive... Um minuto, permitam-me voltar um pouco. Há muito disso no que somos, sim? Refiro-me aos gostos, motes de interesse - sejam músicais, poéticos, líricos e /ou até profissionais. As questões que nos rondam são resultado do que somos expostos, muito na infância, imagino. Há, também, o que é nosso por herança genética: Alguma espécie de gérmem que nos frazem propensão aos interesses que temos. As inspiraões que tive (agora retomo) em torno da poesia foram muitas. Minha mãe e avós maternos, apreciam; Minha avó, inclusive, vivia uma poesia, tal qual um poema: Sublinahava linhas de Pessoa que mais tarde cairam-me ao regaço; E a familia de papai sempre muito culta, pouco simpática, no entanto culta. E, além da falta de humor, algo que cresci ouvindo semanalmente foi esta passagem abaixo de Golçalves Dias, que, acreditem, não escreveu apenas a "Canção do Exílio". E assim, dispeço-me deste ano, agradeço aos que me acompanham, aos e-mails e contatos, às referências em outros blogs e desejo "poesia" à todos, em todos os momentos.
...

VIII – Juca Pirama

Tu choraste em presença da morte?
Na presença de estranhos choraste?
Não descende o cobarde do forte;
Pois choraste, meu filho não és!
Possas tu, descendente maldito
De uma tribo de nobres guerreiros,
Implorando cruéis forasteiros,
Seres presa de vis Aimorés.
“Possas tu, isolado na terra,
Sem arrimo e sem pátria vagando,
Rejeitado da morte na guerra,
Rejeitado dos homens na paz,
Ser das gentes o espectro execrado;
Não encontres amor nas mulheres,
Teus amigos, se amigos tiveres,
Tenham alma inconstante e falaz!
“Não encontres doçura no dia,
Nem as cores da aurora te ameiguem,
E entre as larvas da noite sombria
Nunca possas descanso gozar:
Não encontres um tronco, uma pedra,
Posta ao sol, posta às chuvas e aos ventos,
Padecendo os maiores tormentos,
Onde possas a fronte pousar.
“Que a teus passos a relva se torre;
Murchem prados, a flor desfaleça,
E o regato que límpido corre,
Mais te acenda o vesano furor;
Suas águas depressa se tornem,
Ao contacto dos lábios sedentos,
Lago impuro de vermes nojentos,
Donde festas como asco e terror!
“Sempre o céu, como um teto incendido,
Creste e punja teus membros malditos
E o oceano de pó denegrido
Seja a terra ao ignavo tupi!
Miserável, faminto, sedento,
Manitôs lhe não falem nos sonhos,
E do horror os espectros medonhos
Traga sempre o cobarde após si.
“Um amigo não tenhas piedoso
Que o teu corpo na terra embalsame,
Pondo em vaso d’argila cuidoso
Arco e frecha e tacape a teus pés!
Sé maldito, e sozinho na terra;
Pois que a tanta vileza chegaste,
Que em presença da morte choraste,
Tu, cobarde, meu filho não és.


Gonçalves Dias

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Para viver um grande amor

Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor.

Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.

Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...

Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor.

É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.

É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva obscura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.

Vinícius de Moraes

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Soneto da Separação

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Vinícius de Moraes

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Do Caderno H

Esta postagem tendia a ser curta: "Poeminho do Contra":

Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho! (Prosa e Verso, 1978)
E era isso (o que julgo muito). Entretanto no afã de trazer Quintana, dei de cara com outras tantas linhas que não pude ignorar. Boa leitura!
...
Do Caderno H, Mario Quintana

A Arte de Ler

O leitor que mais admiro é aquele que não chegou até a presente linha. Neste momento já interrompeu a leitura e está continuando a viagem por conta própria.

A Carta

Quando completei quinze anos, meu compenetrado padrinho me escreveu uma carta muito, muito séria: tinha até ponto-e-vírgula! Nunca fiquei tão impressionado na minha vida.

A Coisa

A gente pensa uma coisa, acaba escrevendo outra e o leitor entende uma terceira coisa... e, enquanto se passa tudo isso, a coisa propriamente dita começa a desconfiar que não foi propriamente dita.

As Indagações

A resposta certa, não importa nada: o essencial é que as perguntas estejam certas.

A Voz

Ser poeta não é dizer grandes coisas, mas ter uma voz reconhecível dentre todas as outras.

Ars Longa

Um poema só termina por acidente de publicação ou de morte do autor.

Arte Poética

Esquece todos os poemas que fizeste. Que cada poema seja o número um.

Biografia

Era um grande nome — ora que dúvida! Uma verdadeira glória. Um dia adoeceu, morreu, virou rua... E continuaram a pisar em cima dele.

Cartaz para uma feira do livro

Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não lêem.

Citação

De um autor inglês do saudoso século XIX: "O verdadeiro gentleman compra sempre três exemplares de cada livro: um para ler, outro para guardar na estante e o último para dar de presente."

Citação 2

E melhor se poderia dizer dos poetas o que disse dos ventos Machado de Assis: "A dispersão não lhes tira a unidade, nem a inquietude a constância."

Contradições

...mas o que eles não sabem levar em conta é que o poeta é uma criatura essencialmente dramática, isto é, contraditória, isto é, verdadeira.E por isso, é que o bom de escrever teatro é que se pode dizer, como toda a sinceridade, as coisas mais opostas.Sim, um autor que nunca se contradiz deve estar mentindo.

Cuidado

A poesia não se entrega a quem a define.

Das Escolas

Pertencer a uma escola poética é o mesmo que ser condenado à prisão perpétua.

Destino Atroz

Um poeta sofre três vezes: primeiro quando ele os sente, depois quando ele os escreve e, por último, quando declamam os seus versos.

Do Estilo

O estilo é uma dificuldade de expressão.

Dos Leitores

Há leitores que acham bom o que a gente escreve. Há outros que sempre acham que poderia ser melhor. Mas, na verdade, até hoje não pude saber qual das duas espécies irrita mais.

Dos Livros

Há duas espécies de livros: uns que os leitores esgotam, outros que esgotam os leitores.

Dupla Delícia

O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado.

Educação

O mais difícil, mesmo, é a arte de desler.

Fatalidade

O que mais enfurece o vento são esses poetas invertebrados que o fazem rimar com lamento.

Feira de Livro

O que os poetas escrevem agrada ao espírito, embeleza a cútis e prolonga a existência.

Leitura

Se é proibido escrever nos monumentos, também deveria haver uma lei que proibisse escrever sobre Shakespeare e Camões.

Leitura 2

Livro bom, mesmo, é aquele de que às vezes interrompemos a leitura para seguir — até onde? — uma entrelinha... Leitura interrompida? Não. Esta é a verdadeira leitura continuada.

Leituras

— Você ainda não leu O Significado do Significado? Não? Assim você nunca fica em dia.— Mas eu estou só esperando que apareça. O Significado do Significado do Significado.

Leituras 2

Não, não te recomendo a leitura de Joaquim Manuel de Macedo ou de José de Alencar . Que idéia foi essa do teu professor?Para que havias tu de os ler, se tua avozinha já os leu? E todas as lágrimas que ela chorou, quando era moça como tu, pelos amores de Ceci e da Moreninha, ficaram fazendo parte do teu ser, para sempre.Como vês, minha filha, a hereditariedade nos poupa muito trabalho.

Lógica & Linguagem

Alguém já se lembrou de fazer um estudo sobre a estatística dos provérbios? Este, por exemplo: "Quem cospe para o céu, na cara lhe cai". Tal desarranjo sintático faria a antiga análise lógica perder de súbito a razão.

O Assunto

E nunca me perguntes o assunto de um poema: um poema sempre fala de outra coisa.

O Poema

O poema essa estranha máscara mais verdadeira do que a própria face.

O Trágico Dilema

Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um dos dois é burro.

Palavra Escrita

Por vezes, quando estou escrevendo este cadernos, tenho um medo idiota de que saiam póstumos. Mas haverá coisa escrita que não seja póstuma? Tudo que sai impresso é epitáfio.

Poema

Mas por que datar um poema? Os poetas que põem datas nos seus poemas me lembram essas galinhas que carimbam os ovos...

Poesia & Lenço

E essa que enxugam as lágrimas em nossos poemas com defluxos em lenços... Oh! tenham paciência, velhinhas... A poesia não é uma coisa idiota: a poesia é uma coisa louca!

Poesia & Peito

Qual Ioga, qual nada! A melhor ginástica respiratória que existe é a leitura, em voz alta, dos Lusíadas.

Refinamentos

Escrever o palavrão pelo palavrão é a modalidade atual da antiga arte pela arte.

Ressalva

Poesia não é a gente tentar em vão trepar pelas paredes, como se vê em tanto louco aí: poesia é trepar mesmo pelas paredes.

Sinônimos

Esses que pensam que existem sinônimos, desconfio que não sabem distinguir as diferentes nuanças de uma cor.

Sonho

Um poema que ao lê-lo, nem sentirias que ele já estivesse escrito, mas que fosse brotando, no mesmo instante, de teu próprio coração.

Tempo

Coisa que acaba de deixar a querida leitora um pouco mais velha ao chegar ao fim desta linha.

Veneração

Ah, esses livros que nos vêm às mãos, na Biblioteca Pública e que nos enchem os dedos de poeira. Não reclames, não. A poeira das bibliotecas é a verdadeira poeira dos séculos.

Vida

Só a poesia possui as coisas vivas. O resto é necropsia.

Mario Quintana

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Logo eu?

Jamais fui tímido neste espaço ao referir-me de minha admiração por Chico. Há poucos, dei uma passada nas postagens mais antigas e Drummond e Pessoa ainda estão em primeiro lugar em número de citações, mas já há muito de Chico! Especialmente as coisas que me são familiares, ou foram-me em algum momento. Mais do que familiares, as intervenções de Chico são impressionantemente precisas! Há duas semanas, fui à um show de Mônica Salmaso interpretando apenas canções dele. No espetáculo, entre outros momentos extraordinários, ela conta com excelente humor uma passagem em que ao compor "Ode aos Ratos", Chico ligou para Paulo Vanzolini (músico, poeta e zóologo) com a intenção de entender um pouco mais sobre os Ratos: "Paulo, é o Chico. Preciso para uma composição entender um pouco mais sobre os ratos. Como eles são realmente? Como é o nariz do rato? É gelado?(...)", e Paulo disse "Chico, você mente tanto sobre as mulheres, por que não mente sobre os ratos também?", "Por Favor, Paulo" (disse Chico), "Eu tenho um profundo respeito pelos ratos!".

...

Logo eu?

Essa morena quer me transtornar
Chego em casa, me condena
Me faz fita, me faz cena
Até cansar
Logo eu, bom indivíduo
Cumpridor fiel e assíduo
Dos deveres do meu lar
Essa morena de mansinho me conquista
Vai roubando gota a gota
Esse meu sangue de sambista

Essa menina quer me transformar
Chego em casa, olha de quina
Diz que já me viu na esquina a namorar
Logo eu, bom funcionário
Cumpridor dos meus horários
Um amor quase exemplar
A minha amada
Diz que é pra eu deixar de férias
Pra largar a batucada
E pra pensar em coisas sérias
E qualquer dia
Ela ainda vem pedir, aposto
Pra eu deixar a companhia
Dos amigos que mais gosto
E tem mais isso:Estou cansado quando chego
Pego extra no serviço
Quero um pouco de sossego
Mas não contente
Ela me acorda reclamando
Me despacha pro batente
E fica em casa descansando

Chico Buarque

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

O Amor é uma Companhia

O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
...
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.
Alberto Caieiro

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Mundo moderno, melhore

Últimamente tenho empenhado apenas algum tempo para minhas atualizações. Pouco tenho escrito e, também, o pouco que escrevo são lamentos cotidianos, nem sei se cabe dividir. Todavia, já havia visto este texto que trago há algum tempo. Chico Anysio não fazendo rir, mas fazendo poesia! E não é uma qualquer, a insistência da primeira letra para todas as palavras de um mesmo texto não é coisa fácil. Há de se ter uma frase ou duas, mas todo um texto com todas as palavras começadas por uma aparente pobre letra? E o selo da genialidade dá-se com o conteúdo extraído de tão poucos recursos. Como que se refere à si mesmo: Do nordeste de oportunidade nenhuma à unanimidade.
...
Mundo moderno, marco malévolo, mesclando mentiras, modificando maneiras, mascarando maracutaias, majestoso manicômio. Meu monólogo mostra mentiras, mazelas, misérias, massacres, miscigenação, morticínio - maior maldade mundial.

Madrugada, matuto magro, macrocéfalo, mastiga média morna. Monta matungo malhado munindo machado, martelo, mochila murcha, margeia mata maior. Manhãzinha, move moinho, moendo macaxeira, mandioca. Meio-dia mata marreco, manjar melhorzinho.

Meia-noite, mima mulherzinha mimosa, Maria morena, momento maravilha, motivação mútua, mas monocórdia mesmice. Muitos migram, macilentos, maltrapilhos. Morarão modestamente, malocas metropolitanas, mocambos miseráveis. Menos moral, menos mantimentos, mais menosprezo. Metade morre.

Mundo maligno, misturando mendigos maltratados, menores metralhados, militares mandões, meretrizes, maratonas, mocinhas, meras meninas, mariposas mortificando-se moralmente, modestas moças maculadas, mercenárias mulheres marcadas.

Mundo medíocre. Milionários montam mansões magníficas: melhor mármore, mobília mirabolante, máxima megalomania, mordomo, Mercedes, motorista, mãos… Magnatas manobrando milhões, mas maioria morre minguando.

Moradia meia-água, menos, marquise.

Mundo maluco, máquina mortífera. Mundo moderno, melhore. Melhore mais, melhore muito, melhore mesmo. Merecemos. Maldito mundo moderno, mundinho merda.

Chico Anysio

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

O Quereres

Ontem, lá pelas 20h, pus me a buscar vídeos de Chico Buarque. Estava no quarto, criando coragem para os exercícios que me faltavam. Entre os que vi, chamou-me atenção este abaixo. Trata-se de uma música de Caetano que, inclusive, aparece no link que encaminho abaixo em uma apresentação junto com Chico. Há algumas coisas que me chamaram atenção especial de modo a trazer esta mensagem para cá: 1) O Chico erra na apresentação e humildemente, como só ele sabe fazer, retoma e o espetáculo ao invés de quebrar, enriquece!; 2) Conheço a música, mas ainda não a havia sentido. Não tinha-a como preferida, nem na lista das músicas que escuto em avião, no entanto desta vez admirei-a. E mais, reconheci-me... Recomendo o vídeo, todavia julgo fundamental ter a letra na cabeça.


LINK COM A INTERPRETAÇÃO DE CHICO E CAETANO
...

Onde queres revólver, sou coqueiro;
Onde queres dinheiro, sou paixão!

Onde queres descanso, sou desejo;
E onde sou só desejo, queres não!

E onde não queres nada, nada falta;
E onde voas bem alto, eu sou o chão;

E onde pisas no chão,
Minha alma salta: e ganha liberdade na amplidão...

Onde queres família, sou maluco;
E onde queres romântico, burguês!

Onde queres leblon, sou pernambuco;
E onde queres eunuco, garanhão!

E onde queres o sim e o não, talvez;
Onde vês, eu não vislumbro razão!

Onde queres o lobo, eu sou o irmão;
E onde queres cowboy, eu sou chinês!

Ah, bruta flor do querer...
Ah, bruta flor, bruta flor!

Onde queres o ato, eu sou o espírito;
E onde queres ternura, eu sou tesão!

Onde queres o livre, decassílabo;
E onde buscas o anjo, eu sou mulher!

Onde queres prazer, sou o que dói;
E onde queres tortura, mansidão!

Onde queres o lar, revolução;
E onde queres bandido, eu sou o herói!

Eu queria querer-te amar o amor,
Construírmos dulcíssima prisão;

E encontrar a mais justa adequação:
Tudo métrica e rima e nunca dor!

Mas a vida é real e é de viés,
E vê só que cilada o amor me armou:

Eu te quero e não me queres como sou;
Não te quero e não me queres como és...

Ah, bruta flor do querer...
Ah, bruta flor, bruta flor!

Onde queres comício, flipper vídeo;
E onde queres romance, rock'n roll!

Onde queres a lua, eu sou o sol;
Onde a pura-natura, o inseticídeo!

E onde queres mistério, eu sou a luz;
Onde queres um canto, o mundo inteiro!

Onde queres quaresma, fevereiro;
E onde queres coqueiro, eu sou obus!

O quereres e o estares sempre a fim,
Do que em mim é em ti tão desigual...

Faz-me querer-te bem;
Querer-te mal:

Bem a ti, mal ao quereres assim:

Infinitivamente impessoal;
E eu querendo querer-te sem ter fim!

E querendo-te,
Aprender o total...

Do querer que há;
E do que não há em mim!

Caetano Veloso

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Luzes

Cedido em uma pétala de flores comuns estaria
Reportou-se, em direção a minha e parecia
Imaculada, aquela que supunha ser consorte, quem um dia faria.
Sedente de alegria, em seu busto escrito em poesia
Torna-te esta maravilha que se põe discreta – Ah, pretendia...
Inventar-me-ei para ti e recobrir-te-ei de palavras poucas e companhia
Afear as histórias que são outras e, por fim, reunir-me com o que tanto queria
Naturalmente. Que tinha ela de se comportar? Todavia, não sei ao certo se fazia
E pus-me, então – delinqüente – desejar-te seguro ao que se sucedia.

...
Realizou-me de revolta espontânea e fez-se o bastante, com que não sabia
Entregou-se mulher a valer! Daquela que uma só poderia
Gentilmente, desviou-me – astuta – onde estava e não por onde estaria
Incompleto de mim, surgi-me em tortura; Oh, Pai que desconheço, faça-a sadia
Nau de imensa gratidão; navega em minh’alma e por onde mais gostaria
Aquela que mostrou-se sozinha, a minha, o fim da rebeldia.

...
És decisão perdida, de vantagem aclamada e assim brilharia
Somente minha. Isto tudo que a patente tua enuncia

...
Mulher de formas sem tipo igual - Exclusiva de mim conservar-se-ia
Indígna de dor; Rutilante alma de amor um só, diante dos desejo abnegaria
N´outro regaço deslumbra-te as lágrimas que suplicam-nos; todavia,
Hei de defrontar com a justa medida, merecida por ti e escreveria
A nossa evidente história de amor.
Luiz Felipe Angulo Filho

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Deste Amor

...
Ao que me reservo os encargos de minha alma?
Insinuo censuras ao sentimento que trago -
Não ao que faço, absolutamente,
ao que falo todavia.-
Jaz na nascente o cepticismo parvo de mim,
Na medida em que prospera meu novo amor...
De qual amor aludo-me, porém?
Deste que busco sinônimo e desvio-me da forma,
Deste próprio que suporto a autoria;
Deste invicto instante sem fim,
Desta enormidade que me constitui,
Deste argumento inviolável de minha conduta,
Deste que me traz saudades incorrigíveis,
Deste que envidas meus sentimentos outros,
Deste qual não posso não ter.
Deste que tem cheiro de ti.
Deste que tenho.

...

Luiz Felipe Angulo Filho

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Amor e seu tempo

Muito embora já tenha alguma compreensão da imprevisível influência do tempo (em tudo), ainda surpreendo-me com os dias que nos passam. Assim como surpreendo-me com as riquezas infindas que a literatura me trás. Com calma, sinto que sou capaz de explicar-me por meio de linhas bem escritas; Por meio de letras do Chico, Sonetos de Vinícius, Prosas de Pessoa e Poemas de Drummond. Eis, abaixo, uma nova (para mim) e expoente poema de Carlos:
...
Amor e Seu tempo
...
Amor é privilégio de maduros
Estendidos na mais estreita cama,
Que se torna a mais larga e mais relvosa,
Roçando, em cada poro, o céu do corpo.
É isto, amor: o ganho não previsto,
O prêmio subterrâneo e coruscante,
Leitura de relâmpago cifrado,
Que, decifrado, nada mais existe
Valendo a pena e o preço do terrestre,
Salvo o minuto de ouro no relógio
Minúsculo, vibrando no crepúsculo.
Amor é o que se aprende no limite,
Depois de se arquivar toda a ciência
Herdada, ouvida. amor começa tarde.

...
Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 21 de julho de 2008

.:: Castigo ::.

Lastimo pessoalmente os movimentos do
sangue de meu corpo que oscilam em busca de alguma veia,

Enquanto aprecio a confirmação da minha
existência, entendo que existo em exagero.

Meus lamentos são tantos e tudo, e mais,
que a minha maior lamentação faz-se prantear

(Prantear em exagero,
evidentemente)


Devo ter algum agastamento que me mantém
entre a e moléstia e o equilíbrio,

No incómodo e perseverante desgosto sem
causa,

noto com mais precisão cada estímulo de
minha fisiologia;

Em paz, faço-me livre das coisas do mundo
e, no entanto,
persisto;
Os sonhos apropriam-se das dores
-
ou apenas esvazio - e elas não
sei para onde vão...


Desconheço o destino de tanta
felicidade,

muito embora sem emular, desconheço
somente...

As personagens permanecem abençoadas sem
interrupções

e não sei até onde é verdadeiro: Os pares
de sentimentos legítmos e generosos,

amigos de infância, tudo e muito para
sempre.


Devo, de fato, ter alguma cólera
crónica,

herança genética ou infecção adquirida em
linhas de algum poema de menino

Não desconheço a riqueza, mas sede
esplêndido perenemente?


Contudo, creio em tudo, salvo na
perenidade.

Luiz Felipe Angulo Filho

terça-feira, 15 de julho de 2008

.:: Falsa ode as lágrimas do mundo::.

Inspirado por esta retomada, dou continuidade às minhas sequências com uma prosa que trouxe-me particular satisfação: Inicialmente foi-me as linhas quais mais me renderam; Agradeço à minha boa amiga Luzia que se encarregou de apresentá-la em sala de aula e entregou-me uma série de rascunhos de interpretações de alunos do curso de redação/literatura; Por fim, para evitar linhas desnecessárias, gostaria de fazer especial menção à doce Dôra, amiga de contos e prosas, que recentemente tem trocado comigo suas linhas precisas de todo o sentimento do mundo. Boa leitura à todos!...

...

"Enquanto acusava a mim de dor, -
E, porquanto, me tinha solitário de tantos confortos -
Enfraquecia-me em domicílio,
detestando o tempo e a água fria.
Eis que aludia-me a gramática de versos muitos
e esforçava-me, ao menos, às prosódias de
minha boca em satisfação a mim.
Tinha por tanto que ocupava um papel de
finório, por isso as palavras difíceis, sem uso
sequer;
Ao fim de exprimir este movimento de
mim, em aclamar por ser e nem tanto sentir,
o que me encontro sobejamente;
Sinto como apenas sentisse,
exaustivamente; Hei de comprimir meus sentimentos ou,
por então, manifestá-los ao que for aceito
pelos corpos que são outros
e, por assim, reservam distintas
lembranças de histórias comuns.
(Vasculhem os auxílios gramaticais; és
improfícuo, vão a traduzir a alma humana. Nem sei que insisto…)

Pus-me em atitude de choro
encoberto, e permiti as lágrimas que vieram.
Ou simplesmente choro, para aqueles que
vêm tarde.

Em mim mitigaram as laterais da face,
ressecadas da umidade de meu próprio
produto;
Enfim, vi-me em frente ao resto que tinha,
minha vida
(como se apresenta unânime as palavras,
quão fortes se valem; Vida, jamais teremos sequer sinônimo); Minha vida.
Ao outro lado, defronte, sorria, à todos,
mordidas claras de um couro colorido.
Uma mulher que se faz existir apenas, uma,
apenas;
Portava silhueta recta, pernas compridas
e ao fim de todas duas, pecíolos dourados
apontados ao chão.
O calcanhar era mais alto que os dedos;
Estes suportavam a beleza exagerada de
quem vinha, minha; Minha última mulher.

Soube de nada, pouco apenas.
Não me pus a decifrar e, então,
edifiquei-me os meus em acariciá-la;
span >Sabia, a altura, das extravagâncias que
acossava: Eras uma, de olhos diretos e de
soslaios e mãos iguais as quais me uno em sonhos de
princesa.
Transfigurava-se à medida em que guardava
sua vigília sem muita esperança,
pois o perdera em outra poesia.
Esposa de desejo excessivo em não desejar;
Repudia o tabaco e da mesma forma esperar.
Pedia-me que fosse, e implorava por
ser.

Ah… Quantos significados têm as
palavras. Ao que afortuno-me em usá-las passivas,
serão sempre poucas, que acham?
És comovente o sentimento;
A impossibilidade de resumo,
mas confusas e poucas.
São estas as palavras que
trago, em inumeráveis linhas quais
significam o labirinto em que convido-os.
Pobre dos amantes...
Incompreendidos e, pior, mesmo tendo com
todos, mal saberão o que são, amantes, que amam
e, alguns, improvisam versos de afirmações repetidas,
como as minhas linhas de tristeza e completude.
É amor e amiúde, sustido e oprimido
pelas poucas opções das palavras.

Ela, de unhas vizinhas ao chão, me veio ao
regaço;
Via, por este instante, o que jamais
buscarei aventura em descrever
Chegava-me a comenda de outrora, encargo
antigo e amigo
Pedira, igualmente, que o tempo fosse
bom, em princípio quando mais verosímel ao
choro - Chorar é palavra de poesia, contudo
acontece - E ao reconhecer a sombra no chão de uma
alma, olhardes para nós, vida, e, por assim,
satisfaça-te a ti na conquista de tantos
outros corações.
Muito embora, a dor não sumira,
o choro insiste e a solidão entorpecida em
ainda ser; consome-nos sem razão, mas o faz.
As dores de antes, insistem.
Assim, ao que não posso não ter contigo,
vida, o papel de estéril, molesto;
Basto e agradeço, adormecido,
dolorido e apaixonado."

Luiz Felipe Angulo Filho

terça-feira, 8 de julho de 2008

Literatura Privada

Esta poesia que resgato é uma prosa que me trouxe bastante satisfação pessoal, satisfação literárea talvez e, claro, esclarecimento. Não entendo que cabe, neste espaço, dedicar tempo para detalhar os sentimentos que fizeram-se presentes para a inspiração destas linhas, todavia opto por agradecer às mensagens e carinho que recebi por esta poesia.
...

Os cabelos que guarda para ti confrontam com meus dedos.
A mão que sai do meu corpo, pertence já não a mim e, sim,
aos seus fios escuros que te protegem do sol e da calvice.

Sabes que houve demasiados confrontos entre a existência e alma, a alma...

Ambos conhecem-se apenas pouco, todavia acredite que não são agressões reprimidas de uma vida real, mas carinhos largos que penteiam seus cabelos, sua alma, sua existência...
Peço que não se ponha a amuar-se contra meus dedos dedicados, por fim, que tocam seu couro e fecham os olhos que tenho em troca de uma suposta troca de brandos sinceros e, por então, encaminhe esclarecimentos, não ao couro, mas à alma que te sustenta.

Proferi alguns dos advérbios que sei confiante particularmente na clausura de minhas idéias longas, consequência da inocência empírica que mantenho por laser; E, assim, escrevo poesias despretensiosas cuja razão se aproxima somente da prosódia - a qual investigo e tantas vezes erro - esqueço, portanto, as conseqüências humanas de uma literatura privada, mas que sei disso?

Permaneço, então, alternando meus movimentos em longos caminhos com os braços que sustentam a existência de seu corpo e persisto com alguns dedos da mão mais próxima, a outra repousa... Prossigo em afáveis contatos do corpo que tenho contra os fios que nasceram sobre a riqueza de sua excelência. São eles que constroem nós variáveis e desafiam-me a soltá-los ou a discutí-los e, assim, apenas desisto se lhe trago alguma dor.

Luiz Felipe Angulo Filho

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Ensaio da Sobrevivência

Preciso viver amiúde de mim
Em minha companhia difusa e concluída,
Percorro a liberdade de ser, com o embaraço indissociável da existência

Não concedo mais cedência em apresentar-me integral,
Ou talvez ceda, algum dia que não é hoje, outro dia...
Hoje não: - Hoje poetizo;

Erijo linhas oblíquas de exposição,
Falo sozinho e com o papel e é tudo...
Sem demora posso variar, todavia não obsto pelo que já disse...
Se não sou, é o que fui - lídimo, e basta.

Míngua, ainda, a preponderância da perenidade da idéia
A variedade de elementos perturba o repouso do juízo,
Enleio-me com a mesma freqüência que faço uso dos pronomes e de auxílio

Preciso, então, permanecer
Pois enquanto a solidão permite-me a opção da companhia,
A companhia censura-me a liberdade basilar de estar só.


Luiz Felipe Angulo Filho
Brasília, Junho de 2008

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Séquito

Ah... Minha inspiração dissimulada,
Sinto enorme euforia em dividir com minhas esferográficas as angústias que tive
E meu estro baseia-se em não estar, ausenta-se, deixa-me só como tantos e tudo
Eis que as linhas saem-me de improviso e trazem eventuais inconsistências,
Tal como a vida que tenho, instável contudo aprazível
Uma bruma bordeja os sentimentos do mundo,
Obscurece, inibe
Não creio na persistência, pois sim nas mágoas
Desconheço maior oferta do que a madureza,
Não reconheço maior expediente do que o tempo...

Ah... o tempo, o tempo...
Talvez ele me reúna a inspiração que me foge,
Enquanto isso, abjuro-me na solidão que o dia me trás,
Na companhia, opto pela leitura ou, porventura, convenço-me a ouvir
Mesmo que a mim mesmo, mesmo que as mesmas vozes, mesmo que ao silêncio

Ah... o silêncio
Estado absoluto de excetuar os ruídos,
Muito mais que a ausência do barulho, o preterido silêncio
Busca insólita e incomum, clandestino pelo imediato
E, assim, enquanto creio em sua expectativa,
Usufruo-me do bulício com a candura que me cabe

Porquanto veto-o (o silêncio) e o aguardo enfermo.

Luiz Felipe Angulo Filho
Brasília, Junho de 2008

sábado, 21 de junho de 2008

Grito de Alerta

- Por mais que em algum momento eu tente engatar alguma sequência definida de poemas, sonetos - ou que for - como anunciei há pouco, foi inevitável a mudança. A definição se dá com o fato consumado, quaisquer eventuais ajustes devem, sim, serem trazidos em pról da coerência, da qualidade e, por fim, deste processo infindo de amadurecimento. Estas linhas abaixo, de Gonzaguinha, não são as minhas como havia dito que faria, mas sinto-me razoávelmente seguro em tê-las como minhas palavras.

"Primeiro você me azucrina
Me entorta a cabeça
Me bota na boca
Um gosto amargo de fel...

Depois
Vem chorando desculpas
Assim meio pedindo
Querendo ganhar
Um bocado de mel...

Não vê que então eu me rasgo
Engasgo, engulo
Reflito e estendo a mão
E assim nossa vida
É um rio secando
As pedras cortando
E eu vou perguntando:
Até quando?...

São tantas coisinhas miúdas
Roendo, comendo
Arrasando aos poucos
Com o nosso ideal
São frases perdidas num mundo
De gritos e gestos
Num jogo de culpa
Que faz tanto mal...

Não quero a razão
Pois eu sei
O quanto estou errado
E o quanto já fiz destruir
Só sinto no ar o momento
Em que o copo está cheio
E que já não dá mais
Prá engolir...

Veja bem!
Nosso caso
É uma porta entreaberta
E eu busquei
A palavra mais certa
Vê se entende
O meu grito de alerta

Veja bem!
É o amor agitando o meu coração
Há um lado carente
Dizendo que sim
E essa vida dá gente
Gritando que não..."

Gonzaguinha

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Prosa de um bom novo dia

Ouço o cheiro que esta fineza alcança, ao brilho eterno opcional dos dias
de poesia: Se quero faço prosa, se não quero covardia.
Não rimo mais minhas palavras pobres. Fui mesmo de prosa, abandonado da poesia. Mas esfrio-me de angústia às forças de linhas novas, em busca de gratidão ao meu novo dia. E, assim, sem querer as rimas se fazem, se encontram e atraem os olhos da leitura; Quero pensar que da vista faço o gosto, o sentimento e, alguma, literatura.
Entrego ao tempo que foi também os nãos que minha boca serviu.
Sou muito assim, meio Pastor de causas que compro, sincero e fiél. Se vou de
prosa, não faço acordo com rima e deixo de contar as sílabas que meus
dedos produzem. Preocupo-me agora com algum conteúdo, aproximar minha prosódia ao bom gosto e evitar de negar o que posso consentir.
Ah... este monte de gente que se mexe enquanto proseio. São o mote de meus sentimentos. Tenho que alguns sequer sentiram o cheiro do dia, que pena... Faço reforço à opção que refiro-me em princípio, a opção de optar. Podes abjurar os tempos que se fazem nossos enquanto pisamos o chão, fazes-te um próprio objeto animado com a vantagem que morre um dia, a coisa persiste.
Bom dia o de hoje para prosear.
Acordei e continuo vivo, que alegria. São tantos os motivos que tenho a
agradecer que medro por não conseguir fazer as outras coisas que tenho. Não
posso fazer um ou outro, devo os dois. Por este caminho, aproveito a minha prosa para esconder ambas as atividades que devo: Em uma frase agradeço; Noutra
admiro.
Tenho muita aflição por esta gente toda que anda sozinha. Podem
esbarrar em um objeto qualquer e fazerem morrer aquilo que agradece por tudo
mais que o agressor! Mesmo que os pedaços persistam, talvez já esteja bom.
Estimo, todavia, aqueles outros que choram de alegria por estarem, ainda, contra
o vento dando licença aos sentidos.
Quantos cortes de cabelo existem nestas cabeças? Já são de cores diferentes e de textura singular, uns parecem-se um pouco com outro, mas às vezes nem notam. Não sei que faço com estes todos, prefiro o dia que me mantém vivo e escrevendo. Prefiro o dia, ou a noite, aos donos destas cabeças de cabelos os mesmos. Guardo uma admiração secreta por estes, não posso contar o que, no entanto tenho por cada um uma avaliação completa de gênero, espécie e opção sexual. Que faço, se nem consigo manter a promessa de não usar o não? Já são vários nestas mesmas linhas, que já extrapolam o limite da compreensão. Portanto encerro, para evitar de fazer
o que não quero e volto ao meu ofício de continuar minha admiração.

Luiz Felipe Angulo Filho