sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

:: Diário de acertos não cometidos

Ah! Quantos segredos eu tenho
em dizer ao mundo que ja sei
Errei, pois sabia que errava
Amava, pois sabia que amei
...
Rapazes de todo tempo,
Animosos em optar pela dúvida
Inconsequentes por saber:
Tragam-me papéis e descrevo-te
por sempre, com todos delitos
que irei cometer
Eu, apenas. Por mim, apenas.
...
Sobrevive em nós o sempre
esvaeceu-se no tempo a razão
que precipita o fim das histórias
e ignora o poder da emoção
...
De todos no mundo, somos diversos
convivendo entre a fome e o mundo real
Apresenta-se sob mim o desígno
contundente, insistente e benígno
Pouco. Desigual.
...
Temos olhos de espécie distintas
Entre todos, sabemos que somos
modestos, decentes, diferentes de um
Somos mais - Somos pouco
Não um para o outro,
nem pra ódio nenhum.
...
Entre a história percorre o ensejo
o que escrevo sobrevive, conduz
já o que penso distrói-nos, seduz
Somos pouco, pouco tempo.
De história imperfeita e enredo algum
Somos livres e por dizer incompletos
não um para o outro, mas o um pelo um.
...
Luiz Felipe Angulo Filho

terça-feira, 26 de dezembro de 2006

Todo o Sentimento

Em 2006 o blog foi, pra mim, uma grande surpresa. Além de um refúgio particular, pude receber, aqui, amigos e desconhecidos que interagiram comigo das mais diversas formas: e-mails, posts e para os mais próximos até telefonemas. Obrigado! Em 2007, espero continuar essa interação. Pretendo priorizar as prosas de alegria, cantadas - mas enquanto isso, preciso ir de favor com duas coisas - Meu sentimento pessoal e minha própria satisfação de citar Chico, mais uma vez. Boa leitura, mas esta (abaixo) precisa mesmo é ser ouvida...

Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo

Da gente
Preciso conduzir
Um tempo de te amar
Te amando devagar
E urgentemente

Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez
Que recolhe todo o sentimento
E bota no corpo uma outra vez
Prometo te querer
Até o amor cair
Doente, doente

Prefiro então partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente
Depois de te perder
Te encontro, com certeza
Talvez num tempo da delicadeza
Onde não diremos nada
Nada aconteceu
Apenas seguirei, como encantado
Ao lado teu

Chico Buarque

terça-feira, 19 de dezembro de 2006

:: Incoerência Disputa

E antes que se tornasse real
o vazio esvaziou-se de presença
Gritos de um silêncio seguido,
fez-se do rancor a ausência
...
Ecoa sobre, e sob, mim um ruído
de faces ocultas liberto do mal
Encontro no retorno a franqueza
de mim, solitária, sem sua soma total.
...
Desfaço-me do presente perfume,
que de antes floria um cenário pungente
Com frações de censura e vestígios de dor
...
Desfaço-me do rotineiro costume
Encontro-me, por ora, dolente
com a coerência ferida de doença do amor.
...
Luiz Felipe Angulo Filho

segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Soneto da Separação

Passeando pelos campos da poesia, conheci novos poetas, letrístas. Pessoas de todos os tipos, homens e mulheres, claro, sempre cheios de conteúdo: Ninguém fala da vida como Drummond, que descreve em poesia seus caminhos da maturidade, de sua evolução; Não há quem se lamente como Bandeira, que inventou um mundo só seu e que tantos se encontram. E também não conheço quem fale com mais propriedade e beleza dos relacionamentos da vida do que Vinícius.

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da alma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Vinícius de Moraes

sexta-feira, 1 de dezembro de 2006

:: Assunto

Em que universo vivem as pessoas,
não na Terra onde apenas existem?
Qual cobiça maior molesta-nos, mata
Seguimos inertes evadindo a razão,
que circunda o mar de respostas azúis.
Completas, reais e oníricas - as mesmas

Em qual universo estão as pessoas,
não na Terra onde desejam brincar.
Disputo em saber quais serão os vivos,
Os que andam, os que correm?
Os que esperam? Os que fogem?

Victor Angulo

sexta-feira, 24 de novembro de 2006

Meus oito anos

Aqui na Consultoria que trabalho estamos passando por mudanças: Novos sistemas, procedimentos de trabalho, uma nova estrutura, enfim, mudanças. Inclusive tivemos há pouco o que chamamos de "Sensibilização às Mudanças" - Pois sempre têm os receosos, os menos confiantes, os resistentes e a idéia é evoluir.
Bom, também na vida pessoal passo por mudanças. Aliás, todos os dias! Mas tenho objetivos, vejo crescimentos e ganhos em todas as horas, boas e ruins, e, claro, o objetivo é evoluir. E não só o meu, mas como o de todas as pessoas. Mas em paralelo com as mudanças, conhecemos também as dificuldades com elas caminham as lembranças de outras épocas de nossas vidas. Foi aí que resolvi, finalmente, postar Casimiro de Abreu. Boa leitura!


Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!


Como são belos os dias
Do despontar da existência!
— Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é — lago sereno,
O céu — um manto azulado,
O mundo — um sonho dourado,
A vida — um hino d'amor!


Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!


Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minhã irmã!


Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
— Pés descalços, braços nus
— Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!


Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!

Casimiro de Abreu

quarta-feira, 22 de novembro de 2006

Reinvenção

A vida só é possível reinventada.

Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada
pelas águas, pelas folhas...
Ah! tudo bolhas
que vem de fundas piscinas
de ilusionismo... — mais nada.

Mas a vida, a vida, a vida, a vida
só é possível reinventada.

Vem a lua, vem, retira
as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços
cheios da tua Figura.
Tudo mentira!
Mentirada lua, na noite escura.
Não te encontro, não te alcanço...
Só — no tempo equilibrada,
desprendo-me do balanço
que além do tempo me leva.
Só — na treva, fico: recebida e dada.
Porque a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível reinventada.

Cecília Meirelles

segunda-feira, 13 de novembro de 2006

Grito de Alerta

Procuro manter, dentro das limitações da rotina, este blog não só atualizado, mas em sincronia fina com os meus sentidos, meus momentos. Na mesma medida que recebo novas informações, tento, de alguma forma, compartilhar com a poeisa ou com a música, por meio do blog. Isso só seria possível, ao meu ver, com a contribuição de pessoas. Que acompanham meu blog, mandam sugestões etc. Esta postagem de hoje é também uma música, mas de uma pessoa muito especial. Não. A mais especial. como ela mesmo disse, Gonzaguinha dos disse muita coisa boa, como "(...) a beleza de ser um eterno aprendiz". Mas agora veja "Grito de Alerta". Boa leitura!

Primeiro você me azucrina, me entorta a cabeça
Me bota na boca um gosto amargo de fel
Depois vem chorando desculpas, assim meio pedindo
Querendo ganhar um bocado de mel

Não vê que então eu me rasgo, engasgo, engulo
Reflito e estendo a mão
E assim nossa vida é um rio secando
As pedras cortando e eu vou perguntando:até quando?
São tantas coisinhas miúdas, roendo, comendo
Arrasando aos poucos com o nosso ideal
São frases perdidas num mundo de gritos e gestos
Num jogo de culpa que faz tanto mal

Não quero a razão pois eu sei o quanto estou errado
o quanto já fiz destruir
Só sinto no ar o momento em que o copo está cheio
E que já não dá mais prá engolir
Veja bem,nosso caso é uma porta entreaberta
Eu busquei a palavra mais certa
Vê se entende o meu grito de alerta
Veja bem,é o amor agitando meu coração
Há um lado carente dizendo que sim
E essa vida da gente gritando que não.


Gonzaguinha

terça-feira, 7 de novembro de 2006

Deixei de ser aquele que esperava

Fernando Pessoa é provavelmente um dos Poetas mais precisos e complexos da literatura. Ao mesmo tempo em que reúne palavras que já cairam no desuso, acompanham seus versos mensagens quase religiosas, filofóficas, sobre sentidos da vida. Boa leitura!

Deixei de ser aquele que esperava,
Isto é, deixei de ser quem nunca fui...
Entre onda e onda a onda não se cava,

E tudo, em ser conjunto, dura e flui.
A seta treme, pois que, na ampla aljava,
O presente ao futuro cria e inclui.
Se os mares erguem sua fúria brava
É que a futura paz seu rastro obstrui.

Tudo depende do que não existe.
Por isso meu ser mudo se converte
Na própria semelhança, austero e triste.

Nada me explica. Nada me pertence.
E sobre tudo a lua alheia verte
A luz que tudo dissipa e nada vence.

Fernando Pessoa

segunda-feira, 30 de outubro de 2006

Quero

Para quem já tentou escrever um Soneto - uma poesia, uma letra de música - já se pegou desconfortável com uma rima que não vem. Como se a rima fosse a responsável pelo sucesso da obra e não seu conteúdo. Eu já li poemas vazios, cheios de rimas, com palavras difíceis que nem sabia o significado naquela hora. A verdade é que existem estilos: Vinícius sequer falava ao telefone sem rimar, mas também jamais abriu mão do conetúdo. Drummond aparentemente já não se importava com isso, com as rimas, criou versos profundos, com poucas e as mesmas palavras, mas simetricamente ordenadas entre pronomes e parágrafos. Quanto mais me dedico a conhecer Drummond, mais entretido e admirado fico.
Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.

Ouvindo-te dizer: Eu te amo
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte, como sabê-lo?

Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois no dizer: Eu te amo, desmentes
apagas teu amor por mim.

Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amadopor e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra e na sua emissão,
amor feito com vibração espacial.

No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amaste antes.

Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.
Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 26 de outubro de 2006

A Máquina do Mundo

Me desanimo, particularmente, quando encontro um texto extenso e, como já tive esta experiência, vejo que são os menos lidos. Mas nem por isso deixei de postar a poesia abaixo de Drummond. Especialmente porque é de Drummond, Especialmente porque é boa. Não é uma leitura fácil, exige pesquisa, paciência e, inclusive, inspiração.[Este poema foi escolhido como o melhor poema brasileiro de todos os tempos por um grupo significativo de escritores e críticos, a pedido do caderno “MAIS” (edição de 02-01-2000), publicado aos domingos pelo jornal “Folha de São Paulo”. Publicado originalmente no livro “Claro Enigma”, o texto acima foi extraído do livro “Nova Reunião”, José Olympio Editora – Rio de Janeiro, 1985, pág. 300.] - Boa leitura!

E como eu palmilhasse vagamente
uma estrada de Minas, pedregosa,
e no fecho da tarde um sino rouco

se misturasse ao som de meus sapatos
que era pausado e seco; e aves pairassem
no céu de chumbo, e suas formas pretas

lentamente se fossem diluindo
na escuridão maior, vinda dos montes
e de meu próprio ser desenganado,

a máquina do mundo se entreabriu
para quem de a romper já se esquivava
e só de o ter pensado se carpia.

Abriu-se majestosa e circunspecta,
sem emitir um som que fosse impuro
nem um clarão maior que o tolerável

pelas pupilas gastas na inspeção
contínua e dolorosa do deserto,
e pela mente exausta de mentar

toda uma realidade que transcende
a própria imagem sua debuxada
no rosto do mistério, nos abismos.

Abriu-se em calma pura, e convidando
quantos sentidos e intuições restavam
a quem de os ter usado os já perdera

e nem desejaria recobrá-los,
se em vão e para sempre repetimos
os mesmos sem roteiro tristes périplos,

convidando-os a todos, em coorte,
a se aplicarem sobre o pasto inédito
da natureza mítica das coisas,

assim me disse, embora voz alguma
ou sopro ou eco ou simples percussão
atestasse que alguém, sobre a montanha,

a outro alguém, noturno e miserável,
em colóquio se estava dirigindo:
"O que procuraste em ti ou fora de

teu ser restrito e nunca se mostrou,
mesmo afetando dar-se ou se rendendo,
e a cada instante mais se retraindo,

olha, repara, ausculta: essa riqueza
sobrante a toda pérola, essa ciência
sublime e formidável, mas hermética,

essa total explicação da vida,
esse nexo primeiro e singular,
que nem concebes mais, pois tão esquivo

se revelou ante a pesquisa ardente
em que te consumiste... vê, contempla,
abre teu peito para agasalhá-lo.”

As mais soberbas pontes e edifícios,
o que nas oficinas se elabora,
o que pensado foi e logo atinge

distância superior ao pensamento,
os recursos da terra dominados,
e as paixões e os impulsos e os tormentos

e tudo que define o ser terrestre
ou se prolonga até nos animais
e chega às plantas para se embeber

no sono rancoroso dos minérios,
dá volta ao mundo e torna a se engolfar,
na estranha ordem geométrica de tudo,

e o absurdo original e seus enigmas,
suas verdades altas mais que todos
monumentos erguidos à verdade:

e a memória dos deuses, e o solene
sentimento de morte, que floresce
no caule da existência mais gloriosa,

tudo se apresentou nesse relance
e me chamou para seu reino augusto,
afinal submetido à vista humana.

Mas, como eu relutasse em responder
a tal apelo assim maravilhoso,
pois a fé se abrandara, e mesmo o anseio,

a esperança mais mínima — esse anelo
de ver desvanecida a treva espessa
que entre os raios do sol inda se filtra;

como defuntas crenças convocadas
presto e fremente não se produzissem
a de novo tingir a neutra face

que vou pelos caminhos demonstrando,
e como se outro ser, não mais aquele
habitante de mim há tantos anos,

passasse a comandar minha vontade
que, já de si volúvel, se cerrava
semelhante a essas flores reticentes

em si mesmas abertas e fechadas;
como se um dom tardio já não fora
apetecível, antes despiciendo,

baixei os olhos, incurioso, lasso,
desdenhando colher a coisa oferta
que se abria gratuita a meu engenho.

A treva mais estrita já pousara
sobre a estrada de Minas, pedregosa,
e a máquina do mundo, repelida,

se foi miudamente recompondo,
enquanto eu, avaliando o que perdera,
seguia vagaroso, de mãos pensas.

Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 16 de outubro de 2006

Arte Poética

Estive em Buenos Aires, acompanhado de Paula, minha maior companheira. Fiquei admirado com a cidade. Se a concepção deste blog é multiplicar conhecimento, Buenos Aires é uma excelente referência: A cultura preservada, a arquitetura variada, bairros com simbologias, uma cidade única, onde cada pedaço se assemelha a outro lugar do mundo. Se pudesse, escolheria Buenos Aires como uma boa cidade para descrever-se em um poema. Por isso, embalado e agradecido pela hospitalidade, trago um texto da maior referência literárea e poética argentina de todos os tempos, Jorge Luis Borges

Mirar el río hecho de tiempo y agua
y recordar que el tiempo es otro río,
saber que nos perdemos como el río
y que los rostros pasan como el agua.

Sentir que la vigilia es otro sueño
que sueña no soñar y que la muerte
que teme nuestra carne es esa muerte
de cada noche, que se llama sueño.

Ver en el día o en el año un símbolo
de los días del hombre y de sus años,
convertir el ultraje de los año
sen una música, en un rumor y un símbolo,

Ver en la muerte el sueño, en el ocaso
un triste oro, tal es la poesía
que es inmortal y pobre. La poesía
vuelve como la aurora y el ocaso.

A veces en las tardes una cara
nos mira desde el fondo de un espejo;
el arte debe ser como ese espejo
que nos revela nuestra propia cara.

Cuentan que Ulises, harto de prodigios,
lloró de amor al divisar su Itaca
verde y humilde. El arte es esa Itaca
de verde eternidad, no de prodigios.

También es como el río interminable
que pasa y queda y es cristal de un mismo
Heráclito inconstante, que es el mismo
y es otro, como el río interminable.

Jorge Luis Borges

À instabilidade das cousas no mundo

Não me considero um intelectual, nem nada que o valha. Muito pelo contrário, gostaria de o ser! Mas para tanto, buscamos o conhecimento da história, de grandes peças e conhecer, ao menos, os nomes e procedências dos que fizeram a diferença até aqui. Mas a questão que levanto não é esta. A questão é que atualmente, não se levantam mais questionamentos. O porquê das coisas - Será que faz-se entender que uma rápida pesquisa no google resolve qualquer problema? Não sou um intelectual, mas sou um curioso e por isso trago os questionamentos abaixo de Gregório de Mattos.

Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.

Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol e na luz, falta a firmeza,
Na formosura não se crê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.

Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.

Gregório de Mattos

sexta-feira, 6 de outubro de 2006

Estranheza do Mundo

Me agrada quando um pensador explora ou questiona coisas simples da vida. É a partir das coisas mais simples que conseguimos, ao menos eu, as maiores reflexões sobre a vida, a existência e o todo. Este autor, Ferreira Goulart, foi-me apresentado por um tio, a quem tenho total admiração e confiança ilimitada.

Olho a árvore e indago:
está aí para quê?
O mundo é sem sentido
quanto mais vasto é.
Esta pedra esta folha
este mar sem tamanho
fecham-se em si, me
repelem.
Pervago em um mundo estranho.
Mas em meio à estranhezado mundo,
descubrouma nova beleza
com que me deslumbro:
é teu doce sorriso
é tua pele macia
são teus olhos brilhando
é essa tua alegria.
Olho a árvore e já
não pergunto "para quê"?
A estranheza do mundo
se dissipa em você.

Ferreira Goulart

quarta-feira, 4 de outubro de 2006

Chico Buarque: lucidez e coerência

Aproveitando o momento eleitoral, trago uma reportagem de Chico Buarque comentando o momento atual. Particularmente, estava curioso para ouví-lo falar. Não tenho dúvida que é um ponto de vista que deve ser lido, relevado e até discutido, se for o caso - Mas em nenhuma hipótese ignorado. Boa leitura!

A cada uma de suas entrevistas, o compositor e cantor Chico Buarque de Holanda sempre surpreende por sua lucidez e enorme coerência. Agora, no lançamento do seu novo CD, Carioca, ele novamente brilhou ao falar sobre a situação política brasileira. A direita deve ter ficado furiosa, com saudades dos tempos da ditadura militar que o perseguiu e censurou; a esquerda "rancorosa" deve ter ficado ressentida com seus irônicos comentários; já os setores da sociedade que, mesmo críticos das limitações do governo Lula, não perderam a perspectiva, ganharam novo impulso criativo para a sua atuação. Mas é melhor deixar o poeta falar, pinçando trechos das suas entrevistas na revista Carta Capital e no jornal Folha de S.Paulo:Sobre a crise política:É claro que esse escândalo abalou o governo, abalou quem votou no Lula, abalou sobretudo o PT. Para o partido, esse escândalo é desastroso.O outro lado da moeda é que disso tudo pode surgir um partido mais correto, menos arrogante.No fundo, sempre existiu no PT a idéia de que você ou é petista ou é um calhorda. Um pouco como o PSDB acha que você ou é tucano ou é burro (risos). Agora, a crítica que se faz ao PT erra a mão. Não só ao PT, mas principalmente ao Lula. Quando a oposição vem dizer que se trata do governo mais corrupto da história do Brasil é preciso dizer 'espera aí'. Quando aquele senador tucanocanastrão diz que vai bater no Lula, dar porrada, quando chamam o Lula de vagabundo, de ignorante - aí estão errando muito a mão.Governo mais corrupto da história? Onde está o corruptômetro? É preciso investigar as coisas, sim. Tem que punir, sim. Mas vamos entender melhor as coisas. A gente sabe que a corrupção no Brasil está em toda parte. E vem agora esse pessoal do PFL, justamente ele, fazer cara de ofendido, de indignado. Não vão me comover...Preconceito de classe.O preconceito de classe contra o Lula continua existindo - e em graus até mais elevados. A maneira como ele é insultado eu nunca vi igual. Acaba inclusive sendo contraproducente para quem agride, porque o sujeito mais humilde ouve e pensa: 'Que história é essa de burro!? De ignorante!? De imbecil!?'. Não me lembro de ninguém falar coisas assim antes, nem com o Collor. Vagabundo! Ladrão! Assassino! - até assassino eu já ouvi. Fizeram o diabo para impedir que o Lula fosse presidente. Inventaram plebiscito, mudaram a duração do mandato, criaram a reeleição. Finalmente, como se fosse uma concessão, deixaram Lula assumir. 'Agora sai já daí, vagabundo!'.É como se estivessem despachando um empregado a quem se permitiu o luxo de ocupar a Casa Grande. 'Agora volta pra senzala!'. Eu não gostaria que fosse assim.Eu voto no Lula! A economia não vai mudar se o presidente for um tucano. A coisa está tão atada que honestamente não vejo muita diferença entre um próximo governo Lula e um governo da oposição. Mas o país deu um passo importante elegendo LULA.Considero deseducativo o discurso em voga: 'Tao cedo esses caras não voltam, eles não sabem fazer, não são preparados, não são poliglotas'. Acho tudo isso muito grave.Hoje eu voto no Lula. Vou votar no Alckmin? Não vou.Acredito que, apesar de a economia estar atada como está, ainda há uma margem para investir no social que o Lula tem mais condições de atender. Vai ficar devendo, claro. Já está devendo. Precisa ser cobrado. Ele dizia isso: 'Quero ser cobrado, vocês precisam me cobrar, não quero ficar lá cercado de puxa-sacos'. Ouvi isso dele na última vez que o vi, antes dele tomar posse, num encontro aqui no Rio.Sobre o PSOL.Percebo nesses grupos um rancor que é próprio dos ex: ex-petista, ex-comunista, ex-tudo. Não gosto disso, dessa gente que está muito próxima do fanatismo, que parece pertencer a uma tribo e que quando rompe, sai cuspindofogo. Eleitoralmente, se eles crescerem, vão crescer para cima do PT e eventualmente ajudar o adversário do Lula.Papel da mídia.Não acho que a mídia tenha inventado a crise. Mas a mídia ecoa muito mais o mensalão do que fazia com aquelas histórias do Fernando Henrique, a compra de votos, as privatizações. O Fernando Henrique sempre teve uma defesa sólida na mídia, colunistas chapa-branca dispostos a defendê-lo a todo custo. O Lula não tem. Pelo contrário, é concurso de porrada para ver quem bate mais.

quinta-feira, 28 de setembro de 2006

Interlúdio

Existe um livro de All Ries e Jack Trout de título "As 22 Leis Consagradas do Marketing". Entre estas leis, chamou-me sempre muito a atenção a segunda lei "Se não pode ser o primeiro de uma categoria, crie sub-categorias". Assim, já que existe o primeiro homem que pisou na lua, falemos então do primeiro homem brasileiro que pisou a lua, desta forma as pessoas lembrarão de você! - Subcategoria!; Se não pode-se ser o primeiro aviador, seja então a primeira mulher a pilotar um avião; Se não pode ser a primeira emissora de TV do país, seja a que mais cresce etc. - Não sei dizer ao certo, na minha opinião, quem foi nosso maior poeta (talvez Drummond, talvez Vinícius, ou talvez Chico Buarque), mas nossa maior poetiza, sem dúvida, é Cecília Meirelles.

As palavras estão muito ditas
e o mundo muito pensado.
Fico ao teu lado.

Não me digas que há futuro
nem passado.
Deixa o presente — claro muro
sem coisas escritas.

Deixa o presente. Não fales,
Não me expliques o presente,
pois é tudo demasiado.

Em águas de eternamente,
o cometa dos meus malesafunda,
desarvorado.

Fico ao teu lado.

Cecília Meirelles

sexta-feira, 22 de setembro de 2006

Mais um amor

Escrevi este soneto para um casal de amigos. Ou melhor, para todos. Mas inspirado nestes dois (grandes amigos). Inclusive, foi há pouco que disse, para ela, que tinha dificuldade em escrever e que os rabiscos que saem da minha cabeça, sem exceção, só faz uma rima quando existe inspiração. E elas são sempre as mesmas: O meu amor, dor, saudosismo e/ ou felicidade demais. Neste caso foi um pouco de tudo, exceto dor.

"Se antes a noite parecia a mesma
precisa de encontros iguais
o tempo interveio a tempo
e nos brindou com um encontro a mais
As razões para tanto são aquelas
que ninguém sabe e, nunca, ninguém viu
Esperamos notar uma nota
Uma resposta, dois motivos ou uma falta
Que nos entregue a emoção da derrota
Dos medos nocivos que de nada serviu
Agora de alguns, somos mais
ganhamos do tempo
somamos mais um
As razões? não sabemos
O futuro? queremos
O presente? vivemos
e Inimigos? Nenhum.

Luiz Felipe Angulo Filho - Setembro, 2006

quarta-feira, 20 de setembro de 2006

Mil Perdões

Cada música recebeu as reverências que lhes cabiam: Algumas emocionadas, algumas exaltadas, algumas alegres. Mas quando Chico cantou a primeira frase de "Mil Perdões" talvez tenha decretado unanimidade entre as tribos que o assistiam. Alguns se emocionaram e assobiaram, outros tantos se levantaram e aplaudiram; Alguns choraram e os casais se beijaram.Emoções diferentes, no entanto esta música não passou em branco para quem quer que seja. Lê-la, é bom. Mas recomendo a todos ouvir esta música.

Te perdôo
Por fazeres mil perguntas
Que em vidas que andam juntas
Ninguém faz
Te perdôo
Por pedires perdão
Por me amares demais

Te perdôo
Te perdôo por ligares
Pra todos os lugares
De onde eu vim
Te perdôo
Por ergueres a mão
Por bateres em mim

Te perdôo
Quando anseio pelo instante de sair
E rodar exuberante
E me perder de ti
Te perdôo
Por quereres me ver
Aprendendo a mentir (te mentir, te mentir)

Te perdôo
Por contares minhas horas
Nas minhas demoras por aí
Te perdôo
Te perdôo porque choras
Quando eu choro de rir
Te perdôo
Por te trair

Francisco Buarque de Hollanda

segunda-feira, 18 de setembro de 2006

A Longo Prazo

Este é um perfeito exemplar de um texto atual, escrito por um jornalista atual, dissertanto, com irrevrência, um tema que, em outras mãos, é tão rejeitado. Muito bom!

Assisti a algumas imagens do velório do Bussunda, quando os colegas do Casseta & Planeta deram seus depoimentos. Parecia que a qualquer instante iria estourar uma piada. Estava tudo sério demais, faltava a esculhambação, a zombaria, adesestruturação da cena.Mas nada acontecia ali de risível, era só dor e perplexidade, que é mesmo o que e causa em todos os que ficam.
A verdade é que não havia nada a acrescentar no roteiro: a morte, por si só, é uma piada pronta.Morrer é ridículo.Você combinou de jantar com a namorada, está em pleno tratamento dentário, tem planos pra semana que vem, precisa autenticar um documento em cartório, colocar gasolina no carro e no meio da tarde morre. Como assim? E os e-mails que você ainda não abriu, o livro que ficou pela metade, o telefonema que você prometeu dar à tardinha para um cliente? Não sei de onde tiraram esta idéia: morrer. A troco? Você passou mais de 10 anos da sua vida dentro de um colégio estudando fórmulas químicas que não serviriam pra nada, mas se manteve lá, fez as provas, foi em frente. Praticou muita educação física, quase perdeu o fôlego, mas não desistiu. Passou madrugadas sem dormir para estudar pro vestibular mesmo sem ter certeza do que gostaria de fazer da vida, cheio de dúvidas quanto à profissão escolhida, mas era hora de decidir, então decidiu, e mais uma vez foi em frente...
De uma hora pra outra, tudo isso termina numa colisão na freeway, numa artéria entupida, num disparo feito por um delinqüente que gostou do seu tênis. Qual é? Morrer é um chiste. Obriga você a sair no melhor da festa sem se despedir de ninguém, sem ter dançado com a garota mais linda, sem ter tido tempo de ouvir outra vez sua música preferida. Você deixou em casa suas camisas penduradas nos cabides, sua toalha úmida no varal, e penduradas também algumas contas. Os outros vão ser obrigados a arrumar suas tralhas, a mexer nas suas gavetas, a apagar as pistas que você deixou durante uma vida inteira. Logo você,que sempre dizia: das minhas coisas cuido eu! Que pegadinha macabra: você sai sem tomar café e talvez não almoce, caminha por uma rua e talvez não chegue na próxima esquina, começa a falar e talvez não conclua o que pretende dizer.
Não faz exames médicos, fuma dois maços por dia, bebe de tudo, curte costelas gordas , mulheres e morre num sábado de manhã. Se faz check-up regulares e não tem vícios, morre do mesmo jeito. Isso é para ser levado a sério? Tendo mais de cem anos de idade, vá lá, o sono eterno pode ser bem-vindo. Já não há mesmo muito a fazer, o corpo não acompanha a mente, e a mente também já rateia, sem falar que há quase nada guardado nas gavetas. Ok, hora de descansar em paz. Mas antes de viver tudo, antes de viver até a rapa? Não se faz. Morrer cedo é uma transgressão, desfaz a ordem natural das coisas. Morrer é um exagero. E, como se sabe, o exagero é a matéria-prima das piadas. Só que esta não tem graça. Por isso viva tudo que há para viver.Não se apegue as coisas pequenas e inúteis da Vida...Perdoe....sempre!!!

Pedro Bial

quinta-feira, 14 de setembro de 2006

TSE - Terrorismo da Superficialidade Eleitoral

Há ainda pouco tempo, ou talvez não seja ainda tão recente, mas me lembro claramente de minha isenção a todos e quaisquer assuntos ligados a Política. Ok, excelente compreender quem foram nossos estadistas, quais foram as merdas que fizeram em nosso país e, por que não, termos acesso às coisas boas: A fase das indústrias no Brasil de JK, o Plano Real de FHC e até a abertura dos portos de Collor. Sim, houve coisas boas - poucas, mas existiram. Infelizmente, por conta de motivos maiores que nós, acabamos por nos envolvermos, questionarmos e então atingimos o topo maior do envolvimento político: Reivindicamos.

No entanto, o que está em voga agora são os partidos: Estes clubes de corrupção explícita que até o nome de Deus andam usando em prol da candidatura. Democracia! É este o nome que se dá para nosso sistema, solidário e altruísta que se empenha para oferecer livremente aos eleitores opções. Mas alguém compreende o Sistema Nacional Eleitoral? Há duas ou três eleições, estúpidos usuários da Internet insistem em difundir e-mails afirmando que o voto Nulo é uma boa opção, porque se atingíssemos 51% poderíamos ter cancelamento imediato das candidaturas dos caras... Bom, para um povo que tem um dos maiores índices de analfabetismo do mundo, não é difícil compreender a idiotice - Mas voltando ao nosso Sistema Eleitoral, este que temos e não sabemos; Este que direciona votos para Partidos e não necessariamente para candidatos; Este que só existe em dois lugares do mundo: Brasil e Finlândia; Este sim é a otimização de um "sistema unilateral leonino parcial" (Para não dizer corruptível, imbecil, antiquado, inadequado, tendencioso e por aí vai).

Fiz uma simples pesquisa entre colegas e é quase unânime a ignorância de "como funcionam" as coisas. E às vezes, aconteceu comigo, ainda conheço quem não compreenda sequer o porquê do 2o turno! - Mas também, outra imbecilidade que não tem tamanho! O 2o turno é a efetivação de um sistema sem algum escrúpulo - Digo isso não propriamente pela metodologia, mas pelo apelo. Dizem que isso é democracia para os menos favorecidos e, claro, a percepção deste povo deve ser mesmo que "ganhamos mais uma chance para escolhermos nosso líder "- Nossa, como ele são bons! Viva a Democracia!" - Balela! JK foi eleito com 34% dos votos, longe da maioria exigida atualmente e fez um bom governo; Já Collor e Lula foram eleitos no segundo turno. Ou seja, é extremamente sensato chegarmos a conclusão de que estas pesquisas encomendadas pelos veículos de comunicação (Com o único e exclusivo propósito de comprarem audiência e simpatizantes pela informação), acaba com qualquer alternativa de renovação! Heloisa Helena, por exemplo, não a considero o modelo ideal de uma estadista - apesar de entender que uma mulher no poder poderia nos fazer algum bem - mas quais são as chances que ela tem de ser eleita? Por mais que os números apontem algum crescimento, de acordo com o nosso Sistema Nacional Eleitoral ela precisa da maioria dos votos; Ela precisaria ter um resultado superior a soma de seus adversários políticos - Oras, onde está a democracia? A capacidade de renovação de que este país tanto precisa?

E quando avistamos, mesmo que de longe, alguma possibilidade de renovação, encontramos a coluna de Mônica Bergman na Folha de São Paula do último dia 08 de Setembro, sexta-feira, com um artigo de citações que envolviam a nossa presidenciável. O artigo trazia um depoimento de HH (HH são as iniciais de Heloisa Helena que já começam a surgir em alguns veículos de comunicação. Justo, já que temos FHC, JK, GV, PC Farias...) que dizia assim: "- Eu jamais me deitei ou me deitarei com homem rico! Eu sou de uma outra origem qual eu valorizo e considero, de peito aberto, que homens ricos são podres; São desonestos e enriquecem com dinheiro público e que, na pior das opções poderia alimentar algumas famílias famintas deste país. Eu vomitaria em cima de qualquer homem deste!" - Não me permito discutir o conteúdo deste discurso. Mas, na mesma coluna MB (posso chamar Monica Berman pelas suas inicias, certo?) trouxe um outro depoimento, na seqüência, de Luiz Estevão - O mafioso, e ex-senador, acusado de formação de quadrilha, uso de documentos falsos e corrupção passiva - curiosamente, rico - E que segundo dizem as más línguas, teve lá suas relações íntimas com HH em um passado não tão distante. Quando perguntado sobre a declaração da então Senadora Heloísa, ele respondeu "- Não sei se ela vomitou, mas sei que ela engoliu." - Estes são nossos políticos: Coerentes, precisos, adequados e eficientes.

Bom, então o que temos? Um sistema confuso e uma matilha de candidatos das mais diversas tribos, todos dispostos à assumir algum cargo público. Agora alguém ainda fala de Ideologia? Tenho por mim que em época de eleição o que deveríamos discutir é isso! - E Vejam como o assunto é extenso: Sistema, Candidatos, Ideologia - Não é à toa que hoje temos especialistas em Ciência Políticas e o "escambal"- Por isso me sinto um idiota quando em 6 segundos ouço um candidato qualquer se apresentar no horário político e pedir meu voto - Afinal, ainda temos esquerda? Há pouco tempo ouvi falar de "centro-esquerda"? Mas que diabo é isso? Quero dizer, o sujeito é Corinthiano, mas em alguns jogos torce fervorosamente pelo Palmeiras? Não se fala mais em ideologia. Fala-se em soluções e no máximo em reformas, de todos os tipos: Tributárias, Políticas, Econômicas. Mas somos um país sem ideologia, sem idéias. A imensidão do Brasil, nossas riquezas, nosso povo e tudo o mais não entram mais em discussão. Estamos na era do "enganar os trouxas"; Providenciem-me um bom terno, um discurso abrangente, coeso reunindo todos os principais problemas da nação, descrito na linguagem do povo - o qual eu só vou ler na hora, em cima de um púlpito da República e ao lado na Bandeira Nacional - Alguma maquiagem, duas ou três figuras para falarem ao meu favor e vamos disputar o poder. Ideologia? Não, obrigado.

Luiz Felipe Angulo Filho

Dois amigos

Hoje, eu queria fazer um soneto
dar um presente, uma idéia afinal
Por que és meu amigo atuante
E por que és minha amiga ideal

Ele prefere a dúvida.
(Daquelas que sabemos não ter)
Não se aprofunda na opção da conquista.
Conquista! Mas fazendo de conta de nada saber

Ela de nome Maria,
de graça infinita e de charme demais
Tambem se aproveita, com todo respeito,
Do mesmo deleito a procura da paz.

Quando estão juntos se alternam nos dias
De domingo me permito ser sua:
sem pejo, me entrego talvez
Peço com gestos que me aceite
E que assuma este romane de vez!
Já quando de novo,
Ele compreende e se empenha ao sinal
Se insunua como um amigo importante
Buscando ser visto como um caso real.

A verdade é que temos um encontro.
De um desencontro que persiste em ficar:
Ela, é demais delicada
E ele, é melhor não falar...

Eu quis escrever um soneto
Um presente sincero, sem jeito e sem par.
E já que nem tudo que queremos ganhamos,
Entendemos que o nosso, merecemos ganhar.

Luiz Felipe Angulo Filho -Para dois amigos muito especiais

quarta-feira, 6 de setembro de 2006

Reverência ao Destino

Falar é completamente fácil, quando se tem palavras em mente que expressem sua opinião.
Difícil é expressar por atitudes e gestos o que realmente queremos dizer, quanto queremos dizer, antes que a pessoa se vá.
Fácil é julgar pessoas que estão sendo expostas pelas circunstâncias.
Difícil é encontrar e refletir sobre os seus erros, ou tentar fazer diferente algo que já fez muito errado.
Fácil é ser colega, fazer companhia a alguém, dizer o que ele deseja ouvir.
Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso. E com confiança no que diz.
Fácil é analisar a situação alheia e poder aconselhar sobre esta situação.
Difícil é vivenciar esta situação e saber o que fazer. Ou ter coragem pra fazer.
Fácil é demostrar raiva e impaciência quando algo o deixa irritado.
Difícil é expressar o seu amor a alguém que realmente te conhece, te respeita e te entende. E é assim que perdemos pessoas especiais.
Fácil é mentir aos quatro ventos o que tentamos camuflar.
Difícil é mentir para o nosso coração.
Fácil é ver o que queremos enxergar.
Difícil é saber que nos iludimos com o que achávamos ter visto. Admitir que
nos deixamos levar, mais uma vez, isso é difícil.
Fácil é dizer " oi " ou " como vai ? "
Difícil é dizer "adeus". Principalmente quando somos culpados pela partida de alguém de nossas vidas...
Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados.
Difícil é sentir a energia que é transmitida. Aquela que toma conta do corpo, como uma corrente elétrica, quando tocamos a pessoa certa.
Fácil é querer ser amado.
Difícil é amar completamente só. Amar de verdade, sem ter medo de viver, sem ter medo do depois. Amar e se entregar. E aprender a dar valor somente a quem te ama.
Fácil é ouvir a música que toca.
Difícil é ouvir a sua consciência. Acenando o tempo todo, mostrando nossas escolhas erradas.
Fácil é ditar regras.
Difícil é seguí-las. Ter a noção exata de nossas próprias vidas, ao invés de ter noção das vidas dos outros.
Fácil é perguntar o que se deseja saber.
Difícil é estar preparado para escutar esta resposta. Ou querer entender a resposta.
Fácil é chorar ou sorrir quando der vontade.
Difícil é sorrir com vontade de chorar ou chorar de rir, de alegria.
Fácil é dar um beijo.
Difícil é entregar a alma. Sinceramente, por inteiro.
Fácil é sair com várias pessoas ao longo da vida.
Difícil é entender que somente uma vai te aceitar como você é e te fazer feliz por inteiro.
Fácil é ocupar um lugar na caderneta telefônica.
Difícil é ocupar o coração de alguém. Saber que se é realmente amado.
Fácil é sonhar todas as noites.
Difícil é lutar por um sonho.
Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata.


Carlos Drummond de Andrade

domingo, 3 de setembro de 2006

Anel de Vidro

Eu gosto muito de Manuel Bandeira. Não sou um especialista, nem tão pouco conheço todas suas obras. Mas conheço sua história e textos de mensagens precisas de sua autoria. Tenho por mim, que uma das coisas que melhor posso fazer é dividir coisas boas com todos os usuários (ou curiosos) deste blog. Portanto, não uso, hoje, algo que fale de mim de meu momento, mas sim uma poesia que faz parte da obra de um de nossos principais pensadores.

Aquele pequenino anel que tu me deste,
– Ai de mim – era vidro e logo se quebrou…
Assim também o eterno amor que prometeste,
- Eterno! era bem pouco e cedo se acabou.

Frágil penhor que foi do amor que me tiveste,
Símbolo da afeição que o tempo aniquilou,
–Aquele pequenino anel que tu me deste,
– Ai de mim – era vidro e logo se quebrou…

Não me turbou, porém, o despeito que investe
Gritando maldições contra aquilo que amou.
De ti conservo no peito a saudade celeste…
Como também guardei o pó que me ficou
Daquele pequenino anel que tu me deste…

Manuel Bandeira

domingo, 27 de agosto de 2006

O Casal Perfeito

Durante esta semana, o que é muito bom, recebi uma série de textos e indicações para postagem no blog. Mais uma vez opto por um texto que fala de relacionamento que vale muito a pena ler. O texto é de Lya Luft, quem escreveu dois livros que ficaram entre os mais vendidos por meses nos últimos anos, dando continuidade a esta fase de textos e artigos e agradecedo mais uma vez a Roberta, pelos textos semanais.

A solidão dos homens tem a medida da solidão de suas mulheres. Isso eu
disse e escrevi - e repito - em dezenas de palestras por este país afora.
Aí me pedem para escrever sobre o casal perfeito: bom para quem gosta de
desafios.
O casal perfeito seria o que sabe aceitar a solidão inevitável do ser
humano, sem se sentir isolado do parceiro - ou sem se isolar dele? O casal
perfeito seria o que entende, aceita, mas não se conforma, com o desgaste
de qualquer convívio e qualquer união?
Talvez se possa começar por aí: não correr para o casamento, o namoro, o
amante (não importa) imaginando que agora serão solucionados ou suavizados
todos os problemas - a chatice da casa dos pais, as amigas ou amigos
casando e tendo filhos, a mesmice do emprego, chegar sozinha às festas e
sexo difícil e sem afeto.
Não cair nos braços do outro como quem cai na armadilha do "enfim nunca
mais só!", porque aí é que a coisa começa a ferver. Conviver é enfrentar o
pior dos inimigos, o insidioso, o silencioso, o sempre à espreita, o
incansável: o tédio, o desencanto, esse inimigo de dois rostos.
Passada a primeira fase de paixão (desculpem, mas ela passa, o que não
significa tédio nem fim de tesão), a gente começa a amar de outro jeito.
Ou a amar melhor; ou, aí é que a gente começa a amar. A querer bem; a
apreciar; a respeitar; a valorizar; a mimar; a sentir falta; a conceder
espaço; a querer que o outro cresça e não fique grudado na gente.
O cotidiano baixa sobre qualquer relação e qualquer vida, com a poeira do
desencanto e do cansaço, do tédio. A conta a pagar, a empregada que não
veio, o filho doente, a filha complicada, a mãe com Alzheimer, o pai
deprimido ou simplesmente o emprego sem graça e o patrão de mau humor.
E a gente explode e quer matar e morrer, quando cai aquela última gota -
pode ser uma trivialíssima gota - e nos damos conta: nada mais é como era
no começo.
Nada foi como eu esperava. Não sei se quero continuar assim, mas também não
sei o que fazer. Como a gente não desiste fácil, porque afinal somos
guerreiros ou nem estaríamos mais aqui, e também porque há os filhos, os
compromissos, a casa, a grana e até ainda o afeto, é preciso inventar um
jeito de recomeçar, reconstruir.
Na verdade devia-se reconstruir todos os dias. Usar da criatividade numa
relação. O problema é que, quando se fala em criatividade numa relação, a
maioria pensa logo em inovações no sexo, mas transar é o resultado, não o
meio. Um amigo disse no aniversário de sua mulher uma das coisas mais belas
que ouvi: "Todos os dias de nosso casamento (de uns 40 anos), eu te escolhi
de novo como minha mulher".
Mas primeiro teríamos de nos escolher a nós mesmos diariamente. Ao menos de
vez em quando sentar na cama ao acordar, pensar: como anda a minha vida ! ?
Quero continuar vivendo assim? Se não quero, o que posso fazer para
melhorar? Quase sempre há coisas a melhorar, e quase sempre podem ser
melhoradas. Ainda que seja algo bem simples; ainda que seja mais
complicado, como realizar o velho sonho de estudar, de abrir uma loja, de
fazer uma viagem, de mudar de profissão.
Nós nos permitimos muito pouco em matéria de felicidade, alegria,
realização e sobretudo abertura com o outro. Velhos casais solitários ou
jovens casais solitários dentro de casa são terrivelmente tristes e
terrivelmente comuns. É difícil? É difícil. É duro? É duro. Cada dia,
levantar e escovar os dentes já é um ato heróico, dizia Hélio Pellegrino.
Viver é um heroísmo, viver bem um amor mais ainda.
O casal perfeito talvez seja aquele que não desiste de correr atrás do
sonho de que, a pesar dos pesares, a gente, a cada dia, se escolheria
novamente, e amém.


Lya Luft

quinta-feira, 24 de agosto de 2006

Cilcos que terminam

Assim como este blog teve uma fase de sonetos e poesias, parece-me que agora entro na fase de artigos. Na verdade, por mais desordenado que possa parecer, não sou exatamente eu quem escolhe todos os textos, eles me vem: Me encaminham, ouço um trecho e vou atrás de todo o resto e, algumas poucas vezes, efetivamente trago algo que estava na minha cabeça e, como já disse, tem a ver com algo da minha vida. Extraordinariamente hoje, não trago com o texto os créditos do autor (não sei quem escreveu), mas agradeço a Roberta pela lembrança!


Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final. Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver. Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos, não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram. Foi despedido do trabalho? Terminou uma relação? Deixou a casa dos pais? Partiu para viver em outro país? A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações? Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu. Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem subitamente transformadas em pó. Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: seus pais, seu marido ou sua esposa, seus amigos, seus filhos, sua irmã, todos estarão encerrando capítulos, virando a folha, seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que você está parado. Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco. O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar. As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora. Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja!) destruir recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que tem. Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está acontecendo em nosso coração e o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar. Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se. Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos, e às vezes perdemos. Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que entendam seu amor. Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa, que mostra como você sofreu com determinada perda: isso o estará apenas envenenando-o, e nada mais. Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceitos, promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome do "momento ideal". Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará. Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, sem aquela pessoa, nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade. Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante. Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida. Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é.

Revista do jornal O Globo do dia 22/8/04

segunda-feira, 21 de agosto de 2006

"Evite ser traído", por Arnaldo Jabor

Na última semana fiquei feliz por ter encontrado um texto de Chico Buarque, escrito quando ele tinha apenas 19 anos. Aliás, não são tão raros - pesquisando pela internet achamos com facilidade - Para hoje, reservei um texto que recebi de uma grande amiga assinado por Arnaldo Jabor, outro por quem reservo admiração. Talvez seja a minha primeira postagem que carregue consigo um tempero de humor, mas um humor consciente; Como uma conversa entre um tio mais experiente e um menino novo. Enfim, me agradou.

"Às amigas e amigos modernos.
Não deixem de ler: - Para as mulheres, uma verdade!
Para os homens, a realidade!
Você homem da atualidade, vem se surpreendendo diuturnamente com o "nível"
intelectual, cultural e, principalmente, "liberal" de sua mulher,
namorada etc...
As vezes sequer sabe como agir, e lá no fundinho tem aquele medo de ser
traído - ou nos termos usuais - "corneado". Saiba de uma coisa...
Esse risco é iminente, a probabilidade disso acontecer é muito grande,
e só cabe a você, e a ninguém mais evitar que isso aconteça - ou então
- assumir seu "chifre" em alto e bom som.
Você deve estar perguntando porque eu gastaria meu precioso tempo
falando sobre isso. Entretanto, a aflição masculina diante da traição
vem me chamando a atenção já há tempos.Mas o que seria uma "mulher moderna"?
A principio seria aquela que se ama acima de tudo, que não perde (e nem
tem) tempo com/para futilidades, é aquela que trabalha porque acha que
o trabalho engrandece, que é independente entimentalmente dos outros,
que é corajosa companheira, confidente, amante...É aquela que as vezes
tem uma crise súbita de ciúmes mas que não tem vergonha nenhuma em
admitir que está errada e correr pros seus braços... É aquela que
consegue ao mesmo tempo ser forte e meiga, desarrumada e linda...
Enfim, a mulher moderna é aquela que não tem medo de nada nem de
ninguém, olha a vida de frente, fala o que pensa e o que sente, doa a quem doer...
Assim, após um processo "investigatório" junto a essas "mulheres modernas" pude constatar o pior.
VOCÊ SERÁ (OU É???) "corno", ao menos que:
- Nunca deixe uma "mulher moderna" insegura. Antigamente elas choravam.
Hoje elas simplesmente traem, sem dó nem piedade.
- Não ache que ela tem poderes "adivinhatórios". Ela tem de saber - da
sua boca - o quanto você gosta dela.
Qualquer dúvida neste sentido poderá levar às conseqüências expostas acima.
- Não ache que é normal sair com os amigos (seja pra beber, pra jogar
futebol) mais do que duas vezes por semana, três vezes então é assinar
atestado de "chifrudo". As "mulheres modernas" dificilmente andam
implicando com isso, entretanto elas são categoricamente "cheias de
amor pra dar" e precisam da "presença masculina". Se não for a sua meu amigo...
Bem...- Quando disser que vai ligar, ligue, senão o risco dela ligar pra
aquele ex bom de cama é grandessíssimo.
- Satisfaça-a sexualmente. Mas não finja satisfazê-la. As "mulheres
modernas têm um pique absurdo com relação ao sexo e, principalmente dos
20 aos 38 anos, elas pensam - e querem - fazer sexo TODOS OS DIAS
(pasmem, mas é a pura verdade)... Bom, nem precisa dizer que se não for com você...
- Lhe dê atenção. Mas principalmente faça com que ela perceba
isso.Garanhões mau (ou bem) intencionados sempre existem, e estes
quando querem são peritos em levar uma mulher às nuvens. Então, leve-a
você, afinal, ela é sua ou não é????
- Nem pense em provocar "ciuminhos" vãos. Como pude constatar, mulher
insegura é uma máquina colocadora de chifres.
- Em hipótese alguma deixe-a desconfiar do fato de você estar saindo
com outra. Essa mera suposição da parte delas dá ensejo ao um "chifre"
tão estrondoso que quando você acordar, meu amigo, já existirá alguém
MUITO MAIS "comedor" do que você...só que o prato principal,
bem...dessa vez é a SUA mulher.
- Sabe aquele bonitão que, você sabe, sairia com a sua mulher a qualquer hora?Bem...
de repente a recíproca também pode ser verdadeira.
Basta ela, só por um segundo, achar que você merece... Quando você reparar.. já foi.
- Tente estar menos "cansado". A "mulher moderna" também trabalhou o
dia inteiro e, provavelmente, ainda tem fôlego para - como diziam os
homens de antigamente - "dar uma", para depois, virar do lado e simplesmente dormir.
- Volte a fazer coisas do começo da relação. Se quando começaram a sair
viviam se cruzando em "baladas", "se pegando" em lugares inusitados,
trocavam e-mails ou telefonemas picantes, a chance dela gostar diss o é
muito grande, e a de sentir falta disso então é imensa. A "mulher moderna"
não pode sentir falta dessas coisas...senão..
Bem amigos, aplica-se, finalmente, o tão famoso jargão "quem não dá
assistência, abre concorrência e perde a preferência". Deste modo, se
você está ao lado de uma mulher de quem realmente gosta e tem plena
consciência de que, atualmente o mercado não está pra peixe (falemos de
qualidade), pense bem antes de dar alguma dessas "mancadas"...
proteja-a, ame-a, e principalmente, faça-a saber disso. Ela vai pensar
milhões de vezes antes de dar bola pra aquele "bonitão" que vive
enchendo-a de olhares... e vai continuar, sem dúvidas, olhando só pra você!!!
Quem não se dedica se complica."


Arnaldo Jabor

quinta-feira, 17 de agosto de 2006

Brigas...E Depois?

Naturalmente o exercício de trazer coisas para o Blog que coinscidam com minha realidade atual, não é algo fácil. Talvez até incompleto, já que deixaria de trazer tantas outras coisas que, se não me fazem sentido agora, já me fizeram ou fazem sempre.
Este texto abaixo foi um artigo publicado por Chico Buarque em Maio de 1963. Achei-o em alguma pesquisa e agora trago-o para cá. Não é um poema, letra de música ou cordel, mas é um texto cotidiano; Que questiona e alerta-nos sobre o tempo que podemos perder e/ou o tempo que não podemos perder.


"Eram meras questões de minutos. E o encontro dos namorados mais parecia um duelo de ciúmes.
— Você chega sempre atrasado.

— É, sei. E ontem, quem é que ficou aqui esperando, que nem um pateta?

— Ah, eu só atrasei dois minutos. Hoje você atrasou dez.

— Você é que chegou adiantada. Mas deixa que qualquer desses dias eu descubro o que você tanto faz, que nunca chega na hora certa.

E as discussões se sucediam, sem pé nem cabeça. Mas ciúmes são cegos como o próprio amor. São sentimentos mesquinhos, minuciosos, não esquecem a insignificância dos mínimos segundos. As batidas do coração jamais deveriam se escravizar aos tiquetaques desencontrados de dois relógios diferentes.

A verdade, porém, é que eram ambos loucos, um pelo outro, e seus corações acabavam por se entender, num ritmo comum de compreensão. E as hostilidades descansavam invariavelmente em beijinhos e mil perdões.

— Desculpe, viu, amor?

— Que nada, meu bem, a culpa foi toda minha.

— Não, eu é que fiquei nervosa.

— Deixa disso, eu banquei o bruto.

Por pouco não voltavam a discutir.

Assim correram muitos meses e muitas, muitas brigas, e os dois não chegavam a um acordo. Mas a vida tem dessas coisas. Quando se dá conta, a felicidade já é irremediavelmente retrato na parede, cartinha na gaveta, passando.

Alguns anos mais tarde, ela se casava com um rapaz bonito, tipo galã da Metro. Viveram em harmonia, sem brigas, sem discussões, talvez por falta de imaginação do atlético marido.

Por outro lado, o antigo namorado da adolescência não tardou a se apaixonar pelo lindo dote de uma mocinha que era um tesouro, filha de próspero industrial. Embora se tratasse de uma menina meio café-com-leite, sua herança lhe dava um quê de exótico. Alimentava por ela uma intensa, excêntrica paixão, enquanto que o bonachão rodava com seu Rolls-Royce, jogava em Monte Carlo e repousava em seu iate transatlântico. E numa atitude de misericórdia, suportava, geralmente, como um senhor onipotente, os carinhos milionários da esposa.

Muito tempo depois, porém, por um desses acasos que só o destino sabe explicar, os dois antigos namorados se encontravam nas areias de Copacabana, que é a praia onde todos vão. Já não eram os mesmos. Ele parecia carregar os milhões matrimoniais na respeitável barriga. Ela continuava encantadora, mas apenas na medida que possa encantar uma mulher de cinqüenta anos. Conversaram pouco, o silêncio disse mais. E voltaram a se encontrar, com mais freqüência e menos acaso. Já eram, no entanto, velhos demais para as inflamadas e inúteis discussões dos dezessete anos. Caminhavam calmamente pela areia molhada, mão na mão, por mais ridículo que possa parecer para a sua idade. Caminhavam sem rumo, sem tempo, sem horizonte. E quando se voltavam, sentiam a nostalgia da vida perdida em poucos minutos
. "

Chico Buarque, 1963

segunda-feira, 14 de agosto de 2006

Para viver um grande amor

Hoje o texto não poderia ser diferente. O blog é um exercício de reflexão pessoal e também um canal de exposição, multiplicação e extroversão de sentimentos, acontecimentos e sentidos. Tenho por mim que grande parte de nossas coisas, as quais nos trazem desconforto, solidão e medo é a falta do conhecimento de como viver um grande amor. Seja com uma mulher, com um amigo e, principalmente, nós com a gente mesmo.

Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor.Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.

Vinícius de Moraes