quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Soneto

Dei-me discutindo com uma boa e letrata amiga sobre composições de alguns sonetos os quais eu mesmo assinava autoria. Sei que os sonetos foram para mim os primeiros contatos com a poesia, mais precisamente os sonetos de Vinícius; Alguns ainda lembro de cor... De qualquer forma, a questão que levantamos não referia-se ao conteúdo mas, sim, a estrutura de um soneto! Vi que, muitas vezes (a maioria) eu pecava em sílabas a mais ou a menos; Errava também nas rimas as quais não seguiam a arquitetura proposta, entre outras coisas. A questão é que encontrei regras (no número de sílabas, número de linhas, nas estrófes, nas rimas) e, depois disso, passei tirar a prova de alguns sonetos (ver se os caras conheciam esta estrutura): A maioria correspondia. Camões, impecável; Vinícius, Chico Buarque (Soneto), Ariano Suassuna... Todos eles. E, hoje, encontrei mais um. Soneto de conteúdo nenhum, mas rigorosamente dentro da arquitetura de um legítimo Soneto. Boa leitura!
...

Penicilina puma de casapopéia
Que vais peniça cataramascuma
Se parte carmo tu que esperepéia
Já crima volta pinda cataruma.

Estando instinto catalomascoso
sem ter mavorte fide lastimina
és todavia piso de horroroso
e eu reclamo - Pina! Pina! Pina!

Casa por fim, morre peridimaco
martume ezole, ezole martumar
que tua para enfim é mesmo um taco.

e se rabela capa de casar
estrumenente siba postguerra
enfim irá, enfim irá pra serra.

Millôr Fernandes

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Os meus amigos

Há tempos que não atualizo este espaço. Isso não quer dizer, de forma alguma, que não tenho passado por aqui. Estou sempre por aqui, lendo as mensagens, respondendo aos e-mails e tudo mais. Infelizmente, deixei de trazer para cá (ao menos por estes tempos) os últimos textos que recebi; - Inclusive agradecimento especial a quem tem me enviado - E como medida permanente (..até porque eu não estou nem aí para as provisórias), trago um texto especial que me chegou às mãos pela pessoa mais especial que um dia pode existir para mim: minha mãe.
O texto é assinado por Oscar Wilde. Normalmente, em casos como este, eu me proponho a investigar para conferir o crédito do texto. Mas gostei tanto, me fez tão sentido, que tenho medo de encontrar um autor que eu desconheça e perca um pouco do que há de credibilidade em um autor como Oscar. Assim, não trago assinatura, só o conteúdo.
Boa leitura!
...
Escolho meus amigos não pela pele ou outro
aspecto qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e
tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus
de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não
quero resposta, quero eu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e
agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco. Escolho
meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta.
Não quero só o ombro ou o
colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto não sabe sofrer
junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis nem choros piedosos.
Quero amigos sérios,
daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam!
Para
que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice.
Crianças, para que não
esqueçam o valor do vento no rosto e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos,
bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é
uma ilusão imbecil e estéril.