sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

:: Diário de acertos não cometidos

Ah! Quantos segredos eu tenho
em dizer ao mundo que ja sei
Errei, pois sabia que errava
Amava, pois sabia que amei
...
Rapazes de todo tempo,
Animosos em optar pela dúvida
Inconsequentes por saber:
Tragam-me papéis e descrevo-te
por sempre, com todos delitos
que irei cometer
Eu, apenas. Por mim, apenas.
...
Sobrevive em nós o sempre
esvaeceu-se no tempo a razão
que precipita o fim das histórias
e ignora o poder da emoção
...
De todos no mundo, somos diversos
convivendo entre a fome e o mundo real
Apresenta-se sob mim o desígno
contundente, insistente e benígno
Pouco. Desigual.
...
Temos olhos de espécie distintas
Entre todos, sabemos que somos
modestos, decentes, diferentes de um
Somos mais - Somos pouco
Não um para o outro,
nem pra ódio nenhum.
...
Entre a história percorre o ensejo
o que escrevo sobrevive, conduz
já o que penso distrói-nos, seduz
Somos pouco, pouco tempo.
De história imperfeita e enredo algum
Somos livres e por dizer incompletos
não um para o outro, mas o um pelo um.
...
Luiz Felipe Angulo Filho

terça-feira, 26 de dezembro de 2006

Todo o Sentimento

Em 2006 o blog foi, pra mim, uma grande surpresa. Além de um refúgio particular, pude receber, aqui, amigos e desconhecidos que interagiram comigo das mais diversas formas: e-mails, posts e para os mais próximos até telefonemas. Obrigado! Em 2007, espero continuar essa interação. Pretendo priorizar as prosas de alegria, cantadas - mas enquanto isso, preciso ir de favor com duas coisas - Meu sentimento pessoal e minha própria satisfação de citar Chico, mais uma vez. Boa leitura, mas esta (abaixo) precisa mesmo é ser ouvida...

Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo

Da gente
Preciso conduzir
Um tempo de te amar
Te amando devagar
E urgentemente

Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez
Que recolhe todo o sentimento
E bota no corpo uma outra vez
Prometo te querer
Até o amor cair
Doente, doente

Prefiro então partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente
Depois de te perder
Te encontro, com certeza
Talvez num tempo da delicadeza
Onde não diremos nada
Nada aconteceu
Apenas seguirei, como encantado
Ao lado teu

Chico Buarque

terça-feira, 19 de dezembro de 2006

:: Incoerência Disputa

E antes que se tornasse real
o vazio esvaziou-se de presença
Gritos de um silêncio seguido,
fez-se do rancor a ausência
...
Ecoa sobre, e sob, mim um ruído
de faces ocultas liberto do mal
Encontro no retorno a franqueza
de mim, solitária, sem sua soma total.
...
Desfaço-me do presente perfume,
que de antes floria um cenário pungente
Com frações de censura e vestígios de dor
...
Desfaço-me do rotineiro costume
Encontro-me, por ora, dolente
com a coerência ferida de doença do amor.
...
Luiz Felipe Angulo Filho

segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Soneto da Separação

Passeando pelos campos da poesia, conheci novos poetas, letrístas. Pessoas de todos os tipos, homens e mulheres, claro, sempre cheios de conteúdo: Ninguém fala da vida como Drummond, que descreve em poesia seus caminhos da maturidade, de sua evolução; Não há quem se lamente como Bandeira, que inventou um mundo só seu e que tantos se encontram. E também não conheço quem fale com mais propriedade e beleza dos relacionamentos da vida do que Vinícius.

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da alma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Vinícius de Moraes

sexta-feira, 1 de dezembro de 2006

:: Assunto

Em que universo vivem as pessoas,
não na Terra onde apenas existem?
Qual cobiça maior molesta-nos, mata
Seguimos inertes evadindo a razão,
que circunda o mar de respostas azúis.
Completas, reais e oníricas - as mesmas

Em qual universo estão as pessoas,
não na Terra onde desejam brincar.
Disputo em saber quais serão os vivos,
Os que andam, os que correm?
Os que esperam? Os que fogem?

Victor Angulo