quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Juca Pirama, parte XIII

As inspirações que tive... Um minuto, permitam-me voltar um pouco. Há muito disso no que somos, sim? Refiro-me aos gostos, motes de interesse - sejam músicais, poéticos, líricos e /ou até profissionais. As questões que nos rondam são resultado do que somos expostos, muito na infância, imagino. Há, também, o que é nosso por herança genética: Alguma espécie de gérmem que nos frazem propensão aos interesses que temos. As inspiraões que tive (agora retomo) em torno da poesia foram muitas. Minha mãe e avós maternos, apreciam; Minha avó, inclusive, vivia uma poesia, tal qual um poema: Sublinahava linhas de Pessoa que mais tarde cairam-me ao regaço; E a familia de papai sempre muito culta, pouco simpática, no entanto culta. E, além da falta de humor, algo que cresci ouvindo semanalmente foi esta passagem abaixo de Golçalves Dias, que, acreditem, não escreveu apenas a "Canção do Exílio". E assim, dispeço-me deste ano, agradeço aos que me acompanham, aos e-mails e contatos, às referências em outros blogs e desejo "poesia" à todos, em todos os momentos.
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VIII – Juca Pirama

Tu choraste em presença da morte?
Na presença de estranhos choraste?
Não descende o cobarde do forte;
Pois choraste, meu filho não és!
Possas tu, descendente maldito
De uma tribo de nobres guerreiros,
Implorando cruéis forasteiros,
Seres presa de vis Aimorés.
“Possas tu, isolado na terra,
Sem arrimo e sem pátria vagando,
Rejeitado da morte na guerra,
Rejeitado dos homens na paz,
Ser das gentes o espectro execrado;
Não encontres amor nas mulheres,
Teus amigos, se amigos tiveres,
Tenham alma inconstante e falaz!
“Não encontres doçura no dia,
Nem as cores da aurora te ameiguem,
E entre as larvas da noite sombria
Nunca possas descanso gozar:
Não encontres um tronco, uma pedra,
Posta ao sol, posta às chuvas e aos ventos,
Padecendo os maiores tormentos,
Onde possas a fronte pousar.
“Que a teus passos a relva se torre;
Murchem prados, a flor desfaleça,
E o regato que límpido corre,
Mais te acenda o vesano furor;
Suas águas depressa se tornem,
Ao contacto dos lábios sedentos,
Lago impuro de vermes nojentos,
Donde festas como asco e terror!
“Sempre o céu, como um teto incendido,
Creste e punja teus membros malditos
E o oceano de pó denegrido
Seja a terra ao ignavo tupi!
Miserável, faminto, sedento,
Manitôs lhe não falem nos sonhos,
E do horror os espectros medonhos
Traga sempre o cobarde após si.
“Um amigo não tenhas piedoso
Que o teu corpo na terra embalsame,
Pondo em vaso d’argila cuidoso
Arco e frecha e tacape a teus pés!
Sé maldito, e sozinho na terra;
Pois que a tanta vileza chegaste,
Que em presença da morte choraste,
Tu, cobarde, meu filho não és.


Gonçalves Dias