Muito embora já tenha alguma compreensão da imprevisível influência do tempo (em tudo), ainda surpreendo-me com os dias que nos passam. Assim como surpreendo-me com as riquezas infindas que a literatura me trás. Com calma, sinto que sou capaz de explicar-me por meio de linhas bem escritas; Por meio de letras do Chico, Sonetos de Vinícius, Prosas de Pessoa e Poemas de Drummond. Eis, abaixo, uma nova (para mim) e expoente poema de Carlos:
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Amor e Seu tempo
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Amor é privilégio de maduros
Estendidos na mais estreita cama,
Que se torna a mais larga e mais relvosa,
Roçando, em cada poro, o céu do corpo.
É isto, amor: o ganho não previsto,
O prêmio subterrâneo e coruscante,
Leitura de relâmpago cifrado,
Que, decifrado, nada mais existe
Valendo a pena e o preço do terrestre,
Salvo o minuto de ouro no relógio
Minúsculo, vibrando no crepúsculo.
Amor é o que se aprende no limite,
Depois de se arquivar toda a ciência
Herdada, ouvida. amor começa tarde.
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Carlos Drummond de Andrade