segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Soneto da Separação

Passeando pelos campos da poesia, conheci novos poetas, letrístas. Pessoas de todos os tipos, homens e mulheres, claro, sempre cheios de conteúdo: Ninguém fala da vida como Drummond, que descreve em poesia seus caminhos da maturidade, de sua evolução; Não há quem se lamente como Bandeira, que inventou um mundo só seu e que tantos se encontram. E também não conheço quem fale com mais propriedade e beleza dos relacionamentos da vida do que Vinícius.

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da alma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Vinícius de Moraes