quarta-feira, 26 de julho de 2006

Livramento do Brumado

Tive um saxofone por certa vez - Gostava, e gosto, do instrumento: considero-o único, símbolo máximo da boa música - Mas com a mesma velocidade que tive, o vendi. E foi fácil! Meia dúzia de palavras diretas como “vendo Saxofone tal, marca x, cor prata”, veiculado no lugar certo em pouco mais de dois dias me procuraram: “- Alo, é você que está vendendo um Saxofone? Eu estou procurando um para comprar....” – Em 7 minutos tínhamos feito negócio. Eu de São Paulo, sem conhecer o sujeito, ele do interior da Bahia de uma cidade chamada Livramento do Brumado, sei lá há quantos quilômetros de Salvador. Bem, mas como eu queria vender e ele queria comprar, fizemos negócio. Simples assim.

Não muito distante disso havia uma outra história. Os protagonistas eram um sujeito que procurava carinho, amor, buscava com entusiasmo a paz e reunia poesias para entregar a uma mulher que as recebesse saciada; E uma mulher, de uma cidade próxima, que buscava receber carinho, amor, buscava com entusiasmo a paz e ansiosa por poesias. E, assim como encontrei o cidadão de Livramento do Brumado, eles se encontraram.

Rapidamente as coisas se ajeitaram. Quero dizer, rápido se comparado com a proporção desta relação – Trata-se de uma vida, afinal, eles se encontraram, ou não? Ele dava carinho, ela recebia; Ela dava carinho, ele recebia. O amor em pouco tempo apareceu, antes era um palpite, no entanto ganhou vida! Cresceu, se fortaleceu, virou amor. Então vieram as poesias, na hora certa, para não parecer exaltação exagerada. E boas poesias! Algumas, inclusive, musicadas. E, por fim, a paz, que mesmo hesitante e em hora alguma consolidada, apareceu - Um encontro, não uma discordância. Retas paralelas, não transversais.

E foi assim, imbuídos das mesmas aspirações, de desejos os mesmos, que, então, se separaram. Ela reivindicava carinho; Ele acreditava dar... Ele reivindicava carinho, ela aguardava receber para então ser carinhosa. Ele insistia em reaver as poesias, ela já não queria escutar. Ela acreditava no amor, ambiciosa pela vida; Ele também. O amor, existia – será? – Sim, existia. De alguma forma ou dentro de alguma definição. Contudo, ainda não havia a paz, pois, para que assim fosse, haveria de ter aspirações em comum entre as personagens – mas não era assim? Tal como o cidadão de Livramento do Brumado, que buscava um saxofone e o outro (eu) queria vender.

Passados alguns anos, discordaram. Ela e ele. Seguiram suas vidas, afastados, cheia de expectativas e valores os mesmos. Abandonaram o acordo do encontro, em favor de renovarem suas buscas: Ele agonizava carinho, amor, afoito pela paz, buscando poesias para entregar a uma mulher que as recebesse saciada; Ela também.


Luiz Felipe Angulo Filho, 26/07/2006