quinta-feira, 10 de maio de 2007

Quando Eu :: Fernando Pessoa

Sei muito pouco ou, melhor, conheço pouco de Caieros. Às vezes, na verdade, tenho textos de Pessoa mas não sei ao certo se foi ajudado por Alvaro ou Reis; A verdade é que, pelo pouco que sei, Caeiro é o mestre dos heterônimos de Pessoa. Mas, ao mesmo tempo, parece-me que se trata de uma versão menos filosófica, ele afirma que "pensar retira a visão" - Conlcuindo, Caeiro trás nesta poesia algumas verdades que o próprio pessoa rejeitou - ou disse o contrário. É muita esquizofrenia junta, muita genialidade. É por isso que é completo: Ele ao mesmo tempo que vive, pode dizer que está morto. E depois de morto, ainda pode dizer que está vivo...


Quando Eu

Quando eu não te tinha
Amava a Natureza como um monge calmo a Cristo.
Agora amo a Natureza
Como um monge calmo à Virgem Maria,
Religiosamente, a meu modo, como dantes,
Mas de outra maneira mais comovida e próxima ...
Vejo melhor os rios quando vou contigo
Pelos campos até à beira dos rios;
Sentado a teu lado reparando nas nuvens
Reparo nelas melhor —
Tu não me tiraste a Natureza ...
Tu mudaste a Natureza ...
Trouxeste-me a Natureza para o pé de mim,
Por tu existires vejo-a melhor, mas a mesma,
Por tu me amares, amo-a do mesmo modo, mas mais,
Por tu me escolheres para te ter e te amar,
Os meus olhos fitaram-na mais demoradamente
Sobre todas as cousas.
Não me arrependo do que fui outrora
Porque ainda o sou.

Alberto Caeiro