terça-feira, 29 de maio de 2007

A Brusca Poesia da Mulher Amada II

Em poucos dias, este gueto - digital - completará um ano de poesias, pensamentos e amigos. Houve fases distintas, pra lá de paradoxais; Como eu. O equilíbrio às vezes apareceu, mas jamais foi uma constante: "(...)Não, tudo menos ter razão.", como disse Pessoa há pouco por aqui. Durante este tempo, foram 83 postagens, aproximadamente 1988 acessos e 290 comentários. Muito obrigado a todos por isso! Sigo em frente então!
A primeira postagem dese blog, em Junho de 2006, trouxe uma poesia de Vinícius chamada "A Brusca Poesia da Mulher Amada". Não veio ao acaso; por beleza ou sem critério.Optei por ela especificamente por tratar-se do primeiro poeta que tive contato mais próximo, de menino mesmo. Foi, também, a primeira poesia, que não um Soneto, que conhecia de Vinícius. Há muito daquele instante, naquela poesia; Mas também há muito de prenuncia e outras tantas que valem até hoje:

"(...) comprem bastante papel;
quero todas as minhas esferográficas
Alinhadas sobre a mesa, as pontas prestes à poesia.
Eis que se anuncia de modo sumamente grave
A vinda da mulher amada, de cuja fragrânciajá me chega o rastro.(...)"

E, portanto, compreendendo os 12 meses que distanciam a minha primeira postagem desta atual; Mantendo a proposta de publicar mensagens que me acompanham e, ainda, conhecendo que esta poesia foi escrita em 3 diferentes momentos, trago, agora, a segunda parte:


A Brusca Poesia da Mulher Amada II
A mulher amada carrega o cetro, o seu fastígio
É máximo. A mulher amada é aquela que aponta para a noite
E de cujo seio surge a aurora. A mulher amada
É quem traça a curva do horizonte e dá linha ao movimento dos astros.
Não há solidão sem que sobrevenha a mulher amada
Em seu acúmen. A mulher amada é o padrão índigo da cúpula
E o elemento verde antagônico. A mulher amada
É o tempo passado no tempo presente no tempo futuro
No sem tempo. A mulher amada é o navio submerso
É o tempo submerso, é a montanha imersa em líquen.
É o mar, é o mar, é o mar a mulher amada
E sua ausência. Longe, no fundo plácido da noite
Outra coisa não é senão o seio da mulher amada
Que ilumina a cegueira dos homens. Alta, tranqüila e trágica
É essa que eu chamo pelo nome de mulher amada.
Nascitura. Nascitura da mulher amada
É a mulher amada. A mulher amada é a mulher amada é a mulher amada
É a mulher amada. Quem é que semeia o vento? – a mulher amada!
Quem colhe a tempestade? – a mulher amada!
Quem determina os meridianos? – a mulher amada!
Quem a misteriosa portadora de si mesma? A mulher amada.
Talvegue, estrela, petardo
Nada a não ser a mulher amada necessariamente amada
Quando! E de outro não seja, pois é ela
A coluna e o gral, a fé e o símbolo, implícita
Na criação. Por isso, seja ela! A ela o canto e a oferenda
O gozo e o privilégio, a taça erguida e o sangue do poeta
Correndo pelas ruas e iluminando as perplexidades.
Eia, a mulher amada! Seja ela o princípio e o fim de todas as coisas.
Poder geral, completo, absoluto à mulher amada!
Vinícius de Moraes