Minha avó já dizia o que eu iria sentir. Via que éramos semelhantes, mesmo de muito garoto. De algum modo soberano, previu pelo que eu me interessaria e, também, o que me faria sofrer: As mesmas coisas que ela.
Tenho um livro antigo (antigo mesmo) de Fernando Pessoa, que de certo foi de minha avó. Tentei achar em algum lugar o ano da publicação, mas não achei. Imagino que tenha, no mínimo, uns 40 anos. Entre as poesias de Pessoa, há algumas marcadas - Com um pedaço de papel rasgado cuidadosamente (Este papel, quase tão antigo quanto o próprio livro). - Gosto de imaginar que, pacientemente, trata-se de uma indicação da antiga dona para mim. Essa poesia abaixo é uma delas.
Sol nulo dos dias vãos,
Cheios de lida e de calma,
Aquece ao menos as mãos
A quem não entras na alma!
Que ao menos a mão, roçando
A mão que por ela passe,
Com externo calor brando
O frio da alma disfarce!
Senhor, já que a dor é nossa
E a fraqueza que ela tem,
Dá-nos ao menos a força
De a não mostrar a ninguém!
Fernando Pessoa
Proporcionar a todos os usuários e fundamentalmente para mim, um módico arquivo digital de cultura. Esta é a razão de ser deste Blog. Intervenções precisas, como fez Camões, sem manter um verso em falso; Lamentos de amor de Vinícius, em prosa e verso, falado e cantado; a Esquizofrenia contagiosa de Pessoa; as letras soberanas de Chico Buarque; Os conselhos ditados por Drummond; E por fim, algumas das bestialógicas quais produzo em linhas pretenciosas, todavia bem intencionadas.