quinta-feira, 28 de setembro de 2006

Interlúdio

Existe um livro de All Ries e Jack Trout de título "As 22 Leis Consagradas do Marketing". Entre estas leis, chamou-me sempre muito a atenção a segunda lei "Se não pode ser o primeiro de uma categoria, crie sub-categorias". Assim, já que existe o primeiro homem que pisou na lua, falemos então do primeiro homem brasileiro que pisou a lua, desta forma as pessoas lembrarão de você! - Subcategoria!; Se não pode-se ser o primeiro aviador, seja então a primeira mulher a pilotar um avião; Se não pode ser a primeira emissora de TV do país, seja a que mais cresce etc. - Não sei dizer ao certo, na minha opinião, quem foi nosso maior poeta (talvez Drummond, talvez Vinícius, ou talvez Chico Buarque), mas nossa maior poetiza, sem dúvida, é Cecília Meirelles.

As palavras estão muito ditas
e o mundo muito pensado.
Fico ao teu lado.

Não me digas que há futuro
nem passado.
Deixa o presente — claro muro
sem coisas escritas.

Deixa o presente. Não fales,
Não me expliques o presente,
pois é tudo demasiado.

Em águas de eternamente,
o cometa dos meus malesafunda,
desarvorado.

Fico ao teu lado.

Cecília Meirelles

sexta-feira, 22 de setembro de 2006

Mais um amor

Escrevi este soneto para um casal de amigos. Ou melhor, para todos. Mas inspirado nestes dois (grandes amigos). Inclusive, foi há pouco que disse, para ela, que tinha dificuldade em escrever e que os rabiscos que saem da minha cabeça, sem exceção, só faz uma rima quando existe inspiração. E elas são sempre as mesmas: O meu amor, dor, saudosismo e/ ou felicidade demais. Neste caso foi um pouco de tudo, exceto dor.

"Se antes a noite parecia a mesma
precisa de encontros iguais
o tempo interveio a tempo
e nos brindou com um encontro a mais
As razões para tanto são aquelas
que ninguém sabe e, nunca, ninguém viu
Esperamos notar uma nota
Uma resposta, dois motivos ou uma falta
Que nos entregue a emoção da derrota
Dos medos nocivos que de nada serviu
Agora de alguns, somos mais
ganhamos do tempo
somamos mais um
As razões? não sabemos
O futuro? queremos
O presente? vivemos
e Inimigos? Nenhum.

Luiz Felipe Angulo Filho - Setembro, 2006

quarta-feira, 20 de setembro de 2006

Mil Perdões

Cada música recebeu as reverências que lhes cabiam: Algumas emocionadas, algumas exaltadas, algumas alegres. Mas quando Chico cantou a primeira frase de "Mil Perdões" talvez tenha decretado unanimidade entre as tribos que o assistiam. Alguns se emocionaram e assobiaram, outros tantos se levantaram e aplaudiram; Alguns choraram e os casais se beijaram.Emoções diferentes, no entanto esta música não passou em branco para quem quer que seja. Lê-la, é bom. Mas recomendo a todos ouvir esta música.

Te perdôo
Por fazeres mil perguntas
Que em vidas que andam juntas
Ninguém faz
Te perdôo
Por pedires perdão
Por me amares demais

Te perdôo
Te perdôo por ligares
Pra todos os lugares
De onde eu vim
Te perdôo
Por ergueres a mão
Por bateres em mim

Te perdôo
Quando anseio pelo instante de sair
E rodar exuberante
E me perder de ti
Te perdôo
Por quereres me ver
Aprendendo a mentir (te mentir, te mentir)

Te perdôo
Por contares minhas horas
Nas minhas demoras por aí
Te perdôo
Te perdôo porque choras
Quando eu choro de rir
Te perdôo
Por te trair

Francisco Buarque de Hollanda

segunda-feira, 18 de setembro de 2006

A Longo Prazo

Este é um perfeito exemplar de um texto atual, escrito por um jornalista atual, dissertanto, com irrevrência, um tema que, em outras mãos, é tão rejeitado. Muito bom!

Assisti a algumas imagens do velório do Bussunda, quando os colegas do Casseta & Planeta deram seus depoimentos. Parecia que a qualquer instante iria estourar uma piada. Estava tudo sério demais, faltava a esculhambação, a zombaria, adesestruturação da cena.Mas nada acontecia ali de risível, era só dor e perplexidade, que é mesmo o que e causa em todos os que ficam.
A verdade é que não havia nada a acrescentar no roteiro: a morte, por si só, é uma piada pronta.Morrer é ridículo.Você combinou de jantar com a namorada, está em pleno tratamento dentário, tem planos pra semana que vem, precisa autenticar um documento em cartório, colocar gasolina no carro e no meio da tarde morre. Como assim? E os e-mails que você ainda não abriu, o livro que ficou pela metade, o telefonema que você prometeu dar à tardinha para um cliente? Não sei de onde tiraram esta idéia: morrer. A troco? Você passou mais de 10 anos da sua vida dentro de um colégio estudando fórmulas químicas que não serviriam pra nada, mas se manteve lá, fez as provas, foi em frente. Praticou muita educação física, quase perdeu o fôlego, mas não desistiu. Passou madrugadas sem dormir para estudar pro vestibular mesmo sem ter certeza do que gostaria de fazer da vida, cheio de dúvidas quanto à profissão escolhida, mas era hora de decidir, então decidiu, e mais uma vez foi em frente...
De uma hora pra outra, tudo isso termina numa colisão na freeway, numa artéria entupida, num disparo feito por um delinqüente que gostou do seu tênis. Qual é? Morrer é um chiste. Obriga você a sair no melhor da festa sem se despedir de ninguém, sem ter dançado com a garota mais linda, sem ter tido tempo de ouvir outra vez sua música preferida. Você deixou em casa suas camisas penduradas nos cabides, sua toalha úmida no varal, e penduradas também algumas contas. Os outros vão ser obrigados a arrumar suas tralhas, a mexer nas suas gavetas, a apagar as pistas que você deixou durante uma vida inteira. Logo você,que sempre dizia: das minhas coisas cuido eu! Que pegadinha macabra: você sai sem tomar café e talvez não almoce, caminha por uma rua e talvez não chegue na próxima esquina, começa a falar e talvez não conclua o que pretende dizer.
Não faz exames médicos, fuma dois maços por dia, bebe de tudo, curte costelas gordas , mulheres e morre num sábado de manhã. Se faz check-up regulares e não tem vícios, morre do mesmo jeito. Isso é para ser levado a sério? Tendo mais de cem anos de idade, vá lá, o sono eterno pode ser bem-vindo. Já não há mesmo muito a fazer, o corpo não acompanha a mente, e a mente também já rateia, sem falar que há quase nada guardado nas gavetas. Ok, hora de descansar em paz. Mas antes de viver tudo, antes de viver até a rapa? Não se faz. Morrer cedo é uma transgressão, desfaz a ordem natural das coisas. Morrer é um exagero. E, como se sabe, o exagero é a matéria-prima das piadas. Só que esta não tem graça. Por isso viva tudo que há para viver.Não se apegue as coisas pequenas e inúteis da Vida...Perdoe....sempre!!!

Pedro Bial

quinta-feira, 14 de setembro de 2006

TSE - Terrorismo da Superficialidade Eleitoral

Há ainda pouco tempo, ou talvez não seja ainda tão recente, mas me lembro claramente de minha isenção a todos e quaisquer assuntos ligados a Política. Ok, excelente compreender quem foram nossos estadistas, quais foram as merdas que fizeram em nosso país e, por que não, termos acesso às coisas boas: A fase das indústrias no Brasil de JK, o Plano Real de FHC e até a abertura dos portos de Collor. Sim, houve coisas boas - poucas, mas existiram. Infelizmente, por conta de motivos maiores que nós, acabamos por nos envolvermos, questionarmos e então atingimos o topo maior do envolvimento político: Reivindicamos.

No entanto, o que está em voga agora são os partidos: Estes clubes de corrupção explícita que até o nome de Deus andam usando em prol da candidatura. Democracia! É este o nome que se dá para nosso sistema, solidário e altruísta que se empenha para oferecer livremente aos eleitores opções. Mas alguém compreende o Sistema Nacional Eleitoral? Há duas ou três eleições, estúpidos usuários da Internet insistem em difundir e-mails afirmando que o voto Nulo é uma boa opção, porque se atingíssemos 51% poderíamos ter cancelamento imediato das candidaturas dos caras... Bom, para um povo que tem um dos maiores índices de analfabetismo do mundo, não é difícil compreender a idiotice - Mas voltando ao nosso Sistema Eleitoral, este que temos e não sabemos; Este que direciona votos para Partidos e não necessariamente para candidatos; Este que só existe em dois lugares do mundo: Brasil e Finlândia; Este sim é a otimização de um "sistema unilateral leonino parcial" (Para não dizer corruptível, imbecil, antiquado, inadequado, tendencioso e por aí vai).

Fiz uma simples pesquisa entre colegas e é quase unânime a ignorância de "como funcionam" as coisas. E às vezes, aconteceu comigo, ainda conheço quem não compreenda sequer o porquê do 2o turno! - Mas também, outra imbecilidade que não tem tamanho! O 2o turno é a efetivação de um sistema sem algum escrúpulo - Digo isso não propriamente pela metodologia, mas pelo apelo. Dizem que isso é democracia para os menos favorecidos e, claro, a percepção deste povo deve ser mesmo que "ganhamos mais uma chance para escolhermos nosso líder "- Nossa, como ele são bons! Viva a Democracia!" - Balela! JK foi eleito com 34% dos votos, longe da maioria exigida atualmente e fez um bom governo; Já Collor e Lula foram eleitos no segundo turno. Ou seja, é extremamente sensato chegarmos a conclusão de que estas pesquisas encomendadas pelos veículos de comunicação (Com o único e exclusivo propósito de comprarem audiência e simpatizantes pela informação), acaba com qualquer alternativa de renovação! Heloisa Helena, por exemplo, não a considero o modelo ideal de uma estadista - apesar de entender que uma mulher no poder poderia nos fazer algum bem - mas quais são as chances que ela tem de ser eleita? Por mais que os números apontem algum crescimento, de acordo com o nosso Sistema Nacional Eleitoral ela precisa da maioria dos votos; Ela precisaria ter um resultado superior a soma de seus adversários políticos - Oras, onde está a democracia? A capacidade de renovação de que este país tanto precisa?

E quando avistamos, mesmo que de longe, alguma possibilidade de renovação, encontramos a coluna de Mônica Bergman na Folha de São Paula do último dia 08 de Setembro, sexta-feira, com um artigo de citações que envolviam a nossa presidenciável. O artigo trazia um depoimento de HH (HH são as iniciais de Heloisa Helena que já começam a surgir em alguns veículos de comunicação. Justo, já que temos FHC, JK, GV, PC Farias...) que dizia assim: "- Eu jamais me deitei ou me deitarei com homem rico! Eu sou de uma outra origem qual eu valorizo e considero, de peito aberto, que homens ricos são podres; São desonestos e enriquecem com dinheiro público e que, na pior das opções poderia alimentar algumas famílias famintas deste país. Eu vomitaria em cima de qualquer homem deste!" - Não me permito discutir o conteúdo deste discurso. Mas, na mesma coluna MB (posso chamar Monica Berman pelas suas inicias, certo?) trouxe um outro depoimento, na seqüência, de Luiz Estevão - O mafioso, e ex-senador, acusado de formação de quadrilha, uso de documentos falsos e corrupção passiva - curiosamente, rico - E que segundo dizem as más línguas, teve lá suas relações íntimas com HH em um passado não tão distante. Quando perguntado sobre a declaração da então Senadora Heloísa, ele respondeu "- Não sei se ela vomitou, mas sei que ela engoliu." - Estes são nossos políticos: Coerentes, precisos, adequados e eficientes.

Bom, então o que temos? Um sistema confuso e uma matilha de candidatos das mais diversas tribos, todos dispostos à assumir algum cargo público. Agora alguém ainda fala de Ideologia? Tenho por mim que em época de eleição o que deveríamos discutir é isso! - E Vejam como o assunto é extenso: Sistema, Candidatos, Ideologia - Não é à toa que hoje temos especialistas em Ciência Políticas e o "escambal"- Por isso me sinto um idiota quando em 6 segundos ouço um candidato qualquer se apresentar no horário político e pedir meu voto - Afinal, ainda temos esquerda? Há pouco tempo ouvi falar de "centro-esquerda"? Mas que diabo é isso? Quero dizer, o sujeito é Corinthiano, mas em alguns jogos torce fervorosamente pelo Palmeiras? Não se fala mais em ideologia. Fala-se em soluções e no máximo em reformas, de todos os tipos: Tributárias, Políticas, Econômicas. Mas somos um país sem ideologia, sem idéias. A imensidão do Brasil, nossas riquezas, nosso povo e tudo o mais não entram mais em discussão. Estamos na era do "enganar os trouxas"; Providenciem-me um bom terno, um discurso abrangente, coeso reunindo todos os principais problemas da nação, descrito na linguagem do povo - o qual eu só vou ler na hora, em cima de um púlpito da República e ao lado na Bandeira Nacional - Alguma maquiagem, duas ou três figuras para falarem ao meu favor e vamos disputar o poder. Ideologia? Não, obrigado.

Luiz Felipe Angulo Filho

Dois amigos

Hoje, eu queria fazer um soneto
dar um presente, uma idéia afinal
Por que és meu amigo atuante
E por que és minha amiga ideal

Ele prefere a dúvida.
(Daquelas que sabemos não ter)
Não se aprofunda na opção da conquista.
Conquista! Mas fazendo de conta de nada saber

Ela de nome Maria,
de graça infinita e de charme demais
Tambem se aproveita, com todo respeito,
Do mesmo deleito a procura da paz.

Quando estão juntos se alternam nos dias
De domingo me permito ser sua:
sem pejo, me entrego talvez
Peço com gestos que me aceite
E que assuma este romane de vez!
Já quando de novo,
Ele compreende e se empenha ao sinal
Se insunua como um amigo importante
Buscando ser visto como um caso real.

A verdade é que temos um encontro.
De um desencontro que persiste em ficar:
Ela, é demais delicada
E ele, é melhor não falar...

Eu quis escrever um soneto
Um presente sincero, sem jeito e sem par.
E já que nem tudo que queremos ganhamos,
Entendemos que o nosso, merecemos ganhar.

Luiz Felipe Angulo Filho -Para dois amigos muito especiais

quarta-feira, 6 de setembro de 2006

Reverência ao Destino

Falar é completamente fácil, quando se tem palavras em mente que expressem sua opinião.
Difícil é expressar por atitudes e gestos o que realmente queremos dizer, quanto queremos dizer, antes que a pessoa se vá.
Fácil é julgar pessoas que estão sendo expostas pelas circunstâncias.
Difícil é encontrar e refletir sobre os seus erros, ou tentar fazer diferente algo que já fez muito errado.
Fácil é ser colega, fazer companhia a alguém, dizer o que ele deseja ouvir.
Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso. E com confiança no que diz.
Fácil é analisar a situação alheia e poder aconselhar sobre esta situação.
Difícil é vivenciar esta situação e saber o que fazer. Ou ter coragem pra fazer.
Fácil é demostrar raiva e impaciência quando algo o deixa irritado.
Difícil é expressar o seu amor a alguém que realmente te conhece, te respeita e te entende. E é assim que perdemos pessoas especiais.
Fácil é mentir aos quatro ventos o que tentamos camuflar.
Difícil é mentir para o nosso coração.
Fácil é ver o que queremos enxergar.
Difícil é saber que nos iludimos com o que achávamos ter visto. Admitir que
nos deixamos levar, mais uma vez, isso é difícil.
Fácil é dizer " oi " ou " como vai ? "
Difícil é dizer "adeus". Principalmente quando somos culpados pela partida de alguém de nossas vidas...
Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados.
Difícil é sentir a energia que é transmitida. Aquela que toma conta do corpo, como uma corrente elétrica, quando tocamos a pessoa certa.
Fácil é querer ser amado.
Difícil é amar completamente só. Amar de verdade, sem ter medo de viver, sem ter medo do depois. Amar e se entregar. E aprender a dar valor somente a quem te ama.
Fácil é ouvir a música que toca.
Difícil é ouvir a sua consciência. Acenando o tempo todo, mostrando nossas escolhas erradas.
Fácil é ditar regras.
Difícil é seguí-las. Ter a noção exata de nossas próprias vidas, ao invés de ter noção das vidas dos outros.
Fácil é perguntar o que se deseja saber.
Difícil é estar preparado para escutar esta resposta. Ou querer entender a resposta.
Fácil é chorar ou sorrir quando der vontade.
Difícil é sorrir com vontade de chorar ou chorar de rir, de alegria.
Fácil é dar um beijo.
Difícil é entregar a alma. Sinceramente, por inteiro.
Fácil é sair com várias pessoas ao longo da vida.
Difícil é entender que somente uma vai te aceitar como você é e te fazer feliz por inteiro.
Fácil é ocupar um lugar na caderneta telefônica.
Difícil é ocupar o coração de alguém. Saber que se é realmente amado.
Fácil é sonhar todas as noites.
Difícil é lutar por um sonho.
Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata.


Carlos Drummond de Andrade

domingo, 3 de setembro de 2006

Anel de Vidro

Eu gosto muito de Manuel Bandeira. Não sou um especialista, nem tão pouco conheço todas suas obras. Mas conheço sua história e textos de mensagens precisas de sua autoria. Tenho por mim, que uma das coisas que melhor posso fazer é dividir coisas boas com todos os usuários (ou curiosos) deste blog. Portanto, não uso, hoje, algo que fale de mim de meu momento, mas sim uma poesia que faz parte da obra de um de nossos principais pensadores.

Aquele pequenino anel que tu me deste,
– Ai de mim – era vidro e logo se quebrou…
Assim também o eterno amor que prometeste,
- Eterno! era bem pouco e cedo se acabou.

Frágil penhor que foi do amor que me tiveste,
Símbolo da afeição que o tempo aniquilou,
–Aquele pequenino anel que tu me deste,
– Ai de mim – era vidro e logo se quebrou…

Não me turbou, porém, o despeito que investe
Gritando maldições contra aquilo que amou.
De ti conservo no peito a saudade celeste…
Como também guardei o pó que me ficou
Daquele pequenino anel que tu me deste…

Manuel Bandeira