Preciso viver amiúde de mim
Em minha companhia difusa e concluída,
Percorro a liberdade de ser, com o embaraço indissociável da existência
Não concedo mais cedência em apresentar-me integral,
Ou talvez ceda, algum dia que não é hoje, outro dia...
Hoje não: - Hoje poetizo;
Erijo linhas oblíquas de exposição,
Falo sozinho e com o papel e é tudo...
Sem demora posso variar, todavia não obsto pelo que já disse...
Se não sou, é o que fui - lídimo, e basta.
Míngua, ainda, a preponderância da perenidade da idéia
A variedade de elementos perturba o repouso do juízo,
Enleio-me com a mesma freqüência que faço uso dos pronomes e de auxílio
Preciso, então, permanecer
Pois enquanto a solidão permite-me a opção da companhia,
A companhia censura-me a liberdade basilar de estar só.Luiz Felipe Angulo Filho
Brasília, Junho de 2008
Ah... Minha inspiração dissimulada,
Sinto enorme euforia em dividir com minhas esferográficas as angústias que tive
E meu estro baseia-se em não estar, ausenta-se, deixa-me só como tantos e tudo
Eis que as linhas saem-me de improviso e trazem eventuais inconsistências,
Tal como a vida que tenho, instável contudo aprazível
Uma bruma bordeja os sentimentos do mundo,
Obscurece, inibe
Não creio na persistência, pois sim nas mágoas
Desconheço maior oferta do que a madureza,
Não reconheço maior expediente do que o tempo...
Ah... o tempo, o tempo...
Talvez ele me reúna a inspiração que me foge,
Enquanto isso, abjuro-me na solidão que o dia me trás,
Na companhia, opto pela leitura ou, porventura, convenço-me a ouvir
Mesmo que a mim mesmo, mesmo que as mesmas vozes, mesmo que ao silêncio
Ah... o silêncio
Estado absoluto de excetuar os ruídos,
Muito mais que a ausência do barulho, o preterido silêncio
Busca insólita e incomum, clandestino pelo imediato
E, assim, enquanto creio em sua expectativa,
Usufruo-me do bulício com a candura que me cabePorquanto veto-o (o silêncio) e o aguardo enfermo.Luiz Felipe Angulo Filho
Brasília, Junho de 2008
- Por mais que em algum momento eu tente engatar alguma sequência definida de poemas, sonetos - ou que for - como anunciei há pouco, foi inevitável a mudança. A definição se dá com o fato consumado, quaisquer eventuais ajustes devem, sim, serem trazidos em pról da coerência, da qualidade e, por fim, deste processo infindo de amadurecimento. Estas linhas abaixo, de Gonzaguinha, não são as minhas como havia dito que faria, mas sinto-me razoávelmente seguro em tê-las como minhas palavras."Primeiro você me azucrinaMe entorta a cabeçaMe bota na bocaUm gosto amargo de fel...DepoisVem chorando desculpasAssim meio pedindoQuerendo ganharUm bocado de mel...Não vê que então eu me rasgoEngasgo, enguloReflito e estendo a mãoE assim nossa vidaÉ um rio secandoAs pedras cortandoE eu vou perguntando:Até quando?...São tantas coisinhas miúdasRoendo, comendoArrasando aos poucosCom o nosso idealSão frases perdidas num mundoDe gritos e gestosNum jogo de culpaQue faz tanto mal...Não quero a razãoPois eu seiO quanto estou erradoE o quanto já fiz destruirSó sinto no ar o momentoEm que o copo está cheioE que já não dá maisPrá engolir...Veja bem!Nosso casoÉ uma porta entreabertaE eu busqueiA palavra mais certaVê se entendeO meu grito de alertaVeja bem!É o amor agitando o meu coraçãoHá um lado carenteDizendo que simE essa vida dá genteGritando que não..."Gonzaguinha