segunda-feira, 30 de junho de 2008

Ensaio da Sobrevivência

Preciso viver amiúde de mim
Em minha companhia difusa e concluída,
Percorro a liberdade de ser, com o embaraço indissociável da existência

Não concedo mais cedência em apresentar-me integral,
Ou talvez ceda, algum dia que não é hoje, outro dia...
Hoje não: - Hoje poetizo;

Erijo linhas oblíquas de exposição,
Falo sozinho e com o papel e é tudo...
Sem demora posso variar, todavia não obsto pelo que já disse...
Se não sou, é o que fui - lídimo, e basta.

Míngua, ainda, a preponderância da perenidade da idéia
A variedade de elementos perturba o repouso do juízo,
Enleio-me com a mesma freqüência que faço uso dos pronomes e de auxílio

Preciso, então, permanecer
Pois enquanto a solidão permite-me a opção da companhia,
A companhia censura-me a liberdade basilar de estar só.


Luiz Felipe Angulo Filho
Brasília, Junho de 2008

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Séquito

Ah... Minha inspiração dissimulada,
Sinto enorme euforia em dividir com minhas esferográficas as angústias que tive
E meu estro baseia-se em não estar, ausenta-se, deixa-me só como tantos e tudo
Eis que as linhas saem-me de improviso e trazem eventuais inconsistências,
Tal como a vida que tenho, instável contudo aprazível
Uma bruma bordeja os sentimentos do mundo,
Obscurece, inibe
Não creio na persistência, pois sim nas mágoas
Desconheço maior oferta do que a madureza,
Não reconheço maior expediente do que o tempo...

Ah... o tempo, o tempo...
Talvez ele me reúna a inspiração que me foge,
Enquanto isso, abjuro-me na solidão que o dia me trás,
Na companhia, opto pela leitura ou, porventura, convenço-me a ouvir
Mesmo que a mim mesmo, mesmo que as mesmas vozes, mesmo que ao silêncio

Ah... o silêncio
Estado absoluto de excetuar os ruídos,
Muito mais que a ausência do barulho, o preterido silêncio
Busca insólita e incomum, clandestino pelo imediato
E, assim, enquanto creio em sua expectativa,
Usufruo-me do bulício com a candura que me cabe

Porquanto veto-o (o silêncio) e o aguardo enfermo.

Luiz Felipe Angulo Filho
Brasília, Junho de 2008

sábado, 21 de junho de 2008

Grito de Alerta

- Por mais que em algum momento eu tente engatar alguma sequência definida de poemas, sonetos - ou que for - como anunciei há pouco, foi inevitável a mudança. A definição se dá com o fato consumado, quaisquer eventuais ajustes devem, sim, serem trazidos em pról da coerência, da qualidade e, por fim, deste processo infindo de amadurecimento. Estas linhas abaixo, de Gonzaguinha, não são as minhas como havia dito que faria, mas sinto-me razoávelmente seguro em tê-las como minhas palavras.

"Primeiro você me azucrina
Me entorta a cabeça
Me bota na boca
Um gosto amargo de fel...

Depois
Vem chorando desculpas
Assim meio pedindo
Querendo ganhar
Um bocado de mel...

Não vê que então eu me rasgo
Engasgo, engulo
Reflito e estendo a mão
E assim nossa vida
É um rio secando
As pedras cortando
E eu vou perguntando:
Até quando?...

São tantas coisinhas miúdas
Roendo, comendo
Arrasando aos poucos
Com o nosso ideal
São frases perdidas num mundo
De gritos e gestos
Num jogo de culpa
Que faz tanto mal...

Não quero a razão
Pois eu sei
O quanto estou errado
E o quanto já fiz destruir
Só sinto no ar o momento
Em que o copo está cheio
E que já não dá mais
Prá engolir...

Veja bem!
Nosso caso
É uma porta entreaberta
E eu busquei
A palavra mais certa
Vê se entende
O meu grito de alerta

Veja bem!
É o amor agitando o meu coração
Há um lado carente
Dizendo que sim
E essa vida dá gente
Gritando que não..."

Gonzaguinha