quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

:: Livramento do Brumado

Tive um saxofone por certa vez - Gostava, e
gosto, do instrumento: considero-o único, símbolo máximo da boa música - Mas com
a mesma velocidade que tive, o vendi. E foi fácil! Meia dúzia de palavras
diretas como “vendo Saxofone tal, marca x, cor prata”, veiculado no lugar certo
e em pouco mais de dois dias me procuraram: “- Alo, é você que está vendendo um
Saxofone? Eu estou procurando um para comprar....” – Em 7 minutos tínhamos feito
negócio. Eu de São Paulo, sem conhecer o sujeito, ele do interior da Bahia de
uma cidade chamada Livramento do Brumado, sei lá há quantos quilômetros de
Salvador. Bem, mas como eu queria vender e ele queria comprar, fizemos negócio.
Simples assim.

Não muito distante disso havia uma outra história.
Os protagonistas eram um sujeito que procurava carinho, amor, buscava com
entusiasmo a paz e reunia poesias para entregar a uma mulher que as recebesse
saciada; E uma mulher, de uma cidade próxima, que buscava receber carinho, amor,
buscava com entusiasmo a paz e ansiosa por poesias. E, assim como encontrei o
cidadão de Livramento do Brumado, eles se encontraram.

Rapidamente
as coisas se ajeitaram. Quero dizer, rápido se comparado com a proporção desta
relação – Trata-se de uma vida, afinal, eles se encontraram, ou não? Ele dava
carinho, ela recebia; Ela dava carinho, ele recebia. O amor em pouco tempo
apareceu, antes era um palpite, no entanto ganhou vida! Cresceu, se fortaleceu,
virou amor. Então vieram as poesias, na hora certa, para não parecer exaltação
exagerada. E boas poesias! Algumas, inclusive, musicadas. E, por fim, a paz, que
mesmo hesitante e em hora alguma consolidada, apareceu - Um encontro, não uma
discordância. Retas paralelas, não transversais.

E foi assim,
imbuídos das mesmas aspirações, de desejos os mesmos, que, então, se separaram.
Ela reivindicava carinho; Ele acreditava dar... Ele reivindicava carinho, ela
aguardava receber, para então ser carinhosa. Ele insistia em reaver as poesias,
ela já não queria escutar. Ela acreditava no amor, ambiciosa pela vida; Ele
também. O amor, existia – será? – Sim, existia. De alguma forma ou dentro de
alguma definição. Contudo, ainda não havia a paz, pois, para que assim fosse,
haveria de ter aspirações em comum entre as personagens – mas não era assim? Tal
como o cidadão de Livramento do Brumado, que buscava um saxofone e o outro (eu)
queria vender.

Passados alguns anos, discordaram. Ela e ele.
Seguiram suas vidas, afastados, cheia de expectativas e valores os mesmos.
Abandonaram o acordo do encontro, em favor de renovarem suas buscas: Ele
agonizava carinho, amor, afoito pela paz, buscando poesias para entregar a uma
mulher que as recebesse saciada; Ela também.

Luiz Felipe