sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

A guerra da prescrição ideológica

A diversidade é um dos bens mais resignados da história da humanidade. Neste ponto, polígamos, bissexuais, diplomatas e o vira-casaca têm vantagens sobre vegetarianos, religiosos e militares. - Eu tive a sorte de ter pais separados e, portanto, duas famílias. - Entretanto, o indivíduo ao invés de enxergar a oportunidade em ter sua compreensão de mundo ampliada, tendo acesso a informações e novas culturas – inclusive -antagônicas como nosso cérebro pretensiosamente nos dá permissão, o conforto em ter a verdade pouca de uma vida rasa abriga esta humanidade que compartilha vida comigo.
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E assim, a verdade é fragmentada entre tribos. A verdade é uma variável de com quem se fala, local e data de nascimento. Contudo, consta no dicionário que “verdade” além de um substantivo feminino, refere-se à qualidade do que é verdadeiro. Eis uma tautologia um tanto quanto inevitável, todavia o ponto é que estas cabeças perdidas no mundo persistem em não se perderem pelo mundo! Em detrimento ao que Nietzsche esperava da evolução humana e consentindo com a descrição medíocre que o alemão sugeria do ser humano, o sujeito e seus bandos andam por aí sendo pouca coisa. Michel Foucault tem uma frase que diz “A verdade é apenas um erro que ainda não foi refutado”. E o que vejo é um arrazoado de gente sendo coagida e terceirizando suas opiniões sobre tudo! Há casos onde a interferência pela posição de um grupo, a coação sobre um indivíduo é tanta, que a pessoa adoece. Eis a mais perversa guerra que passamos em todos os séculos: A Milenar Guerra da Prescrição Ideológica.
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No lugar de pessoas sendo humanas, admitindo suas fraquezas e o desconhecimento de um livro qualquer - afinal quem vai ler a Divína Comédia do começo ao fim? - há de se ser soberano ou profundamente ignorante em tudo. As manifestações são, com algumas raras e boas exceções, são prescritas por outros que são julgados maiores, mais sábios. Como se liga para um médico para pedir receita para medicamento controlado, faz-se com as idéias! Eu tenho grande costume em procurar opiniões de outros, contudo para formar o meu conceito; Para verificar uma hipótese. Mesmo que a opinião formada porventura seja um clone do julgamento requisitado. E a doença principia por aí: Recorrer a outrem pode trazer grandes benefícios, contudo pode gerar edema emocional e causar dependência. E os sintomas são imperceptíveis porque são considerados normais: A pessoa acometida dorme bem, tem relacionamentos longos, tende a trabalhar no mesmo lugar por muito tempo, não gostam de filosofia e poesia, lêem pouco, e potencialmente acham que linhas como estas são descomedidas.
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Mesmo na escrita e no discurso, existem alguns vícios que são altamente prejudiciais ao desenvolvimento humano. Como lêem pouco, assistem apenas televisão cuja informação é um subproduto do entretenimento, pessoas são muito as mesmas falando ou escrevendo. Em uma sala de aula, já corrigi provas com dezenas de respostas iguais. Ok: Copiaram, os coitados são vítimas de um sistema de aprendizagem altamente improdutivo e todos somos cúmplices passivos do delito. Contudo por todo Brasil escutar as mesmas coisas? Vejam só: Faz poucos dias escutava uma sujeita a falar de outra pessoa; Segundo a emissora a personagem do assunto era “frio e calculista”. A questão é que eu conheço a pessoa e compreendo a alcunha de frio. Contudo, calculista é deveras exagerado! Mas hoje um brasileiro não pode se dar ao luxo de ser somente frio, ele receberá o fardo de ser, também e na mesma proporção, calculista. Viraram adjetivos compostos essenciais. É como descrever um inverno como: “(...) Foi um longo inverno”. Duvido que haja alguém que não tenha se lembrado de “tenebroso”. - Ué, cadê o tenebroso? O inverno, pobre dele, não pode ser apenas longo? Tem que ser longo e tenebroso ao mesmo tempo. Conseqüências da guerra.
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Vejo que o mundo parou. Evoluímos até o ponto em que optamos por trabalhar na evolução de outras coisas. Pouco me faz sentido que a pólvora tenha sido inventada antes de uma aspirina. Todavia, o que menos faz sentido são as aberrações dos investimentos do mundo no desenvolvimento de coisas: Em motores mais rápidos, bebidas mais fortes e cigarros mais fracos e na economia estúpida no desenvolvimento do humano. Ao contrário, estamos nos matando com tanta emissão de gases tóxicos e o uso excessivo de água. O mundo se preocupa com a sexualidade dos outros, preocupa-se em comprar as coisas mais para mostrar que tem algum, enquanto investe tempo em falar mal de outras culturas porque eles fazem “errado”. Agora mesmo ao fim deste triste diagnóstico particular, imagino que entre os leitores haverá os que vão reduzir o escrito por alguma forma mais cômoda de entender o conteúdo: “Ele é veado”. Pronto! Temos o preconceito no lugar da curiosidade. E, para mim, o mundo parou. Ou não...
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Luiz Felipe Angulo Filho