quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Enviada de Deus

Quando choras em meu ombro consorte
Carregado pelos casos do mundo
Se me queres libertar-te de sorte
Quando choras em meu ombro imundo
.
O choraste em valente cobiça
Vide uma vida de vida não vi
Contentas-me em tirar-me de artista
Quando em meu ombro choraste e sorri

.
Luiz Felipe Angulo Filho

.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Eu

Eu, devoto de São Francisco Buarque,
Poeta de precários arrazoados de juízos tantos,
Freqüentemente estático,
Ensaio uma prece de confissões de não cortesia aos dogmas do catolicismo.

.
Porquanto creio eu estar em estado de isolamento cruciante,
Cujos afetos mais legítimos são-me a poesia e a angustia
Descuro normas meramente sociais em razão aos sentidos que tenho
E tento equilibrar em mim mesmo o que trago de estupidez e astúcia

.
Justo eu?

.
Eu em que minha prece aprecio tanto a imprecisão das prioridades,
A desejar secretamente enfermidades para os quais não guardo simpatia
Em particular aos marginais que sobrecarregam os encargos sociais
Contudo ordeno flores infindas às personagens de minha poesia

.
Justamente eu...

.
Castigado desde a infância com a afronta dos sentimentos
Ponho-me a descontar em poemas os conflitos tantos de meus alentos.

.
Luiz Felipe Angulo Filho
..

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Poesia da companhia definitiva

Estava eu sentado neste acento fastidiosamente prosaico
Mirando a vista de todo dia, desconfortavelmente breve.
Todas as cousas exatamente em seus espaços de origem,
As cousas quais tinha eu me apropriado por tê-las contemplado há mais tempo.
Éramos eu e o acento. (E a vista, naturalmente...)
O impudico coração de poesia que tenho, estava a se controverter em demência,
Em debater-se em movimentos inexplicavelmente ásperos enquanto eu simplesmente existia...
Entregando ao meu corpo o efeito de saudade
Era eu e o acento, todavia; Não havia nenhuma ausência
Quem já era de minha ciência tinha comigo alguma deidade
Contudo, era isso!
Como eu - e o acento - não havíamos nos dado conta de que recebíamos a touca de uma silhueta?
Um contorno cuja precisão ao invés de prosaica, apresentava-se púbere;
As divindades guardadas em poesias, já escritas pelas minhas mãos, ganhavam razão:
Como pudera meus dedos ter produzido poesias de afeto, sem que tivera tido aquela inspiração?
Era eu muito só, a ausência talvez fosse meu estro; Ou o acento que me suportava, dava-me as palavras que eu procurava, entretanto nada disso importava....
No entanto, foi o tempo. Ele sim, o tempo! O tempo deu-me uma exaustiva pretensão de sair amando e escrevendo poesias, no entanto não era indicado. Tinha de ter muito cuidado: Não sei que movimento tomaria a sombra que está por de trás de mim e do acento, caso me erga; caso me vire em seu sentido.
Porquanto abri um papel da algibeira e produzi este verso.
Notava que a sombra mantinha-se intacta e sem vê-la a expressão, amava-a em alento.
Era o tempo... O tempo que me trouxera a razão, em ter meus sentidos todos comovidos em sepultar o juízo e virar-me com a poesia rabiscada e oferecê-la a quem tinha - de fato, o crédito das passagens de amor que em favor ao meu temperamento, respeitei o ditado dos versos soprados por quem o produz, pela sombra de outrora que agora ela luz.

.
Luiz Felipe Angulo Filho
..