segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Minha Terra

Este autor que trago hoje não tem o mesmo destaque que outros poetas, mas é conhecido. Não sei de uma prova de literatura em que não se fale de Casimiro de abreu: "Ai que saudades da aurora da minha vida" - (esta poesia chama-se "Meus Oito Anos" e foi postada no blog há 1 ou 2 meses) - Pois então, não diferente, sua obra carrega o peso da evolução humana. Do "deixar pra trás" épocas como a infância; Lamentos de melancolia. Eis mais uma obra do autor, cheio de rimas ricas e o constante sentimento de perda, que o tempo nos trás.

"Que terno sonho dourado
Das minhas horas fagueiras,
No recanto das palmeiras
Do meu querido Brasil!

A vida era um dia lindo
Num vergel cheio de flores,
Cheio de aroma e esplendores
Sob um céu primaveril.

A infância, um lago tranqüilo
Onde começa a existência,
Onde os cisnes da inocência
Bebem o néctar do amor.

A mocidade era um hino
De melodias suaves,
Formadas de trinos de aves
E de perfume de flor.

O dia, manhã ridente,
Numa canção de alvorada;
A noite toda estrelada
Após o doce arrebol;

E na paisagem querida,
Os ramos das laranjeiras
E das frondosas mangueiras
Douradas à luz do Sol!

Oh! que clarão dentro dalma,
Constantemente cismando,
O pensamento sonhando
E o coração a cantar,

Na delicada harmonia
Que nascia da beleza,
Do verde da Natureza,
Do verde do lindo mar!

Oh! que poema a existência
De infância e de mocidade,
De ternura e de saudade,
De tristeza e de prazer;

Igual a um canto sublime,
Como uma estrofe inspirada
Na noite e na madrugada,
Na tarde e no amanhecer.

De tudo me lembro e quanto!
A transparência dos lagos,
As carícias, os afagos
E os beijos de minha mãe!

Dos trinos dos pintassilgos,
Da melodia das fontes,
As nuvens nos horizontes
Perdidos no azul do além.

Quando eu cruzava as Campinas,
Sem sombras de sofrimento,
Descalço, com o peito ao vento,
Num tempo doce e feliz!

Os pessegueiros floridos,
As frondes cheias de amora,
O manto de luz da aurora,
Os pios das juritis!

Se a morte aniquila o corpo,
Não aniquila a lembrança:
Jamais se extingue a esperança,
Nunca se extingue o sonhar!

E à minha terra querida,
Recortada de palmeiras,
Espero em horas fagueiras
Um dia poder voltar."

Casimiro de Abreu