segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

O Amor da Sua Vida

Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os
honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo à
porta.
O amor não é chegado a fazer contas, não obedece a razão. O
verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estrelar.
Costuma ser despertado mais pelas flechas do cupido do que por uma ficha limpa.
Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do
Caetano.
Isso são só referenciais.
Ama-se pelo cheiro, pelo mistério,
pela paz que o outro lhe dá ou pelo tormento que provoca.
Ama-se pelo tom de
voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando
menos se espera.
Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas
que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou à seco, você à levou para
conhecer a sua mãe e ela foi de blusa transparente. Você gosta de rock e ela de
chorinho, você gosta de praia e ela é alérgica ao sol, você abomina o Natal e
ela detesta o Ano Novo, nem no ódio vocês combinam.
Então? Então que ela tem
um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que
LSD, ela adora brigar com você e você adora implicar com ela.
Isso tem nome.
Você ama aquele cafajeste ele diz que vai e não aparece, que não liga. Ele
veste o primeiro trapo que encontra no armário, ele escuta Egberto Gismonti e
Sivuca. Ele não implaca uma semana nos empregos, está sempre duro e é meio
galinha ! Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado, e ainda você não
consegue despacha-lo. Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito
manteiga. Ele toca toca gaita de boca, adora animais, pinta quadros e escreve
poemas.
Porque ama esse cara? Não pergunte para mim.
Gosta dos filmes de
Woody Allen, dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia
romântica também tem o seu valor.
É bonita. Seu cabelo nasceu para ser
sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar.
Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem
loucura por computador e seu Fetuccine ao Pesto é imbatível.
Você tem bom
humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um Currículo desse, criatura,
porque diabos está sem amor ?
Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não
fosse um sentimento, mais uma equação matemática: Eu linda + você inteligente =
dois apaixonados.
Não funciona assim. Amar não requer conhecimento prévio
nem consulta ao SPC .
Ama-se justamente pelo que o amor tem de indefinível.
Honestos existem aos milhares, generosos tem às pencas, bons motoristas e
pais de família, tá assim ó!
Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da
sua vida é.

Drauzio Varella

quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

Solidão

tenei pesquisar para compreender de fato quem é o autor deste texto. Alguns lugares, creditam este texto à Chico Buarque. Seria mais uma demonstração de sensibilidade, clareza e coerência, entre toda sua obra. No entanto, há sites que dão o crédito para Fátima Irene Pinto. Seja quem for o autor (a), os meus particulares parabéns.

Boa leitura!

Solidão não é falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer amor.... isto é caréncia /Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar...isto é saudade /
Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe as vezes, para realinhar os pensamentos....
isto é equilibrio /Tampouco é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente, para que revejamos nossa vida.... Isto é um princípio da natureza. /Solidão não é o vazio de a gente ao nosso lado.... isto é circunstáncia / Solidão é muito mais do que isto.... Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Minha Terra

Este autor que trago hoje não tem o mesmo destaque que outros poetas, mas é conhecido. Não sei de uma prova de literatura em que não se fale de Casimiro de abreu: "Ai que saudades da aurora da minha vida" - (esta poesia chama-se "Meus Oito Anos" e foi postada no blog há 1 ou 2 meses) - Pois então, não diferente, sua obra carrega o peso da evolução humana. Do "deixar pra trás" épocas como a infância; Lamentos de melancolia. Eis mais uma obra do autor, cheio de rimas ricas e o constante sentimento de perda, que o tempo nos trás.

"Que terno sonho dourado
Das minhas horas fagueiras,
No recanto das palmeiras
Do meu querido Brasil!

A vida era um dia lindo
Num vergel cheio de flores,
Cheio de aroma e esplendores
Sob um céu primaveril.

A infância, um lago tranqüilo
Onde começa a existência,
Onde os cisnes da inocência
Bebem o néctar do amor.

A mocidade era um hino
De melodias suaves,
Formadas de trinos de aves
E de perfume de flor.

O dia, manhã ridente,
Numa canção de alvorada;
A noite toda estrelada
Após o doce arrebol;

E na paisagem querida,
Os ramos das laranjeiras
E das frondosas mangueiras
Douradas à luz do Sol!

Oh! que clarão dentro dalma,
Constantemente cismando,
O pensamento sonhando
E o coração a cantar,

Na delicada harmonia
Que nascia da beleza,
Do verde da Natureza,
Do verde do lindo mar!

Oh! que poema a existência
De infância e de mocidade,
De ternura e de saudade,
De tristeza e de prazer;

Igual a um canto sublime,
Como uma estrofe inspirada
Na noite e na madrugada,
Na tarde e no amanhecer.

De tudo me lembro e quanto!
A transparência dos lagos,
As carícias, os afagos
E os beijos de minha mãe!

Dos trinos dos pintassilgos,
Da melodia das fontes,
As nuvens nos horizontes
Perdidos no azul do além.

Quando eu cruzava as Campinas,
Sem sombras de sofrimento,
Descalço, com o peito ao vento,
Num tempo doce e feliz!

Os pessegueiros floridos,
As frondes cheias de amora,
O manto de luz da aurora,
Os pios das juritis!

Se a morte aniquila o corpo,
Não aniquila a lembrança:
Jamais se extingue a esperança,
Nunca se extingue o sonhar!

E à minha terra querida,
Recortada de palmeiras,
Espero em horas fagueiras
Um dia poder voltar."

Casimiro de Abreu

quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

Sucesso

Embora seja um dos publicitários de maior sucesso no país, há quem não goste de Nizan Guanaes; Não vá com cara. Julgue-o arrongante ou coisa assim. Enfim, há, também, quem compreenda que Nizan é, apenas, um baiano de sucesso (baiano mesmo, de nascença) que encara e corresponde as expectativas, com a segurança de alguém que sabe o que faz.

O texto abaixo é assinado por ele. Não é muito convidativo para quem prefira textos curtos, mas é um prato cheio para quem procura conteúdo!

"Dizem que conselho só se dá a quem pede.

Portanto, apesar da minha pouca autoridade para dar conselhos a quem quer que seja, aqui vão alguns, que julgo valiosos.

Não paute sua vida, nem sua carreira, pelo dinheiro. Ame seu ofício com todo o coração. Persiga fazer o melhor. Seja fascinado pelo realizar, que o dinheiro virá como conseqüência.Quem pensa só em dinheiro não consegue sequer ser nem um grande bandido, nem um grande canalha.Napoleão não invadiu a Europa por dinheiro. Hitler não matou 6 milhões de judeus por dinheiro. Michelangelo não passou 16 anos pintando a Capela Sistina por dinheiro. E, geralmente, os que só pensam nele não o ganham. Porque são incapazes de sonhar.

E tudo que fica pronto na vida foi construído antes, na alma.

A propósito disso, lembro-me de uma passagem extraordinária, que descreve o diálogo entre uma freira mericana cuidando de leprosos no Pacífico e um milionário texano. O milionário, vendo-a tratar daqueles leprosos, disse:
"Freira, eu não faria isso por dinheiro nenhum no mundo". E ela responde: "Eu também não, meu filho".

Não estou fazendo com isso nenhuma apologia à pobreza, muito pelo contrário. Digo apenas que pensar e realizar, tem trazido mais fortunado que pensar em fortuna.

Meu segundo conselho:Pense no seu País. Porque, principalmente hoje, pensar em todos é a melhor maneira de pensar em si. Afinal é difícil viver numa nação onde a maioria luta para não morrer de fome e a minoria morre de medo. O caos político gera uma queda de padrão de vida generalizada. Os pobres vivem como bichos e uma elite brega, sem cultura e sem refinamento, não chega a viver como Homem. Roubam, mas vivem uma vida digna de Odorico Paraguassu.

Meu terceiro conselho vem diretamente da Bíblia: "seja quente ou seja frio, não seja morno que eu te vomito";
É exatamente isso que está escrito na carta de Laudiceia: seja quente ou seja frio, não seja morno que eu te vomito: É preferível o erro à omissão.O fracasso, ao tédio.O escândalo, ao vazio. Porque já vi grandes livros e filmes sobre a tristeza, a tragédia,o fracasso. Mas ninguém narra o ócio, a acomodação, o não fazer, o remanso.

Colabore com seu biógrafo. Faça, erre, tente, falhe, lute. Mas, por favor, não jogue fora, se acomodando, a extraordinária oportunidade de ter vivido.

Tendo consciência de que, cada homem foi feito para fazer história. Que todo homem é um milagre e traz em si uma evolução. Que é mais do que sexo ou dinheiro. Você foi criado para construir pirâmides e versos, descobrir continentes e mundos, e, caminhar sempre com um saco de interrogações na mão e uma caixa de possibilidades na outra.

Não use Rider, não dê férias a seus pés. Não se sente e passe a ser analista da vida alheia, espectador do mundo, comentarista do cotidiano, dessas pessoas que vivem a dizer: eu não disse!, eu sabia!
Toda família tem um tio batalhador e bem de vida. E, durante o almoço de domingo, tem que agüentar aquele outro tio muito inteligente e fracassado contar tudo que ele faria, se fizesse alguma coisa.
Chega dos poetas não publicados. Empresários de mesa de bar. Pessoas que fazem coisas fantásticas toda sexta de noite, todo sábado e domingo, mas que na segunda não sabem concretizar o que falam.
Porque não sabem ansiar, não sabem perder a pose, porque não sabem recomeçar. Porque não sabem trabalhar. Trabalho não mata. Ocupa o tempo. Evita o ócio, que é a morada do demônio, e constrói prodígios.

O Brasil, este país de malandros e espertos, da vantagem em tudo, tem muito que aprender com aqueles trouxas dos japoneses. Porque aqueles trouxas japoneses que trabalham de sol a sol construíram, em menos de 50 anos, a 2ª maior megapotência do planeta, enquanto nós, os espertos, construímos uma das maiores impotências do trabalho.
Trabalhe! Muitos de seus colegas dirão que você está perdendo sua vida, porque você vai trabalhar enquanto eles veraneiam. Porque você vai trabalhar, enquanto eles vão ao mesmo bar da semana anterior, conversar as mesmas conversas, mas o tempo, que é mesmo o senhor da razão, vai bendizer o fruto do seu esforço, e só o trabalho lhe leva a conhecer pessoas e mundos que os acomodados não conhecerão.

E isso se chama sucesso."

Nizan Guanaes

domingo, 7 de janeiro de 2007

Resíduo

Minha vontade já foi de ter postado esta poesia logo nos primeiros meses. Sempre gostei; É um exagero de palavras bem empregadas em emoção. Mas esperei... Talvez soubesse que haveria dias em que esta poesia soasse-me ainda mais bonita, completa. Fico muito contente de ter esta poesia, e ainda não tê-la usado, para publicar minha primeira postagem de 2007. Boa leitura!


"De tudo ficou um pouco
Do meu medo. Do teu asco.
Dos gritos gagos. Da rosa
ficou um pouco.
Ficou um pouco de luz
captada no chapéu.
Nos olhos do rufião
de ternura ficou um pouco
(muito pouco).
Pouco ficou deste pó
de que teu branco sapato
se cobriu. Ficaram poucas
roupas, poucos véus rotos
pouco, pouco, muito pouco.
Mas de tudo fica um pouco.
Da ponte bombardeada,
de duas folhas de grama,
do maço
― vazio ― de cigarros, ficou um pouco.
Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.
De teu áspero silêncio
um pouco ficou, um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.
Ficou um pouco de tudo
no pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,
retrato.
Se de tudo fica um pouco,
mas por que não ficaria
um pouco de mim? no trem
que leva ao norte, no barco,
nos anúncios de jornal,
um pouco de mim em Londres,
um pouco de mim algures?
na consoante?
no poço?
Um pouco fica oscilando
na embocadura dos rios
e os peixes não o evitam,
um pouco: não está nos livros.
De tudo fica um pouco.
Não muito: de uma torneira
pinga esta gota absurda,
meio sal e meio álcool,
salta esta perna de rã,
este vidro de relógio
partido em mil esperanças,
este pescoço de cisne,
este segredo infantil...
De tudo ficou um pouco:
de mim; de ti; de Abelardo.
Cabelo na minha manga,
de tudo ficou um pouco;
vento nas orelhas minhas,
simplório arroto, gemido
de víscera inconformada,
e minúsculos artefatos:
campânula, alvéolo, cápsula
de revólver... de aspirina.
De tudo ficou um pouco.
E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.
Mas de tudo, terrível, fica um pouco,
e sob as ondas ritmadas
e sob as nuvens
e os ventose sob as pontes
e sob os túneise sob as labaredas
e sob o sarcasmoe sob a gosma
e sob o vômito
e sob o soluço, o cárcere, o esquecido
e sob os espetáculos
e sob a morte escarlate
e sob as bibliotecas, os asilos, as igrejas triunfantes
e sob tu mesmo e sob teus pés já duros
e sob os gonzos da família e da classe,
fica sempre um pouco de tudo.
Às vezes um botão. Às vezes um rato."
Carlos Drummond de Andrade