quinta-feira, 21 de agosto de 2008

O Quereres

Ontem, lá pelas 20h, pus me a buscar vídeos de Chico Buarque. Estava no quarto, criando coragem para os exercícios que me faltavam. Entre os que vi, chamou-me atenção este abaixo. Trata-se de uma música de Caetano que, inclusive, aparece no link que encaminho abaixo em uma apresentação junto com Chico. Há algumas coisas que me chamaram atenção especial de modo a trazer esta mensagem para cá: 1) O Chico erra na apresentação e humildemente, como só ele sabe fazer, retoma e o espetáculo ao invés de quebrar, enriquece!; 2) Conheço a música, mas ainda não a havia sentido. Não tinha-a como preferida, nem na lista das músicas que escuto em avião, no entanto desta vez admirei-a. E mais, reconheci-me... Recomendo o vídeo, todavia julgo fundamental ter a letra na cabeça.


LINK COM A INTERPRETAÇÃO DE CHICO E CAETANO
...

Onde queres revólver, sou coqueiro;
Onde queres dinheiro, sou paixão!

Onde queres descanso, sou desejo;
E onde sou só desejo, queres não!

E onde não queres nada, nada falta;
E onde voas bem alto, eu sou o chão;

E onde pisas no chão,
Minha alma salta: e ganha liberdade na amplidão...

Onde queres família, sou maluco;
E onde queres romântico, burguês!

Onde queres leblon, sou pernambuco;
E onde queres eunuco, garanhão!

E onde queres o sim e o não, talvez;
Onde vês, eu não vislumbro razão!

Onde queres o lobo, eu sou o irmão;
E onde queres cowboy, eu sou chinês!

Ah, bruta flor do querer...
Ah, bruta flor, bruta flor!

Onde queres o ato, eu sou o espírito;
E onde queres ternura, eu sou tesão!

Onde queres o livre, decassílabo;
E onde buscas o anjo, eu sou mulher!

Onde queres prazer, sou o que dói;
E onde queres tortura, mansidão!

Onde queres o lar, revolução;
E onde queres bandido, eu sou o herói!

Eu queria querer-te amar o amor,
Construírmos dulcíssima prisão;

E encontrar a mais justa adequação:
Tudo métrica e rima e nunca dor!

Mas a vida é real e é de viés,
E vê só que cilada o amor me armou:

Eu te quero e não me queres como sou;
Não te quero e não me queres como és...

Ah, bruta flor do querer...
Ah, bruta flor, bruta flor!

Onde queres comício, flipper vídeo;
E onde queres romance, rock'n roll!

Onde queres a lua, eu sou o sol;
Onde a pura-natura, o inseticídeo!

E onde queres mistério, eu sou a luz;
Onde queres um canto, o mundo inteiro!

Onde queres quaresma, fevereiro;
E onde queres coqueiro, eu sou obus!

O quereres e o estares sempre a fim,
Do que em mim é em ti tão desigual...

Faz-me querer-te bem;
Querer-te mal:

Bem a ti, mal ao quereres assim:

Infinitivamente impessoal;
E eu querendo querer-te sem ter fim!

E querendo-te,
Aprender o total...

Do querer que há;
E do que não há em mim!

Caetano Veloso

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Luzes

Cedido em uma pétala de flores comuns estaria
Reportou-se, em direção a minha e parecia
Imaculada, aquela que supunha ser consorte, quem um dia faria.
Sedente de alegria, em seu busto escrito em poesia
Torna-te esta maravilha que se põe discreta – Ah, pretendia...
Inventar-me-ei para ti e recobrir-te-ei de palavras poucas e companhia
Afear as histórias que são outras e, por fim, reunir-me com o que tanto queria
Naturalmente. Que tinha ela de se comportar? Todavia, não sei ao certo se fazia
E pus-me, então – delinqüente – desejar-te seguro ao que se sucedia.

...
Realizou-me de revolta espontânea e fez-se o bastante, com que não sabia
Entregou-se mulher a valer! Daquela que uma só poderia
Gentilmente, desviou-me – astuta – onde estava e não por onde estaria
Incompleto de mim, surgi-me em tortura; Oh, Pai que desconheço, faça-a sadia
Nau de imensa gratidão; navega em minh’alma e por onde mais gostaria
Aquela que mostrou-se sozinha, a minha, o fim da rebeldia.

...
És decisão perdida, de vantagem aclamada e assim brilharia
Somente minha. Isto tudo que a patente tua enuncia

...
Mulher de formas sem tipo igual - Exclusiva de mim conservar-se-ia
Indígna de dor; Rutilante alma de amor um só, diante dos desejo abnegaria
N´outro regaço deslumbra-te as lágrimas que suplicam-nos; todavia,
Hei de defrontar com a justa medida, merecida por ti e escreveria
A nossa evidente história de amor.
Luiz Felipe Angulo Filho

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Deste Amor

...
Ao que me reservo os encargos de minha alma?
Insinuo censuras ao sentimento que trago -
Não ao que faço, absolutamente,
ao que falo todavia.-
Jaz na nascente o cepticismo parvo de mim,
Na medida em que prospera meu novo amor...
De qual amor aludo-me, porém?
Deste que busco sinônimo e desvio-me da forma,
Deste próprio que suporto a autoria;
Deste invicto instante sem fim,
Desta enormidade que me constitui,
Deste argumento inviolável de minha conduta,
Deste que me traz saudades incorrigíveis,
Deste que envidas meus sentimentos outros,
Deste qual não posso não ter.
Deste que tem cheiro de ti.
Deste que tenho.

...

Luiz Felipe Angulo Filho